Liderança do povo Huni Kuin compartilha experiência de resistência urbana e criação do primeiro restaurante indígena do Acre durante o Seminário Txai Amazônia
Rio Branco (AC) – 25 de junho de 2025
A história de Mapu Huni Kuin emocionou o público no painel de abertura do Seminário Txai Amazônia. Nascido na Terra Indígena Kaxinawá do Rio Breu, em Marechal Thaumaturgo (AC), ele deixou a floresta com o sonho de estudar Direito e lutar pelos direitos do seu povo. Ao chegar nas cidades, encontrou o preconceito, a fome e o abandono. “Dormia em barco, muitas vezes não sabia o que comer. Mas aquilo tudo me ensinou a não desistir”, contou.
A experiência o levou a criar um espaço próprio, onde pudesse unir cultura, espiritualidade e produção sustentável. Em 2015, fundou o Centro Huwa Karu Yuxibu, no km 36 da Transacreana, zona rural de Rio Branco. O centro hoje abriga o primeiro restaurante tradicional Huni Kuin da capital acreana e atende 42 famílias indígenas em situação urbana.
“Em Rio Branco você encontra comida japonesa, peruana, de vários lugares. Mas a nossa, que é riquíssima, ninguém conhece. Estamos pisando em cima de uma riqueza e fingindo que ela não existe”, disse Mapu. O restaurante trabalha com alimentação tradicional e produtos cultivados no próprio centro.
Além da gastronomia, o espaço promove reflorestamento, práticas espirituais e acolhimento. Em 2024, foram plantadas 11 mil mudas entre medicinais, frutíferas e nativas. A meta para este ano é chegar a 20 mil. “Enquanto muitos falam de sustentabilidade, a gente está fazendo. Não é discurso, é prática.”
Preocupado com o abandono de jovens indígenas que saem das aldeias para estudar na cidade, Mapu anunciou que irá construir alojamentos estudantis dentro do centro. “A gente quer oferecer alimentação, um lugar pra morar e um espaço onde possam continuar vivendo sua cultura enquanto fazem universidade.”
Em 2023, Mapu deu um novo passo: comprou uma área de 2.450 hectares preservadas, onde pretende instalar um grande centro de terapias da floresta, com ioga, reiki, meditação, espiritualidade e medicina indígena. “É possível viver com equilíbrio entre tradição e cidade. É isso que estamos construindo. Um futuro coletivo, onde a gente cuida da floresta, das pessoas e de nós mesmos.”
O Seminário Txai Amazônia segue até o dia 28 de junho no espaço eAmazônia da Universidade Federal do Acre, reunindo lideranças, pesquisadores, representantes de governos e da sociedade civil para debater os rumos da bioeconomia e da sociobiodiversidade na Amazônia Legal.