O afastamento pedido pelo governo é menos sobre uma conselheira e mais sobre a incapacidade de conviver com a transparência.
O governo do Acre se apequena. Com a tentativa de afastar a conselheira Naluh Gouveia da relatoria das contas estaduais é um ato que fala mais sobre o desgoverno do que sobre a própria conselheira. Revela-se, assim, uma postura autoritária, movida pelo medo do escrutínio rigoroso e pela dificuldade de conviver com a transparência que deveria ser obrigação de qualquer administração séria.
Ao tentar interferir em um processo técnico, o governo confunde poder com poder absoluto. O Tribunal de Contas existe justamente para garantir equilíbrio, fiscalização e responsabilidade na aplicação dos recursos públicos. Interferir na escolha da relatoria equivale a fragilizar uma das poucas instâncias de controle capazes de assegurar que a legalidade, a moralidade e a impessoalidade não sejam apenas palavras vazias na Constituição. É o desrespeito institucional transformado em prática cotidiana.
Quando o nome de Naluh Gouveia aparece nessa disputa, não é pelo que ela fez contra alguém, mas pelo que representa em favor da sociedade. Sua trajetória pública é marcada por firmeza ética, clareza de princípios e notória competência técnica. Ao longo de sua vida, tanto como deputada quanto como conselheira, demonstrou compromisso com a isonomia, a equidade e a verdade, atributos que não são adjetivos de ocasião, mas virtudes reconhecidas pela sociedade acreana. É justamente esse perfil que incomoda: uma mulher independente, que não se curva a pressões, que não teme o confronto quando está em jogo o interesse coletivo.
É lamentável que, em pleno século XXI, ainda se veja o uso da máquina governamental para tentar intimidar vozes críticas. Não é Naluh quem sai menor desse episódio, mas sim o governo, que expõe seu receio diante da transparência e da fiscalização. A tentativa de afastamento soa como confissão: apenas teme ser fiscalizado quem tem motivos para esconder.
Respeitar a função de Naluh Gouveia não é favor, mas exigência republicana. É o reconhecimento de que o interesse público deve estar acima de conveniências políticas ou de ressentimentos pessoais.
O governo precisa entender que democracia não se sustenta com perseguições, mas com respeito às instituições e àqueles que têm a coragem e a competência de defendê-las. Mas o que mais preocupa não é o ataque do governo é o silêncio de quem deveria estar ao lado da verdade.