Em carta publicada na revista Nature nesta terça-feira, 14, os diretores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Paulo Moutinho e André Guimarães, defenderam a ampliação das áreas de florestas protegidas na Amazônia como medida essencial para garantir a preservação do bioma e dos serviços ambientais prestados pela floresta. Segundo os pesquisadores, a iniciativa representaria uma contribuição relevante do Brasil à COP30, prevista para ocorrer em Belém, e ao combate global à crise climática.
De acordo com Paulo Moutinho, as florestas públicas que deveriam estar destinadas à conservação permanecem vulneráveis à grilagem, ao garimpo ilegal e aos incêndios florestais. O IPAM calcula que cerca de 50 milhões de hectares de Florestas Públicas Não Destinadas (FPNDs) na Amazônia brasileira aguardam definição de uso, conforme previsto na Lei de Gestão de Florestas Públicas de 2006. A proposta do instituto é que essas áreas sejam integralmente destinadas à conservação ou ao uso sustentável, com prioridade para comunidades tradicionais, povos indígenas e extrativistas.
Estudos do IPAM indicam que as FPNDs concentram 36,5% da perda de vegetação nativa na Amazônia. Apenas no primeiro semestre de 2025, mais de 69 mil hectares foram desmatados nessas áreas, e outros 32,7 milhões de hectares seguem em risco de ocupação ilegal. A carta também sugere a proteção de outros 30 milhões de hectares de vegetação florestal, sendo 20 milhões pertencentes a pequenos proprietários e 10 milhões de excedentes de Reserva Legal em grandes propriedades rurais. Programas como o Conserv, que remunera produtores pela preservação de áreas naturais, são citados como instrumentos possíveis para viabilizar a iniciativa.
Moutinho destacou que a ampliação da proteção florestal é fundamental para a estabilidade climática e para a agricultura brasileira. “Considerando que mais de 90% da agricultura brasileira depende da chuva, proteger mais florestas, e os serviços que elas prestam na formação das chuvas, é fundamental para garantir a segurança alimentar global, ao mesmo tempo em que contribui para mitigar a crise climática mundial”, afirmou o pesquisador.
A destinação das florestas públicas deve integrar os debates da COP30, já que a conservação dessas áreas é considerada estratégica para o cumprimento das metas climáticas do Brasil e para a manutenção do equilíbrio ambiental continental. Segundo o IPAM, a destruição dessas áreas poderia liberar 19,1 bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, volume equivalente a mais da metade das emissões globais anuais.
Fonte: Ipam