A safra 2024/2025 da castanha-do-Brasil no Acre, assim como em outras regiões da Amazônia, foi severamente afetada por condições climáticas extremas associadas ao fenômeno El Niño. A estiagem prolongada e o aumento das temperaturas comprometeram a floração e a frutificação das castanheiras, provocando uma queda significativa na produção.
O fenômeno climático afetou diretamente a atividade extrativista no estado, impactando a renda de famílias que dependem da coleta de castanha para subsistência. Pesquisadores da Embrapa afirmam que a situação não é permanente e pode ser revertida. A expectativa é de recuperação da produção na safra 2025/2026, com base em padrões climáticos anteriores, como a alternância entre El Niño e La Niña.
No Acre, onde a castanha representa importante fonte de renda, os preços dispararam em razão da escassez. Em março de 2025, a lata de 20 litros chegou a R$ 220,00. A Embrapa alerta para o risco de instabilidade de preços e orienta que sejam adotadas medidas de regulação para evitar efeitos econômicos prolongados.
Entre as estratégias propostas estão a manutenção das linhas de produção, gestão de estoques, flexibilização de contratos e diálogo entre produtores e indústrias. A nota técnica da Embrapa, divulgada em março, orienta também que o setor financeiro leve em consideração a excepcionalidade da crise para renegociação de financiamentos.
No estado, iniciativas voltadas para o manejo dos castanhais vêm sendo reforçadas. A prática do corte de cipós em árvores infestadas pode aumentar em até 30% a produção. Pesquisas desenvolvidas em comunidades agroextrativistas demonstram ainda que técnicas como a produção de mudas em miniestufas e o sistema “Castanha na Roça” contribuem para a regeneração natural da espécie.
Outra frente de atuação é o controle de qualidade do produto. No Acre, a pesquisadora Cleisa Brasil, da Embrapa, destaca a importância de boas práticas de coleta, armazenamento e secagem das amêndoas para evitar contaminações e perdas no valor comercial.
A cadeia produtiva também discute a criação de um seguro-extrativismo, que ofereça compensações em anos de baixa produtividade. A proposta deve ser apresentada a parlamentares por organizações comunitárias e redes como o Observatório da Castanha da Amazônia.
A Rede Kamukaia, coordenada pela Embrapa, integra unidades de pesquisa do Acre e de outros estados da Amazônia. O grupo desenvolve há duas décadas ações com comunidades locais e coordena atualmente o projeto NewCast, que visa o fortalecimento da cadeia da castanha-do-Brasil. O projeto envolve diretamente comunidades da Reserva Extrativista do Rio Cajari, no Amapá, e da Terra Indígena Rio Branco, em Rondônia, com duração prevista de três anos e apoio da Finep.
A Embrapa reforça que a manutenção da castanha nos processos industriais e comerciais, mesmo diante da quebra de safra, é fundamental para preservar os vínculos da cadeia produtiva e garantir a sustentabilidade da atividade extrativista no Acre e em toda a Amazônia.
Confira a nota técnica da Embrapa, clique aqui