No dia em que Chico Mendes completaria 81 anos, em 15 de dezembro, o debate sobre a memória e o legado do líder seringueiro voltou à cena política em Xapuri, no Acre, após uma manifestação publicada nas redes sociais de Rian Barros, secretário municipal de Juventude do PT no município. A postagem foi feita na data do aniversário de Chico como forma de resgatar o significado histórico de sua trajetória e dialogar com declarações recentes do prefeito de Xapuri, Maxuel Maia, que defendeu a ideia de “despolitizar” a imagem do líder seringueiro em entrevista concedida na última semana.
A controvérsia teve início com a publicação de uma entrevista do prefeito, no dia 11 de dezembro, na qual ele afirmou que Chico Mendes deveria ser compreendido como um patrimônio do município, desvinculado de uma leitura política ou ideológica específica. Segundo o gestor, a associação de Chico Mendes a determinados campos políticos teria provocado disputas locais ao longo dos anos, e a despolitização permitiria ampliar o reconhecimento de sua imagem e fortalecer a projeção de Xapuri em eventos e espaços nacionais e internacionais.
Em resposta, Rian Barros utilizou suas redes sociais para afirmar que a trajetória de Chico Mendes não pode ser separada da luta política e sindical que marcou sua atuação. Filho de Raimundão Barros, companheiro histórico de Chico Mendes e liderança do movimento seringueiro acreano, Rian declarou que apresentar Chico como uma figura neutra desconsidera os elementos centrais de sua história. “Falar em despolitizar Chico Mendes é negar quem ele foi. Chico organizou trabalhadores, formou sindicatos, denunciou injustiças e defendeu políticas públicas para quem sempre viveu à margem do Estado”, escreveu.
Na publicação, Rian destacou que Chico Mendes enfrentou o latifúndio, a grilagem de terras e o abandono das populações da floresta, articulando trabalhadores em defesa do extrativismo, da reforma agrária, do acesso à saúde e à educação e da permanência das comunidades tradicionais em seus territórios. Ele afirmou ainda que o assassinato de Chico, em 1988, foi consequência direta dessa atuação política. “Transformá-lo em figura apolítica é repetir a tentativa de silenciamento que tirou sua vida”, registrou.
A manifestação também apontou que o reconhecimento internacional de Chico Mendes está ligado à dimensão política de sua luta, que articulou direitos sociais, organização dos trabalhadores e preservação ambiental. Para Rian Barros, reduzir esse legado compromete a compreensão histórica do movimento seringueiro e do papel desempenhado por Chico Mendes nos debates que ultrapassaram o Acre e o Brasil. Segundo ele, a defesa da floresta esteve sempre associada à defesa das pessoas que nela vivem.
A publicação feita nas redes sociais no dia do aniversário de Chico Mendes reforçou a permanência do tema no debate público local. O legado do líder seringueiro segue sendo referência em discussões sobre políticas públicas, desenvolvimento e conservação ambiental na Amazônia, e a forma como sua história é interpretada continua influenciando posicionamentos políticos e sociais em Xapuri e no Acre. Foto: Arquivo Pessoal