Notícias

Fiocruz e parceiros internacionais desenvolvem ciência aberta em áreas de fronteira da Amazônia

Published

on

Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e de instituições científicas do Brasil, da América do Sul, da Europa e da África avançaram, em novembro, no desenvolvimento de ações de ciência aberta em regiões de fronteira da Amazônia, com foco na criação de sistemas de informação voltados ao enfrentamento dos impactos das mudanças climáticas e ambientais na saúde das populações locais. As atividades fazem parte do projeto internacional Mosaic, que atua em territórios de fronteira para integrar dados científicos e conhecimentos comunitários, com o objetivo de apoiar estratégias locais de prevenção, adaptação e promoção do bem-viver.

As ações ocorreram entre os dias 17 e 21 de novembro no município de Oiapoque, no Amapá, na fronteira entre Brasil e Guiana Francesa, e de 24 a 28 de novembro em Leticia, na Colômbia, na tríplice fronteira com Brasil e Peru. Nessas regiões, equipes multidisciplinares realizaram encontros, visitas de campo e atividades participativas com lideranças indígenas, gestores públicos, profissionais das áreas de saúde, meio ambiente e educação, além de representantes de organizações não governamentais e instituições acadêmicas.

O projeto Mosaic tem como objetivo desenvolver ferramentas de informação que possam ser utilizadas por comunidades e instituições em territórios fronteiriços, onde os problemas ambientais e de saúde ultrapassam limites administrativos e nacionais. Segundo os pesquisadores envolvidos, a proposta parte da escuta das populações locais para compreender as principais preocupações relacionadas às mudanças climáticas, aos eventos extremos e às transformações ambientais que afetam diretamente as condições de vida e saúde nessas regiões.

Durante as atividades no Oiapoque, os pesquisadores visitaram associações indígenas, bairros formados a partir de ocupações recentes em áreas antes cobertas por mata e uma entidade que atua na cooperação em saúde na fronteira. Em Leticia, a equipe esteve em comunidades indígenas e em um parque nacional natural, com os quais o projeto prevê colaboração em iniciativas estratégicas voltadas à conservação ambiental e ao fortalecimento de um novo modelo de sistema de saúde indígena na Colômbia.

Para Paulo Peiter, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e da Plataforma Internacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PICTIS/Fiocruz), as atividades tiveram como foco compreender as demandas locais para orientar a construção de plataformas de dados acessíveis. “Estas atividades tiveram objetivo de escuta, para entender quais são as preocupações das pessoas e as dificuldades em lidar com as mudanças climáticas, incluindo eventos extremos. Isso é necessário para criar plataformas de dados importantes para as comunidades, para que elas possam agir localmente para prevenir e se adaptar a essas mudanças”, afirmou.

O coordenador geral do projeto, Emmanuel Roux, pesquisador do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), da França, destacou que a ciência aberta, no contexto do Mosaic, envolve a coprodução de conhecimento entre pesquisadores e comunidades. “Ciência aberta não é só acesso aos dados científicos, mas também coprodução de conhecimento. As comunidades localmente conhecem o ambiente, mas estes conhecimentos não estão necessariamente integrados aos conhecimentos científicos. O projeto Mosaic tem como ambição integrar estes conhecimentos e realmente compartilhar dados entre todos os atores interessados”, disse.

A integração de dados em regiões de fronteira foi apontada como um dos principais desafios enfrentados pelo projeto, uma vez que políticas públicas, sistemas de saúde e iniciativas de pesquisa costumam operar de forma fragmentada entre países, enquanto problemas como degradação ambiental, circulação de vetores, parasitas e impactos climáticos atravessam fronteiras. Para a pesquisadora Martha Mutis, do IOC/Fiocruz e da PICTIS/Fiocruz, o Mosaic busca construir sistemas de informação que possam ser utilizados diretamente pelas populações locais. “Normalmente, os trabalhos de pesquisa, as ações de saúde e as políticas públicas de dados não atravessam as fronteiras, mas os problemas ambientais fazem isso. O projeto tem essa incumbência de construir sistemas de informação que atravessem as fronteiras e possam ser usados pelas populações locais”, afirmou.

Mais de 20 pesquisadores participaram das atividades, representando instituições como o Instituto Oswaldo Cruz, a Fiocruz Amazônia, a Universidade de Brasília, a Universidade Nacional da Colômbia, o Centro Hospitalar Universitário da Guiana Francesa, universidades francesas e o Centro de Conservação Africano, do Quênia. O projeto reúne, ao todo, 15 instituições científicas de sete países.

Iniciado em 2024, o Mosaic tem duração prevista até 2027 e atua em duas áreas de fronteira da Amazônia, além da fronteira entre Quênia e Tanzânia, no leste da África. Coordenado pelo IRD, o projeto é financiado pela União Europeia e conta com apoio de outras iniciativas de cooperação internacional. A expectativa dos pesquisadores é que os sistemas de informação desenvolvidos contribuam para políticas públicas mais integradas, ações locais de adaptação às mudanças climáticas e fortalecimento da cooperação entre comunidades, instituições científicas e gestores públicos em territórios de fronteira.

Fonte: Fiocruz

Tendência

Sair da versão mobile