Um antigo anseio geopolítico do Acre, o de se tornar uma porta de saída do Brasil para o Oceano Pacífico, foi solidificado como um projeto de Estado em andamento. Em uma apresentação detalhada em Brasília, a Ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, confirmou não apenas a função central do estado em um corredor rodoviário já em fase de otimização, mas também sua inclusão definitiva no traçado da Ferrovia Bioceânica, um projeto de longo prazo negociado diretamente com a China. A iniciativa faz parte do ambicioso plano de Rotas de Integração Sul-Americana, com investimentos previstos na ordem de 10 bilhões de dólares (cerca de R$ 50 bilhões).
A estratégia posiciona o Acre no coração de uma revolução logística, desenhada para reorientar parte significativa das exportações brasileiras para os mercados asiáticos, hoje dependentes dos distantes portos no Atlântico. O plano se desdobra em duas frentes: uma rodoviária, de aplicação imediata, e outra ferroviária, de caráter estruturante.
A primeira frente é a “Rota do Quadrante Rondon”, que já utiliza a infraestrutura existente para criar um corredor de exportação. A ministra descreveu o traçado com precisão, destacando o protagonismo acriano. “A terceira rota é a do Quadrante Rondon, Rondônia, Acre, e um pedacinho de Mato Grosso, mas especialmente Rondônia e Acre, chegando no Peru e na Bolívia,” afirmou Tebet. Neste arranjo, a BR-364 funciona como a espinha dorsal, trazendo a produção de grãos e proteínas do centro-oeste e de Rondônia, enquanto a BR-317, a Estrada do Pacífico, serve como o trecho final até a fronteira em Assis Brasil.
Segundo a ministra, a operacionalização deste corredor é iminente, com os principais obstáculos físicos já superados. O desafio remanescente, de natureza burocrática, foi apontado por ela como o próximo passo a ser vencido. “Já está pronto, faltando apenas resolver a questão da alfândega,” pontuou Tebet, sinalizando que a integração aduaneira é a prioridade para destravar o pleno potencial da rota.
Paralelamente, a ministra confirmou o que um mapa projetado durante sua fala deixou claro: o Acre está na rota da Ferrovia Bioceânica. O traçado exibido mostra a linha férrea margeando as rodovias federais no estado, uma visão que transforma o Acre de um ponto final da malha brasileira em um corredor de passagem transcontinental.
Revelando os bastidores da negociação de alto nível que viabilizou o projeto ferroviário, a ministra detalhou seu envolvimento direto na articulação com o governo chinês. “Nós assinamos um memorando de intenções com a China. Eu estive pessoalmente, fui à China duas vezes,” disse Tebet, enfatizando que o acordo para o complexo estudo de viabilidade técnica da ferrovia foi assegurado a custo zero para o Brasil.
A confirmação dos dois projetos – um rodoviário, pragmático e de curto prazo; outro ferroviário, visionário e de longo prazo – representa a mais concreta iniciativa em décadas para inserir o Acre na logística nacional e internacional.