No Dia da Merendeira Escolar, comemorado em 30 de outubro, profissionais que atuam nas escolas da rede pública do Acre relataram como é a rotina na preparação das refeições e destacaram a importância do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Em Rio Branco, Valdeide Fernandes, que trabalha há 34 anos na função, conta que chega cedo para preparar a primeira refeição servida às 9h e segue até o meio da tarde com a distribuição do almoço e da merenda do turno vespertino. “Cozinho do mesmo jeito que se fosse para os meus filhos”, afirmou. Para ela, a permanência na cantina é uma escolha. “Eu vou me aposentar nesta profissão; já tive convites para outros trabalhos, para ser inspetora, mas eu não troco, porque o meu amor é pela cantina, pela merenda”.
A merendeira relata que muitos alunos se aproximam e demonstram afeto durante o atendimento. Segundo Valdeide, pratos como farofa de carne costumam ter grande aceitação e não ficam no recipiente após o horário das refeições. Ela reforça que o cuidado diário influencia o aprendizado. “A gente fica muito feliz quando está servindo a merenda; eles dizem assim ‘a senhora não quer ir lá para casa cozinhar para a gente?’”, relatou. Outro depoimento veio de Estefana Maria de Souza, há dez anos na profissão. Ela diz que encontrou na cozinha da escola o espaço onde se reconhece. “Eu gosto de trabalhar na cozinha, gosto de mexer com comida e mexer com gente”, contou. Entre os pratos preferidos dos estudantes, ela cita carne guisada com arroz, feijão, farofa e macarrão.
O trabalho também inclui homens. Na Escola São Pedro I, Gleyson do Nascimento atua há três anos e atende alunos do ensino fundamental e médio. Ele relata aproximação dos estudantes e afirma que as conversas na cantina se tornam parte da rotina escolar. “É corrido, e eles sempre perguntam ‘tio, qual é a merenda hoje?’; mas é muito bacana ver o sorriso deles”. Para ele, preparar refeições é mais do que cozinhar: envolve atenção e escuta. Estudantes também reconheceram o laço criado. “Eles vão muito além do trabalho, são amigos, são parceiros, são conselheiros”, disse a aluna Kevellyn Nascimento, da 3ª série do ensino médio.
A atuação das merendeiras está integrada ao Pnae, política pública que se tornou programa nacional em 1979. A legislação garante alimentação a todos os alunos da educação básica e, após mudanças recentes, parte dos recursos passou a ser destinada à compra de alimentos da agricultura familiar. A nutricionista Lorena Lima, chefe da Divisão de Nutrição da Secretaria de Educação do Acre, explica que as profissionais têm papel estratégico no sistema. “As merendeiras têm papel estratégico, por meio do qual a gente consegue garantir que todos os dias a comida seja preparada na escola e garanta o direito à alimentação dos alunos”, afirmou. Ela destaca que há acompanhamento técnico, capacitação e orientação para padronizar procedimentos, desde o planejamento do cardápio até a distribuição do alimento.
As histórias mostram que o serviço diário vai além de preparar refeições. Para muitas dessas profissionais, a merenda escolar é um espaço de convivência e de vínculo com os alunos. E, na percepção dos estudantes, a cantina da escola se torna um lugar de apoio e referência.