Cientistas alertam sobre agravamento dos extremos climáticos no brasil devido ao el niño 2023-2024
El Niño 2023-2024 intensifica extremos climáticos no Brasil. Saiba mais sobre os alertas dos cientistas
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Na última quinta-feira, 16, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) sediou a mesa “Crise climática e desastres como consequência do El Niño 2023-2024: impactos observados e esperados no Brasil”, onde renomados cientistas alertaram para o agravamento dos extremos climáticos no país à medida que o El Niño avança para o pico de sua atividade em dezembro.
O El Niño, fenômeno resultante do enfraquecimento dos ventos alísios na parte equatorial do Oceano Pacífico, eleva as águas quentes subsuperficiais na costa sul-americana. O atual evento, classificado como forte, é agravado pelas mudanças climáticas, contribuindo para um cenário de El Niños mais intensos no futuro.
O Pacífico tropical, onde nasce o fenômeno, está mais quente 1,8 °C. É o suficiente para pôr o El Niño na categoria de intenso a muito intenso. “Este El Niño começou a se manifestar no Brasil com um calor maior generalizado e chuvas torrenciais no Sul. A seca na Amazônia era esperada no verão e começou no fim do inverno. Deve continuar a piorar e atingir com força o Nordeste no início de 2024, com falha na estação chuvosa, que normalmente começaria em março”, explica Regina Rodrigues, professora de oceanografia e clima da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenadora de desastres naturais da Rede Clima.
O Brasil, entre os países mais afetados pelo El Niño, enfrenta aumento de chuvas torrenciais no Sul e secas intensas no Norte e Nordeste. As inundações no Rio Grande do Sul em setembro e a seca histórica na Amazônia são exemplos das consequências já observadas. A situação torna-se mais crítica devido à importância do Brasil no controle climático global.
Carlos Nobre, climatologista participante do Painel Intergovernamental em Mudanças Climáticas (IPCC), destacou o risco iminente de ultrapassar um ponto de não-retorno na Amazônia. O país abriga a maior floresta tropical do mundo, capaz de armazenar bilhões de toneladas de carbono que vão direto para a atmosfera se a floresta for derrubada.“Se isso acontecer, mais de 250 bilhões de toneladas de gás carbônico vão parar na atmosfera, inviabilizando qualquer tipo de meta climática”, disse.
Carlos Nobre apresentou ainda dados que mostram que a própria floresta definha, com a combinação de seca e queimadas, e é previsto um aumento de 300% na mortalidade de árvores. A gravidade da situação também se mede no número de ondas de calor. Nobre mostrou um estudo publicado em 2021 na revista “Science”, que estimava que uma pessoa nascida em 1960 passaria por pelo menos sete ondas ao longo da vida. No Brasil de 2023, as ondas já somam oito este ano.
Com isso, é crucial que o país assuma com seriedade o compromisso assumido na COP 26 de zerar o desmatamento até 2028, voltando a ser uma liderança global em meio ambiente. O projeto Arco da Restauração, que deverá ser apresentado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na COP 28, busca combater o desmatamento e reflorestar áreas na Amazônia, revertendo sua condição de emissora de carbono.
Suzana Montenegro, diretora-presidente da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), ressaltou a necessidade de uma gestão adaptativa para garantir a segurança hídrica diante das mudanças climáticas. Estima-se que as alterações possam reduzir em até 20% a disponibilidade de água na América do Sul. “É preciso uma gestão adaptativa por parte do Estado, fortalecendo organismos de monitoramento e criando protocolos de ação para que o poder público possa agir de forma rápida e eficaz durante crises”, afirmou.
A mesa-redonda, promovida pela ABC, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Cemaden, em parceria com os Ministérios do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Ciência, Tecnologia e Inovação, e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas Fase 2 (INCT MC2), destaca a urgência de ações para enfrentar os desafios climáticos que se avizinham.
Em entrevista recente, a ministra do Meio Ambiente da Colômbia, Susana Muhamad, expressou sua posição contrária à exploração de petróleo na região amazônica. A ministra, que também preside a COP16, ressaltou a contradição entre explorar combustíveis fósseis em uma área de grande biodiversidade e o compromisso com a preservação ambiental. Ela defendeu que os países amazônicos avancem para uma transição energética que, embora gradual, permita uma redução na dependência de combustíveis fósseis.
A ministra destacou que a preservação da Amazônia é essencial para combater as mudanças climáticas e promover o desenvolvimento sustentável. De acordo com ela, a exploração de petróleo, embora possa trazer ganhos econômicos a curto prazo, compromete ecossistemas vitais e a saúde do planeta. A ministra criticou a ausência de um consenso na Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) sobre a redução da exploração de hidrocarbonetos. Segundo Muhamad, a Declaração de Belém, formulada em 2023 pelos países membros, apenas sugere um diálogo sobre a sustentabilidade de setores extrativistas, sem firmar compromissos práticos.
O presidente colombiano, Gustavo Petro, foi um dos líderes que mais defenderam a transição energética, propondo o fim da exploração de combustíveis fósseis na Amazônia. Em 2023, a Colômbia aderiu ao Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis, que visa reduzir o uso de energias poluentes. Em contraste, o governo brasileiro planeja investir na perfuração de novos poços de petróleo na Margem Equatorial, incluindo a bacia da Foz do Amazonas. O planejamento da Petrobras prevê um investimento de US$ 3,1 bilhões na exploração da região entre 2024 e 2028.
A ministra Muhamad criticou a falta de financiamento internacional para a transição energética e destacou a necessidade de um esforço conjunto entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Apesar dos compromissos estabelecidos na COP15, em Montreal, onde foi prometido o financiamento anual de 20 bilhões de dólares para países em desenvolvimento até 2025, apenas uma fração desses recursos foi efetivamente mobilizada até o momento.
Em um cenário de discussões globais intensas sobre a preservação da Amazônia, a ministra destacou a urgência de ações concretas para frear as mudanças climáticas e pediu um alinhamento dos padrões de produção e consumo aos ciclos naturais, reafirmando o lema da COP16: “Paz com a Natureza”.
Um estudo da organização WWF-Brasil revelou que quatro bacias hidrográficas na Amazônia apresentam níveis elevados de risco de contaminação por mercúrio. Os locais afetados incluem os rios Tapajós, Xingu, Mucajaí e Uraricoera, áreas que abrangem territórios indígenas e estão expostos ao garimpo ilegal. A análise, que utilizou um modelo de probabilidade desenvolvido pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, indica que mais da metade das sub-bacias examinadas possui índices de contaminação acima dos considerados seguros para a saúde pública e ambiental.
De acordo com o estudo, as concentrações de mercúrio aumentam ao longo dos cursos dos rios, sendo mais baixas nas cabeceiras. O mercúrio se acumula na cadeia alimentar, especialmente em peixes, que são uma das principais fontes de alimento para as populações locais, incluindo indígenas.
Vitor Domingues, analista ambiental e participante da pesquisa, afirmou que a ausência de dados amostrais suficientes foi um dos desafios enfrentados, levando à necessidade de projeções com base em dados existentes. Segundo Domingues, as condições de contaminação indicam que a maioria das sub-bacias estudadas não atende aos padrões da legislação ambiental brasileira.
A pesquisa recomenda o fortalecimento de sistemas de monitoramento e a criação de um banco de informações que possa subsidiar ações governamentais para mitigar os impactos da contaminação e proteger a saúde das populações dependentes desses recursos hídricos.
Fonte: Agência Brasil Foto: Sérgio Vale / Vale Comunicação
A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) anunciou que a bandeira tarifária para o mês de novembro de 2024 será amarela, uma melhora em relação ao mês anterior, que estava na bandeira vermelha, patamar 2. Esse ajuste foi possível graças ao aumento das chuvas, que impactou positivamente os reservatórios e reduziu o custo de geração de energia. Com a bandeira amarela, a cobrança adicional passa de R$ 7,877 para R$ 1,885 a cada 100 kWh consumidos.
Embora as condições tenham melhorado, as previsões de chuvas para os próximos meses indicam que as regiões dos reservatórios podem continuar abaixo da média, o que pode demandar o acionamento de termelétricas para complementar a oferta de energia.
Segundo Sandoval Feitosa, diretor-geral da ANEEL, o sistema de bandeiras, ativo desde 2015, é uma forma de conscientizar os consumidores sobre o custo real da geração de energia e incentivar o uso consciente. Mesmo com a bandeira amarela em vigor, o consumo responsável segue essencial para ajudar a manter os custos controlados e contribuir para a sustentabilidade do setor.