A Folha de S.Paulo informou nesta segunda-feira (7) que o governo brasileiro firmou um memorando de entendimento com a China para desenvolver estudos técnicos e institucionais sobre o corredor ferroviário bioceânico que conectará o porto de Chancay, no litoral do Peru, ao porto de Ilhéus, na Bahia. O acordo foi firmado entre a estatal brasileira Infra S.A., vinculada ao Ministério dos Transportes, e o China Railway Economic and Planning Research Institute.
O projeto prevê um traçado de aproximadamente 4.500 km de ferrovias, partindo do Peru, passando por Cusco e Pucallpa até alcançar o Acre, no Brasil. A partir da capital Rio Branco, a ferrovia deverá seguir em direção a Rondônia, margeando a BR-364, cruzar Mato Grosso, interligar-se à Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico), e conectar-se à Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), com destino final no litoral da Bahia.
Com isso, o estado do Acre assume um papel estratégico no eixo logístico do projeto, servindo como porta de entrada da ferrovia no território brasileiro. A inclusão do Acre como ponto de conexão entre os dois países insere o estado em um dos principais corredores de exportação do país, com potencial impacto na infraestrutura regional e nas cadeias produtivas locais.
O secretário nacional de transporte ferroviário, Leonardo Ribeiro, afirmou que o memorando é resultado de articulações técnicas e diplomáticas iniciadas em abril entre os dois países. “Do nosso lado, já avançamos bastante com a Fico e a Fiol. Essa parceria ajuda a avançar do lado peruano”, disse.
A ferrovia é vista como uma das principais apostas para a redução de custos logísticos entre o Brasil e a Ásia. Segundo o Ministério dos Transportes, o novo corredor poderá diminuir em até dez dias o tempo de transporte de cargas como minério de ferro e soja, que representam cerca de 60% das exportações brasileiras à China, estimadas em US$ 350 bilhões por ano.
Além da ferrovia, o projeto integra um movimento mais amplo de interesse chinês em concessões logísticas no Brasil. Em maio, uma delegação com 11 autoridades chinesas visitou as obras das ferrovias Fico e Fiol, além do porto de Santos. A China também é responsável pela construção do porto de Chancay, que deve entrar em operação em março de 2026, com investimentos de US$ 3,5 bilhões da estatal Cosco Shipping.
Paralelamente, o governo brasileiro atua na consolidação do corredor bioceânico rodoviário, que ligará o país ao Chile, passando por Paraguai e Argentina. A principal obra é a ponte entre Porto Murtinho (MS) e Carmelo Peralta, no Paraguai, em construção pela Itaipu Binacional, com previsão de conclusão para 2026. Esses projetos integram o programa Rotas de Integração Sul-Americana, iniciado em 2023, que prevê cinco eixos logísticos para conectar o Brasil aos países vizinhos.