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“A floresta não pode ser só dinheiro”: Francisco Piyãko defende outro caminho para a sustentabilidade

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Durante sua participação no TEDxAmazônia, em novembro de 2024, em Manaus, o líder indígena Francisco Piyãko compartilhou uma visão de mundo construída a partir da vivência do povo Ashaninka e lançou um chamado à sociedade: é preciso repensar a forma como o mundo enxerga a Amazônia.

“Aprendi com meus pais, com meus avós… sobre um mundo que é muito pouco conhecido”, disse Francisco, ao iniciar sua fala. Ele descreveu o modo de vida tradicional antes do contato com o mundo não-indígena. Um tempo em que “não tinha fome”, “não tinha doença”, e as pessoas viviam com liberdade para circular, ensinar os filhos e manter viva a sabedoria dos mais velhos.

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A relação com o tempo e com a floresta era guiada pelos ciclos da natureza, não por relógios ou calendários. “Nosso tempo era orientado pela lua, pelas árvores, pelo tempo da flor, pelo tempo das frutas”, explicou. As casas eram construídas para durar poucos anos — não por fragilidade, mas como forma de ensinar as novas gerações. “Tudo na nossa vida era feito assim… O que a gente queria que durasse muito tempo era a nossa sabedoria.”

Francisco lembrou que esse modo de vida foi profundamente afetado com o avanço da colonização e da exploração econômica. “Vieram novas regras, outros ritmos, outros valores. Isso começou a mexer com a nossa estrutura social.” Para ele, os povos indígenas foram empurrados para dentro de um sistema que os transformou em mão de obra. “Ficamos, por muito tempo, sendo escravos de um sistema que nunca trouxe nada pra nós, a não ser destruir o que a gente tinha.”

A conquista do território Ashaninka, segundo ele, foi o início de um processo de reconstrução cultural. “A gente conseguiu reiniciar um processo de volta pras nossas bases”, disse. E esse movimento é compartilhado por muitos outros povos originários que passaram a restaurar práticas e valores que haviam sido silenciados.

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Hoje, diante das novas propostas de sustentabilidade e dos mercados de carbono, Francisco alerta para o risco de repetir erros do passado. “A Amazônia não vai poder resolver os problemas do mundo se ela for transformada em dinheiro”, afirmou. Para ele, transformar a floresta em commodity é esvaziar seu verdadeiro valor. “Ela só vai se sustentar se for algo numa relação de troca. Porque nós estamos chegando a um ponto de não retorno.”

Francisco critica a forma como decisões globais sobre a floresta são tomadas sem o envolvimento dos povos que nela vivem. “O mundo tá discutindo o que é nosso, o nosso território, o carbono da Amazônia… mas não discute com a gente.” Segundo ele, sustentabilidade só será possível se vier acompanhada de mudança de visão. “A maneira de sustentar a floresta tem que sair da visão econômica. Tem que se pensar a Amazônia como o equilíbrio do planeta.”

Ao encerrar, Francisco usou uma metáfora para falar da missão dos povos indígenas: “Nós somos como a samaúma. A gente lança a nossa sabedoria, espalha pro mundo, cultivando as nossas raízes, plantando esperança.”

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Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

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