“Esse reconhecimento cria um compromisso com o Estado brasileiro”, diz Cacique Ninawa Huni Kuĩ sobre os grafismos reconhecidos como patrimônio cultural
Durante a 107ª Reunião Ordinária do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, realizada em Brasília, foi aprovado por unanimidade o registro dos grafismos do povo Huni Kuĩ — o Kene Kuĩ — como patrimônio cultural do Brasil. A decisão marca um momento simbólico para a história do povo Huni Kuĩ e também para o estado do Acre, com o reconhecimento do primeiro bem imaterial genuinamente acreano.
O presidente da Federação do Povo Huni Kuĩ do Acre, Cacique Ninawa Huni Kuĩ, acompanhou de perto o processo e destacou o significado da conquista. “Esse reconhecimento cria um compromisso com o Estado brasileiro de ajudar nós, povo Huni Kuĩ, a proteger esse conhecimento tão sagrado e tão importante para o nosso povo”, afirmou. Segundo ele, a aprovação do registro fortalece não apenas a preservação do conhecimento tradicional, mas também a necessidade de políticas públicas específicas. “Não só isso, como de criar responsabilidade, de criar políticas públicas de salvaguarda para continuar fortalecendo esse trabalho dentro das comunidades”, completou.
O Kene Kuĩ envolve um conjunto de saberes e técnicas ligados à produção de grafismos que fazem parte da vida cotidiana, da espiritualidade e da organização social do povo Huni Kuĩ. Esses grafismos aparecem em objetos como tecidos, cestos, redes e cerâmicas, e são tradicionalmente produzidos por mulheres — as aïbu keneya, ou mestras do desenho.
A proposta de registro foi apresentada em 2006 por diversas lideranças e organizações indígenas. Ao longo dos anos, pesquisas foram conduzidas com apoio de técnicos e consultores, indígenas e não indígenas. Ninawa lembrou e agradeceu as contribuições de todos: “Quero agradecer às mestras artesãs que são detentoras desse conhecimento… e também agradecer todos os técnicos do Iphan do Estado do Acre, os técnicos do Iphan a nível nacional e a cada conselheiro que deu seu voto de confiança”.
Do lado positivo, o reconhecimento oficial pode ampliar o acesso a recursos para salvaguarda, incentivar a valorização cultural entre os mais jovens e fortalecer a identidade indígena local. Por outro lado, há desafios em garantir que o reconhecimento se traduza, de fato, em políticas públicas eficazes e permanentes, além da necessidade de vigilância contra usos indevidos ou distorcidos da tradição.
Para o povo Huni Kuĩ, o reconhecimento representa uma conquista coletiva. “Isso é muito importante para nós. Quero agradecer de coração a cada pessoa que se empenhou e ao governo brasileiro por esse reconhecimento”, finalizou o cacique.
O estado do Acre alcançou 100% de adesão municipal ao segundo ciclo da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), conforme divulgado pelo Ministério da Cultura. Todos os 22 municípios acreanos solicitaram adesão à política pública de fomento à cultura, que viabiliza acesso a recursos federais voltados ao setor cultural em âmbito local.
A PNAB integra as ações permanentes de financiamento à cultura no país e representa uma continuidade dos esforços iniciados com a Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural, sancionada durante a pandemia. Com a adesão completa no Acre, o estado avança na captação e execução de recursos destinados a projetos culturais descentralizados.
No contexto estadual, o Acre se destacou nacionalmente como um dos primeiros a cadastrar seu plano de trabalho junto ao governo federal. A gestão da política é coordenada pela Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM), que aprovou mais R$ 57 milhões para investimento nos próximos três anos, fortalecendo as cadeias produtivas culturais em todo o território acreano.
Na primeira fase da PNAB, o Acre já figurava como o terceiro estado com maior execução dos recursos no país. Os investimentos viabilizaram ações e produções culturais tanto na capital, Rio Branco, quanto nos municípios do interior, refletindo o compromisso da gestão estadual com a aplicação dos recursos e com a valorização da diversidade cultural.
O estado também vem operando outros fundos e programas de apoio à cultura. Em 2024, foram destinados R$ 22 milhões pela Lei Paulo Gustavo, R$ 18 milhões da PNAB, e R$ 6 milhões do Fundo Estadual de Cultura (FEC), além de rendimentos financeiros próximos de R$ 3 milhões. A previsão, somando os recursos do novo ciclo da PNAB, ultrapassa R$ 100 milhões destinados ao setor cultural até 2027.
Os próximos passos incluem a realização de escutas com agentes culturais para definição das prioridades e estruturação dos editais. A meta é ampliar o acesso e garantir maior capilaridade das ações em todas as regiões do estado. O prazo para adesão de municípios à PNAB segue aberto até 26 de maio.
O Governo do Acre confirmou a realização do Arraial Cultural 2025 para o mês de junho. O anúncio foi feito neste sábado (17) pelo presidente da Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM), Minoru Kinpara, com apoio declarado do governador Gladson Cameli por meio de vídeo publicado em suas redes sociais.
“Prepara a camisa xadrez, o chapéu de palha, que o Arraial Cultural 2025 está confirmado. O nosso governador Gladson Cameli já garantiu os recursos, estamos trabalhando muito”, afirmou Kinpara. Segundo ele, o evento contará com barracas de comidas típicas, apresentações culturais, danças tradicionais e a tradicional competição estadual de quadrilhas juninas.
O Arraial será realizado no final do mês e terá entrada gratuita. A expectativa da organização é de que o público deste ano seja ainda maior que o dos anos anteriores, reforçando o evento como uma das principais festas do calendário cultural acreano.
A coordenação do Arraial Cultural 2025 está sob responsabilidade da FEM, que organiza a programação com representantes de diversos municípios do estado. A competição de quadrilhas, considerada um dos principais atrativos, reunirá grupos de todo o Acre, promovendo intercâmbio cultural e mobilização comunitária.
A cantora Alcineia Galdino estreia neste sábado (10), às 19h30, o projeto solo Negra Voz, com apresentação gratuita na Usina de Arte João Donato, em Rio Branco. O espetáculo será acessível em Libras e homenageará grandes nomes da música negra brasileira, como Elza Soares, Djavan, Cartola e Iza.
Conduzido pela Acreativa Produções, o projeto busca valorizar compositores e intérpretes negros, aproximando o público da história e do contexto das músicas apresentadas. “Quero mostrar ao público a história por trás das músicas. É uma forma de envolver mais as pessoas com a arte musical, compreendendo melhor o contexto de cada letra”, explicou Alcineia.
A direção artística é de Narjara Saab e a direção musical de James Fernandes, que também integra a banda ao lado de João Gabriel Brito, José Luíz, Marcone Potta, Maurício Potta e Nilton Castro. Os backing vocals são de Jehnny Lima e da própria Narjara Saab. A iluminação cênica será de Ivan de Castela, com apoio técnico de Carol Di Deus.
Além do show principal, o projeto incluiu um minicurso sobre a influência dos ritmos africanos na musicalidade brasileira, ministrado por João Gabriel Brito no Museu dos Povos Acreanos, em 4 de abril, e um pocket show na Casa Rosa Mulher, no dia 11 do mesmo mês.
O projeto Negra Voz foi contemplado no Edital de Arte e Patrimônio para Iniciantes da Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM), com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), em parceria com o Governo do Acre.