O desmatamento na Amazônia voltou a crescer em 2025, contrariando as metas ambientais do governo federal às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para novembro em Belém (PA). Dados oficiais revelam que o uso do fogo, muitas vezes de forma criminosa, tem sido um fator central na recente escalada da devastação florestal.
Segundo informações do Ministério do Meio Ambiente e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apenas em maio foram desmatados 960 km² de floresta, um aumento de 92% em relação ao mesmo mês de 2024. No primeiro semestre de 2025, os alertas de desmatamento somaram 2.090 km², 27% acima do registrado no mesmo período do ano anterior. Chama atenção o fato de que mais da metade dessa destruição ocorreu em áreas que já haviam sido atingidas por queimadas.
O secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, afirmou que o padrão observado é inédito e está ligado à maior fragilidade da cobertura florestal diante das mudanças climáticas. “A floresta tropical, naturalmente resistente ao fogo, está mais suscetível às chamas devido à seca e à degradação acumulada”, declarou em coletiva realizada em junho.
Um levantamento do projeto MapBiomas indica que, em 2024, a Amazônia foi o bioma mais afetado pelo fogo no Brasil, com 15,6 milhões de hectares queimados — 117% acima da média histórica. Pela primeira vez desde o início da série histórica, a vegetação florestal superou as pastagens como a classe de cobertura mais atingida. Foram 6,7 milhões de hectares de floresta destruídos pelo fogo, o que correspondeu a 43% da área queimada na região.
A diretora científica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar, apontou que as condições ambientais de 2024 — com vegetação seca e inflamável — facilitaram a atuação de grileiros e outros agentes que se utilizam do fogo como estratégia de conversão de floresta em áreas abertas. Para ela, a queimada tem sido usada como um método de desmatamento mais difícil de ser flagrado, dispensando o uso de maquinário pesado.
A análise é compartilhada por Márcio Astrini, do Observatório do Clima, que chamou atenção para uma mudança no ciclo de destruição: “As florestas estão sendo queimadas antes de serem desmatadas, o que acelera o processo de degradação e reduz a resiliência do bioma.”
A resposta do governo federal incluiu o lançamento de uma campanha nacional de prevenção a incêndios em parceria com estados e municípios, além da decretação de emergência ambiental em regiões vulneráveis. Em junho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou o repasse de R$ 825,7 milhões do Fundo Amazônia para ações de fiscalização, compra de equipamentos, monitoramento por inteligência artificial e capacitação de brigadistas.
O professor Magno Botelho Castelo Branco, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, ponderou que, apesar do esforço federal, a dimensão da Amazônia e os efeitos da crise climática exigem cooperação internacional. “As metas são ambiciosas e difíceis de cumprir sem apoio financeiro e tecnológico dos países mais ricos”, afirmou.
O governo brasileiro ainda defende o compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2030, mas os indicadores recentes colocam em dúvida a viabilidade dessa meta. O próximo balanço anual sobre desmatamento deverá ser divulgado pouco antes da COP30, o que pode influenciar o posicionamento internacional do Brasil no evento.
Fonte: Mongabay Brasil — Incêndios criminosos podem estar por trás de novo ‘boom’ de desmatamento na Amazônia, 21 de julho de 2025.
Link: https://brasil.mongabay.com/2025/07/incendios-criminosos-podem-estar-por-tras-de-novo-boom-de-desmatamento-na-amazonia