A Embrapa Amazônia Oriental realizou, de 30 de setembro a 2 de outubro, no município de Santa Luzia do Pará, a Caravana da Sociobiodiversidade: farinha, peixe e resiliência climática, reunindo agricultores, extrativistas e comunidades quilombolas para debater segurança alimentar e mudanças climáticas. A atividade integrou ações do projeto Rede Quirera, parceria entre a Embrapa e a Rede Bragantina de Economia Solidária, e do projeto Ver-o-Peixe, que atua com piscicultura familiar sustentável.
Durante o evento, os participantes conheceram processos de produção de farinhas artesanais de cará, tucumã, araruta, pupunha e banana, além de novas formulações mistas que substituem o trigo em panificação. Segundo a pesquisadora Laura Abreu, da Embrapa, as farinhas possuem alto teor de fibras, proteínas e compostos antioxidantes. A agricultora Domingas Alves do Nascimento, do território quilombola Pimenteira, relatou que o aprendizado nas capacitações permitiu ampliar o uso do cará e garantir alimento durante todo o ano. “Antes a gente só consumia o cará como mingau e na época da safra. Hoje já sabe como preparar a farinha e ensinar para os filhos”, afirmou.
A caravana promoveu três encontros com comunidades dos territórios Jacarequara, Pimenteira, Alto Bonito e Narcisa. O grupo discutiu como o aumento das temperaturas e a irregularidade das chuvas têm afetado cultivos locais e a pesca. A pesquisadora Dalva Mota destacou que o evento reuniu diferentes gerações em torno do debate sobre produção de alimentos e resiliência. “São encontros onde se alia o debate de alimentos importantes como a farinha e o peixe à segurança alimentar e ao impacto das mudanças climáticas, e como as comunidades estão vivendo e interpretando o que está acontecendo”, explicou.
Os participantes também refletiram sobre os hábitos alimentares e o impacto da substituição de produtos locais por industrializados. Nazaré Reis, da Rede Bragantina de Economia Solidária, observou que o acesso a novos produtos tem modificado o consumo tradicional. “De repente, a gente passa a ter acesso a outras coisas, somos seduzidos a substituir o café da manhã, o cará e o peixe pelo enlatado. Que transição é essa?”, questionou.
Um dos momentos finais da caravana foi a degustação de produtos preparados com as farinhas artesanais, como bolos e biscoitos produzidos pela Associação da Mulher Luziense Olímpia da Luz (Amol). A presidente da entidade, Josefa dos Reis Santos, destacou que a transformação dos alimentos amplia oportunidades econômicas. “É uma renovação no uso desses alimentos que serve tanto para a nossa alimentação como para vender, para ter uma renda”, disse.
Para a Embrapa, o trabalho com sociobiodiversidade fortalece o vínculo entre conhecimento científico e saber tradicional, incentivando práticas produtivas sustentáveis. “Defendemos a sociobiodiversidade porque estamos incentivando a produção e o extrativismo ao entregarmos farinhas e alimentos que trazem todos os componentes nutricionais das frutas e dos tubérculos”, afirmou a pesquisadora Dalva Mota.