Durante a 15ª Reunião Anual da Força-Tarefa dos Governadores pelo Clima e Florestas (GCF Task Force), realizada no dia 19 de maio de 2025, em Rio Branco (AC), o Comitê Global para Parcerias com Povos Indígenas e Populações Tradicionais promoveu um intercâmbio de experiências sobre a implementação de políticas ambientais com foco nos programas de REDD+ jurisdicional.
As discussões reuniram representantes do Brasil, Peru, Equador, Bolívia, México e Indonésia, que apresentaram diagnósticos sobre a efetividade das políticas adotadas em seus territórios e os principais desafios enfrentados pelos povos indígenas e tradicionais na gestão ambiental.
Entre os temas debatidos, destacou-se a necessidade de ampliar a participação social nos mecanismos de governança e de revisar os critérios de repartição de benefícios dos programas de REDD+. No caso do Acre, foi apresentado o programa ISA Carbono, parte do Sistema de Incentivos a Serviços Ambientais (Sisa), como experiência pioneira no país.
A presidente do Instituto de Mudanças Climáticas do Acre (IMC), Jaksilande Araújo, detalhou o processo de escuta e pactuação com povos indígenas, extrativistas, ribeirinhos e agricultores familiares. Segundo ela, as consultas públicas foram fundamentais para fortalecer a legitimidade do programa e definir uma proposta de atualização na repartição de benefícios.
A secretária de Povos Indígenas do Acre, Francisca Arara, ressaltou a reivindicação apresentada por instâncias de governança do Sisa — como a Comissão Estadual de Validação e Acompanhamento (Ceva) e a Câmara Temática Indígena (CTI) — para ampliar o percentual destinado aos povos indígenas, atualmente fixado em 12%. “O cenário mudou. Hoje enfrentamos impactos maiores das mudanças climáticas, escassez de água e crescimento populacional. Isso exige uma revisão da forma como os benefícios são distribuídos”, afirmou.
Os participantes também avaliaram a importância de atualizar salvaguardas socioambientais e de garantir a continuidade dos programas com base na valorização do conhecimento tradicional. Representantes de Equador, Bolívia e México compartilharam experiências sobre estratégias de conservação e manejo florestal, destacando a necessidade de criar sistemas eficazes de monitoramento e financiamento internacional.
O delegado da Secretaria de Meio Ambiente de Oaxaca (México), Manelik Oliveira, defendeu a articulação entre países da América Latina por meio de mecanismos como o ART Trees, para fortalecer políticas conjuntas de mitigação e adaptação.
Já o presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Júlio Barbosa, afirmou que os povos da floresta devem protagonizar a agenda climática global. “Nossas vozes precisam estar na COP30. Precisamos construir propostas conjuntas a partir dos nossos territórios”, declarou.
Tashka Peshaho Yawanawa, liderança do povo Yawanawa, apontou que a experiência acreana pode se transformar em modelo de conexão entre comunidades locais e investidores. “O desafio é transformar políticas públicas em pontes que levem recursos de forma direta para quem vive nas florestas”, afirmou.
Ao final, os participantes reforçaram a urgência de avançar na definição de modelos de financiamento, mecanismos de transparência e critérios justos de repartição de benefícios. Também destacaram a importância de fortalecer a governança indígena e assegurar espaços permanentes de deliberação nos fóruns nacionais e internacionais de clima.