No Dia da Amazônia, em minha comunidade Apiwtxa, celebramos com fartura. Nossos jovens e alunos organizaram uma confraternização que reuniu frutas, peixes, caiçuma, alimentos de roçado e preparos tradicionais. Essa mesa cheia não é apenas um gesto de partilha: é a demonstração de como a floresta garante segurança alimentar e equilíbrio para quem vive em harmonia com ela.
Quero afirmar com clareza: nós, povos indígenas, não estamos na floresta por falta de opção ou por necessidade. Estamos nela por escolha. Nascemos floresta, e por isso conseguimos enxergá-la em sua plenitude. Retirar as florestas, os rios, a biodiversidade, é retirar de nós a saúde, a cultura, a vida.
Dentro do capitalismo, essa lógica que tenta reduzir a Amazônia a poucos produtos de mercado, substituindo a diversidade por monoculturas, é um equívoco. Essa visão trata a floresta como mercadoria e transforma as pessoas em produtos do sistema econômico. Nós aprendemos outra lição: a natureza diversifica, ela oferece múltiplas opções para a vida. É na diversidade que está a verdadeira segurança.
Viver na floresta é ter a possibilidade de complementar o que ela já nos dá com o que plantamos em nossos roçados. É manter um equilíbrio que garante alimento, saúde e paz. Essa forma de vida não se mede pelo valor de mercado, mas pela relação de respeito que construímos com a natureza.
Enquanto alguns insistem em negar a força da floresta e de seus povos, nós mostramos, todos os dias, que outro caminho é possível. Não é no conflito, na invasão ou na imposição de um modelo único que encontraremos respostas. É no respeito às diferenças, no reconhecimento dos modos de vida e na educação que podemos construir equilíbrio.
A Amazônia é cada vez mais rara no mundo. Aqui ainda temos rios limpos, povos com culturas vivas e florestas de pé. Esse patrimônio não pode ser destruído em nome de interesses imediatos. Nossa escolha é viver em paz com a floresta, porque ela é a nossa vida.
Enquanto houver quem insista em não reconhecer esse valor, nós continuaremos afirmando: a convivência com a natureza é a base do nosso futuro.
Foto: Arison Jardim
Francisco Piyãko é liderança do povo Ashaninka, da comunidade Apiwtxa, de Marechal Thaumaturgo, e coordenador da Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (Opirj)