O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decretou nesta sexta-feira, 26 de dezembro de 2025, a prisão preventiva do ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques, após ele ser detido no Aeroporto Internacional Silvio Pettirossi, em Assunção, no Paraguai, quando tentava deixar o país. A decisão foi tomada diante do rompimento da tornozeleira eletrônica e da tentativa de embarque para El Salvador, fatos considerados pelo STF como risco concreto de evasão e descumprimento de medidas judiciais.
Segundo informações das autoridades paraguaias e da Polícia Federal brasileira, Vasques foi abordado no aeroporto após alerta emitido pela PF a países vizinhos, depois da identificação da violação da tornozeleira eletrônica em território brasileiro. No momento da detenção, ele portava um passaporte paraguaio cujos dados não correspondiam à sua identidade, o que levou à sua retenção imediata e comunicação às autoridades brasileiras.
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A prisão ocorre dez dias após o STF concluir o julgamento que condenou Silvinei Vasques a 24 anos e seis meses de prisão por crimes relacionados à tentativa de golpe de Estado e à abolição violenta do Estado Democrático de Direito, no âmbito das investigações sobre a atuação de agentes públicos na trama golpista associada aos atos de 8 de janeiro. A Corte entendeu que houve uso da estrutura da PRF para interferir no processo eleitoral de 2022, o que fundamentou a condenação.
Antes da tentativa de fuga, Vasques ocupava o cargo de secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Inovação de São José, em Santa Catarina, função da qual pediu exoneração dias antes da condenação. Ele já havia sido preso preventivamente em 2023, também por decisão de Alexandre de Moraes, no curso das investigações sobre interferência eleitoral, tendo posteriormente obtido liberdade mediante medidas cautelares, entre elas o uso de tornozeleira eletrônica.
Em despacho recente, Moraes apontou que o rompimento da tornozeleira e a saída do país sem autorização configuram tentativa de frustrar a aplicação da lei penal, justificando a prisão preventiva. O ministro tem citado, em decisões semelhantes, a existência de um padrão de evasão por parte de investigados e condenados ligados ao bolsonarismo, o que, segundo ele, reforça a necessidade de medidas mais rígidas para assegurar o cumprimento das ordens judiciais.
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Após a detenção, Silvinei Vasques permaneceu à disposição do Ministério Público do Paraguai e deve passar por audiência de custódia antes de ser entregue às autoridades brasileiras, que darão seguimento aos trâmites para o seu retorno ao país. A expectativa é que ele seja encaminhado ao sistema prisional para o cumprimento da pena imposta pelo STF, enquanto seguem em curso outros desdobramentos judiciais relacionados à condenação e aos processos conexos.
As fugas
No avanço das investigações e julgamentos relacionados à tentativa de golpe de Estado, a fuga passou a integrar o contexto de atuação de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro diante de decisões judiciais do Supremo Tribunal Federal. A prisão de Silvinei Vasques se soma a uma sequência recente de episódios envolvendo parlamentares e ex-integrantes do entorno bolsonarista que deixaram o país ou tentaram fazê-lo após condenações ou imposição de medidas cautelares .
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Entre os casos citados em decisões e investigações está o do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que deixou o Brasil rumo aos Estados Unidos mesmo estando proibido judicialmente de sair do país, após ser condenado por tentativa de golpe de Estado. Diante da evasão, o ministro Alexandre de Moraes determinou sua prisão preventiva, apontando risco concreto de descumprimento das decisões do STF. Ramagem permanece fora do país, e sua situação passou a ser utilizada como referência em despachos que tratam do risco de fuga de outros investigados.
Outro episódio envolve a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que deixou o Brasil após ser condenada a dez anos de prisão pelos crimes de falsidade ideológica e invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça. Posteriormente, ela foi presa na Itália depois de ter o nome incluído na lista vermelha da Interpol e aguarda decisão sobre extradição. O caso reforçou, segundo investigadores, a avaliação de que a saída do país passou a ser uma estratégia para retardar ou evitar o cumprimento de penas impostas pela Justiça brasileira.
No núcleo familiar do ex-presidente, a permanência de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos também entrou no radar das apurações. Réu no STF por coação, ele é citado em registros processuais pela dificuldade de notificação formal enquanto está fora do Brasil. Em decisões recentes, Moraes mencionou a possibilidade de planejamento de fugas com apoio de terceiros e a utilização do exterior como destino recorrente para investigados ligados aos atos golpistas.
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Além das viagens internacionais, investigações apontam que condenados pelos atos de 8 de janeiro recorreram a rotas alternativas, incluindo saídas terrestres e fluviais para países vizinhos, principalmente a Argentina. Esses deslocamentos motivaram pedidos de extradição e fundamentaram o endurecimento de medidas cautelares, como prisões preventivas e monitoramento eletrônico, adotadas pelo STF para evitar novas evasões e garantir a aplicação da lei penal.