O coletivo CATAC pede apoio para a finalização e lançamento do filme. Eles pretendem concluir todas as etapas de produção, pós-produção e iniciar as primeiras exibições no Acre e em outras cidades brasileiras.
O projeto
Este é mais um filme independente, sem qualquer patrocínio privado ou institucional, produzido durante o período da pandemia, para recobrar uma das tantas histórias apagadas e perdidas de nossa memória.
Uma história que nasceu há 20 anos, na criação do CATAC, em Rio Branco, no Acre, resultante de um contexto de lutas e resistências, que se fizeram presentes entre os anos 1970 e 1980, na parte mais ocidental da Amazônia, em defesa da floresta e das populações indígenas e ribeirinhas, culminando na vitória do Partido dos Trabalhadores em 1998, com o intuito de dar protagonismo e formação para uma grande parcela da população que sempre esteve excluída.
O líder indígena acreano Francisco Piyãko, do povo Ashaninka do Rio Amônia, participa entre os dias 27 de outubro e 1º de novembro de 2025 da programação de abertura da exposição Amazônia, no Rautenstrauch-Joest-Museum, em Colônia, Alemanha. A mostra reúne cerca de 200 fotografias de Sebastião Salgado, registradas durante mais de sete anos de expedições pela floresta amazônica.
A presença de Piyãko na Alemanha faz parte da agenda de divulgação da mostra e de uma série de atividades públicas que incluem entrevista à imprensa, debates e encontros com o público europeu sobre a proteção dos territórios indígenas e a justiça climática. No dia 30 de outubro, ele participa de uma conversa pública com o também líder indígena Beto Marubo, do Vale do Javari, com mediação da diretora do museu, Nanette Snoep, e do prefeito de Colônia, Andreas Wolter. O debate abordará o papel dos povos indígenas na preservação da floresta e as expectativas para a COP30, que ocorrerá em Belém (PA) no próximo mês.
A exposição é uma iniciativa do Rautenstrauch-Joest-Museum, em parceria com o Instituto Terra e com curadoria de Lélia Wanick Salgado. O evento conta com patrocínio da Zurich Seguros, que completa 150 anos na Alemanha, e apoio da KfW Entwicklungsbank, da DEG e da editora Taschen. As imagens retratam paisagens, comunidades e rituais de diversos povos da Amazônia, entre eles os Ashaninka, Yawanawá, Marubo, Yanomami, Suruwahá e Macuxi.
A relação entre Francisco Piyãko e Sebastião Salgado começou em 2016, quando o fotógrafo esteve na Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, no município de Marechal Thaumaturgo, Acre, para documentar o modo de vida do povo Ashaninka. As fotos dessa visita integram a série Amazônia e retratam momentos de convivência com a comunidade Apiwtxa, fundada por Piyãko e outras lideranças locais. As imagens mostram o cotidiano do povo, o uso coletivo da floresta e as práticas de manejo sustentável que sustentam a vida na fronteira entre o Brasil e o Peru.
Durante aquela visita, Salgado passou vários dias na aldeia, acompanhado por Piyãko, que apresentou a organização política e ambiental do território, o trabalho comunitário e os rituais do povo Ashaninka. A partir dessa experiência, o fotógrafo incorporou à série o olhar sobre as formas de resistência e de manejo dos povos da floresta diante da expansão das fronteiras econômicas na Amazônia.
Em entrevistas posteriores, Sebastião Salgado destacou que a permanência entre os Ashaninka foi fundamental para compreender a relação espiritual e material entre o povo e o território. Já Piyãko, em diferentes ocasiões, afirmou que a presença do fotógrafo ajudou a tornar visível a experiência do povo Ashaninka para o mundo e a reforçar a importância da preservação da Amazônia como parte da identidade e da sobrevivência coletiva.
Sobre a participação na abertura da mostra na Alemanha, Piyãko afirmou que o convite partiu do próprio Sebastião Salgado e que sua presença representa também uma homenagem ao amigo e parceiro de luta. “Estou indo muito pelo convite do próprio Sebastião. Mesmo ele tendo feito a passagem, é como se eu estivesse indo visitar ele, encontrar com ele. Vai ser um momento bastante emocionante, porque vai ter muito forte a presença dele, mesmo ele não estando ali. Vou movido por esse sentimento”, disse o líder Ashaninka, destacando que a participação na exposição simboliza a continuidade do trabalho que ambos realizaram em defesa da Amazônia e dos povos da floresta.
A exposição Amazônia permanecerá em cartaz no museu de Colônia até 15 de março de 2026. Além das fotografias, o evento apresenta uma programação paralela chamada The Future is Indigenous, que coloca artistas, lideranças e pensadores indígenas no centro das discussões sobre clima, cultura e território. O objetivo é promover o diálogo entre diferentes visões sobre o futuro da floresta e o papel dos povos originários na sua proteção.
Estreou na sexta-feira, no canal do PT do Acre no YouTube, o podcast Papo Cabeça, idealizado e apresentado pela artista e militante do Partido dos Trabalhadores, Camila Cabeça, que também coordena o escritório do Ministério da Cultura no Acre.
O programa nasce como um espaço de escuta, debate e reconstrução simbólica, uma tentativa de retomar a luta política também pela comunicação.
A estreia contou com a participação do ex-governador Binho Marques, em uma conversa sobre cultura, formação política e o papel da memória nas políticas públicas que transformaram o estado.
“É uma proposta de conversa, de troca, de reconhecimento da nossa história e das pessoas que ajudaram a construir o Acre que a gente acredita”, explica Camila.
O Papo Cabeça surge num momento em que setores conservadores dominam o debate público digital, e a esquerda busca reconectar-se com a sociedade. Nesse contexto, o programa se apresenta como um gesto político e cultural de reconexão, ao propor novas formas de diálogo e fortalecer a reflexão coletiva sobre o papel das políticas públicas no Acre contemporâneo.
“A comunicação, a cultura e a educação caminham juntas. Quando isso se perde, a gente perde também a capacidade de pensar o coletivo”, afirmou Camila durante a conversa.
Ao combinar memória, escuta e formação, o Papo Cabeça busca aproximar a política do cotidiano das pessoas e reafirmar a comunicação como campo de disputa e de construção coletiva.
Em tempos de desinformação e polarização, o podcast se posiciona como um espaço de resistência simbólica e de diálogo político, um lugar onde a luta continua, agora também nos microfones, nas câmeras e nas redes.
O primeiro episódio do Papo Cabeça já está disponível no canal do PT do Acre no YouTube. Camila Cabeça convida o público a assistir, se inscrever no canal e ativar o sininho de notificações para acompanhar as próximas conversas, que continuarão a abordar temas ligados à cultura, política e memória popular no Acre.
O governo do Acre recebeu R$ 14,4 milhões referentes ao segundo ciclo da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), executada pelo Ministério da Cultura. O repasse foi autorizado após a aprovação do Plano de Aplicação de Recursos elaborado pela Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM), com participação da sociedade civil. O Acre foi um dos quatro estados que superaram a meta de execução financeira da primeira etapa do programa, atingindo 106% do valor aplicado, incluindo os rendimentos financeiros.
A nova etapa da PNAB no Acre contempla investimentos em diferentes eixos, definidos durante fóruns estaduais realizados entre maio e junho de 2025. O plano aprovado pelo Ministério da Cultura inclui ações voltadas à valorização das culturas tradicionais, como expressões indígenas e mestres da cultura popular, além do fortalecimento de novos talentos, coletivos e entidades culturais em todo o estado. As diretrizes também preveem a adoção integral de cotas e ações afirmativas, garantindo a execução conforme as normas nacionais de equidade e diversidade.
Em outubro, durante o 1º Seminário Nacional de Ações Afirmativas na Cultura, promovido pelo Ministério da Cultura em São Paulo, o Acre foi reconhecido como referência na implementação de políticas voltadas a grupos historicamente marginalizados. Para o presidente da FEM, Minoru Kinpara, os resultados obtidos refletem o esforço coletivo de artistas, gestores e representantes culturais. “A Política Nacional Aldir Blanc representa um marco histórico para a cultura brasileira, e o Acre tem mostrado que é possível transformar esse investimento em resultados concretos. A escuta ao movimento cultural foi decisiva para construirmos um plano coerente com as realidades do nosso povo, respeitando as identidades e potencialidades de cada território”, afirmou.
Segundo Kinpara, o novo ciclo da PNAB marca uma fase de fortalecimento institucional da cultura como política pública permanente. Ele destacou que o estado passou a integrar um grupo de entes federativos que tratam o setor cultural como estratégico para o desenvolvimento social e econômico. “Vivemos um novo momento: a cultura deixou de ser coadjuvante e passou a ocupar o lugar de política estratégica, com planejamento, participação social e impacto direto na vida das pessoas. Essa conquista é coletiva — de artistas, mestres, gestores, conselheiros e todos que acreditam no poder transformador da cultura”, completou o presidente da FEM.
Com os novos recursos, o Acre pretende ampliar editais, prêmios, ações formativas, projetos de salvaguarda patrimonial e o apoio a redes e coletivos culturais em todas as regiões do estado. O desempenho do Acre no programa consolida a presença do estado entre os protagonistas nacionais na execução de políticas culturais, evidenciando um modelo de gestão articulado com a sociedade civil e com o sistema nacional de fomento à cultura.