O Supremo Tribunal Federal decidiu que a Terra Indígena Tanaru, em Rondônia, deve permanecer sob proteção até que seja concluído o processo de criação de um Parque Nacional no local. A medida foi homologada pelo ministro Edson Fachin, que avaliou o plano de trabalho elaborado pelo governo federal para resguardar o território onde viveu, durante 26 anos, o indígena conhecido como índio do buraco, último sobrevivente de seu povo exterminado durante a ditadura militar.
O plano foi construído pelo Ministério dos Povos Indígenas, Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Casa Civil. Ele integra os autos da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 991, protocolada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, que trata da proteção de territórios de povos indígenas isolados em todo o país.
De acordo com a decisão, o governo deve apresentar relatórios semestrais sobre o andamento das ações. Até a conclusão do processo, segue em vigor a portaria de restrição de uso, que impede o acesso de terceiros ao território. Fachin afirmou que a homologação representa “instrumento de reparação da histórica violência e vulnerabilização sofrida pelos povos originários do Brasil”.
A Terra Indígena Tanaru foi habitada pelo indígena que recusou contato com não indígenas até sua morte em agosto de 2022. Monitorado pela Funai desde a década de 1990, ele se manteve sozinho na floresta após o massacre de seu povo para a abertura de fazendas. Em agosto, o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi) apresentou ao STF um relatório com registros sobre o histórico de ocupação da região e os impactos do genocídio. “O trabalho da Frente de Proteção Etnoambiental foi fundamental para assegurar a vida de Tanaru e a continuidade da terra indígena, por isso consideramos necessário que a Funai continue atuando na região, mesmo após a criação do Parque Nacional”, disse Fabio Ribeiro, coordenador do Opi.
Pesquisas recentes do projeto Amazônia Revelada, coordenado pelos arqueólogos Eduardo Neves e Cristiana Barreto, identificaram cerca de 1.300 buracos no território, sugerindo a presença de uma população numerosa com longa história. O Opi defendeu que a preservação da área é também uma forma de reparação histórica, diante do extermínio do povo que ali vivia.
Fazendeiros chegaram a solicitar a extinção da terra indígena para transformação em pastagens e lavouras, mas a decisão do STF garante a continuidade da proteção até a efetiva criação do Parque Nacional Tanaru. Para Fachin, além da preservação ambiental, trata-se de assegurar a memória cultural e arqueológica de uma comunidade dizimada.