O Instituto Federal do Acre (Ifac) iniciou no dia 23 de outubro, na Terra Indígena Campinas Katukina, em Cruzeiro do Sul, o primeiro curso técnico indígena de Recursos Pesqueiros do Brasil. A formação ocorre dentro do território do povo Noke Koî e é dirigida a indígenas com ensino médio completo, com aulas ministradas na sede da Associação Geral do Povo Noke Koî, no km 66 da BR-364. A iniciativa leva ensino profissionalizante para dentro da comunidade e atende uma demanda construída pela liderança local ao longo dos últimos anos .
A aula inaugural foi organizada no formato tradicional de reunião do povo Noke Koî. O curso é ofertado em modalidade subsequente e será ministrado integralmente na aldeia, sem necessidade de deslocamento dos estudantes. De acordo com a coordenadora da formação, professora Meyrecler Aglair de Oliveira Padilha, o objetivo é integrar conhecimentos técnicos à prática local. “A proposta do curso busca integrar saberes acadêmicos e conhecimentos tradicionais, preparando jovens e adultos para o uso de técnicas de pesca e aquicultura voltadas tanto para o sustento alimentar quanto para a produção e comercialização do pescado”, afirmou .
O cacique geral Edilson Rosa destacou que o curso representa um passo para a autonomia no manejo da piscicultura. “Com este curso, poderemos cuidar de nossos peixes por conta própria, sem depender de mão de obra externa. Formaremos nossos próprios técnicos, preparados para gerir os recursos de nossa comunidade”, disse. O presidente da associação local, Adriano Katukina, afirmou que a formação atende um plano construído pela comunidade. “Praticamos piscicultura há anos, mas sem o conhecimento técnico adequado. Agora poderemos aprimorar o trabalho e garantir segurança alimentar”, declarou .
A cerimônia contou com a presença do reitor do Ifac, Fábio Storch, da autora da emenda parlamentar que viabilizou os recursos, Perpétua Almeida, do diretor do campus Cruzeiro do Sul, Raelisson Walter, e de representantes da reitoria. O reitor afirmou que a iniciativa aproxima a educação profissional da realidade dos povos indígenas e defendeu que os primeiros formandos possam receber certificados em uma cerimônia com a presença de autoridades nacionais .
Perpétua Almeida afirmou que a destinação da emenda buscou apoiar uma demanda apresentada pela comunidade. “Estamos implantando o primeiro curso de Recursos Pesqueiros em uma comunidade indígena, ministrado no dialeto dos povos Noke Koî. Este projeto contribui para a segurança alimentar e para a autonomia da comunidade”, declarou. Representando a Prefeitura de Cruzeiro do Sul, a secretária municipal Janaina Terças afirmou que a formação pode fortalecer o desenvolvimento local por meio da profissionalização .
O curso é resultado de articulação iniciada em 2015. O professor Rodrigo Marciente, idealizador da proposta, explicou que o projeto foi construído em parceria com a comunidade. “Hoje celebramos a primeira formação técnica em território indígena em 525 anos de história”, afirmou. Ele acrescentou que o curso pode estimular novas possibilidades econômicas com derivados do pescado e fortalecer a autonomia da aldeia .
A equipe pedagógica do Ifac acompanhará as aulas na aldeia, com apoio de intérpretes e mediadores indígenas. Segundo a coordenação, a formação prepara os estudantes para o manejo de tanques de piscicultura e para a comercialização do pescado, com foco no uso sustentável dos recursos naturais. O diretor do campus Cruzeiro do Sul explicou que o curso foi adaptado à língua e à cultura Noke Koî e que a proposta une conhecimento técnico e saber tradicional .
Ao final da cerimônia, os estudantes receberam os materiais didáticos para o início das atividades. A aula inaugural marcou o início de uma política de formação profissional em territórios indígenas, com impacto direto na segurança alimentar e na qualificação de jovens e adultos da comunidade Noke Koî .