A partir de 9 de dezembro de 2025, passou a funcionar um painel interativo que permite acompanhar os gastos do governo federal com mudança do clima, biodiversidade e gestão de riscos e desastres no período de 2010 a 2023, iniciativa coordenada pelo Ministério do Planejamento e Orçamento em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e o Ministério da Fazenda, com o objetivo de organizar, tornar públicos e permitir a avaliação dos investimentos federais nessas áreas.
Segundo os dados consolidados pela nova ferramenta, o Governo Central aplicou R$ 782 bilhões ao longo de 14 anos, sendo R$ 421 bilhões destinados à agenda climática, R$ 250 bilhões à proteção da biodiversidade e R$ 111 bilhões ao gerenciamento de riscos e desastres. De acordo com o Ministério do Planejamento e Orçamento, antes do painel não existia um sistema unificado que permitisse identificar essas despesas de forma padronizada, o que comprometia o planejamento e a avaliação das políticas públicas, como o Plano Clima e o Plano de Transformação Ecológica. O relatório também classifica os gastos conforme impactos positivos e negativos, permitindo verificar se as despesas estão alinhadas às metas climáticas.
A análise dos dados indica dois períodos distintos no perfil dos investimentos. Até 2015, os valores aplicados foram mais elevados, seguidos por retração nos anos posteriores. Segundo o Planejamento, a queda foi influenciada pelo aperto fiscal, pela criação do teto federal de gastos e pela interrupção do Programa de Aceleração do Crescimento entre 2020 e 2022, além da ampliação das emendas parlamentares, das quais menos de 5% foram direcionadas à área climática. Ao mesmo tempo, houve mudança no tipo de despesa, com os gastos em adaptação e gerenciamento de riscos passando de 24% do total em 2010 para quase 70% em 2023, o que indica concentração de recursos em respostas a eventos extremos já em curso.
No eixo da biodiversidade, o levantamento aponta que os gastos classificados como de impacto negativo superam os de impacto positivo, resultado de obras de infraestrutura que, embora reduzam emissões, causam perdas em ecossistemas, como no caso de usinas hidrelétricas. Segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, cada ação deve ser analisada sob as “lentes” da mitigação e da redução de emissões. Já na área de desastres, as despesas vêm em crescimento impulsionadas pela maior frequência de eventos extremos, com predominância de recursos voltados à redução de riscos, enquanto governança e análise de riscos seguem com menor volume de investimentos. O aumento dos gastos com seguros rurais, como o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária, também tem peso nas despesas públicas, ao proteger pequenos e médios produtores contra perdas causadas por seca, geada, granizo, pragas e doenças.
O desenvolvimento do painel levou cerca de dois anos e contou com a participação de órgãos técnicos e entidades da sociedade civil, como o Observatório do Clima e o WRI Brasil. A metodologia foi estruturada para ser replicada por estados, municípios e outros países, ampliando a possibilidade de monitoramento de gastos ambientais em diferentes escalas. O painel e o relatório completo estão disponíveis no site do Ministério do Planejamento e Orçamento, acompanhados de um tutorial de acesso à ferramenta.
Fonte e foto: Agência Brasil