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MEIO AMBIENTE

Painel no Txai Amazônia propõe união entre saberes indígenas e ciência para fortalecer a bioeconomia

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Rio Branco (AC) – 25 de junho de 2025

O primeiro painel do Seminário Internacional Txai Amazônia reuniu lideranças indígenas para discutir os caminhos da bioeconomia e da sociobiodiversidade a partir dos conhecimentos tradicionais. Intitulado O olhar indígena para a construção dos conceitos de sociobiodiversidade e sociobioeconomia, o debate abriu oficialmente o eixo temático sobre Bioeconomia e Sociobiodiversidade, com mediação da secretária de Povos Indígenas do Acre, Francisca Arara.

Participaram do painel o antropólogo Francisco Apurinã, o líder espiritual Mapu Huni Kuin e o coordenador da Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (OPIRJ), Francisco Piyãko. As falas destacaram a importância de reconhecer a floresta como território vivo e interdependente, e os povos indígenas como guardiões de práticas sustentáveis milenares.

Para Francisco Apurinã, conceitos como bioeconomia e sociobiodiversidade são recentes no vocabulário acadêmico e institucional, mas já fazem parte da vida dos povos originários há gerações. “Não tem como falar de bioeconomia ou sustentabilidade sem os conhecimentos dos povos indígenas. Isso já é vivido nas aldeias, do nosso jeito, na nossa língua. E é por isso que precisamos estar nos espaços de decisão”, afirmou.

Francisco Piyãko reforçou que a floresta não pode ser pensada apenas em termos de recursos. “A floresta não é só o que se vê verde. É um mundo inteiro, com sua complexidade, sua cultura, sua espiritualidade. E é preciso entendê-la assim, em sua totalidade”, disse. Ele alertou para os riscos de apropriação dos conceitos indígenas por empresas e governos que não reconhecem a autonomia dos povos da floresta.

Mapu Huni Kuin, por sua vez, compartilhou sua experiência de criação do Centro Huwa Karu Yuxibu, na Transacreana, em Rio Branco. O espaço promove alimentação tradicional, reflorestamento e espiritualidade, atendendo famílias indígenas em situação de vulnerabilidade. “O alimento também cura. Não adianta tomar nossas medicinas se não cuidamos da forma como nos alimentamos. Nossa cura começa na terra”, afirmou.

Os painelistas também destacaram a importância da educação superior para os jovens indígenas, mas criticaram a falta de estrutura nas universidades para acolher a diversidade cultural. Mapu anunciou a construção de alojamentos para estudantes indígenas em seu centro cultural, como forma de garantir formação acadêmica aliada à vivência comunitária.

O painel terminou com uma moção proposta pelo professor Jacó Lima, da Universidade Federal do Acre, solicitando a criação de vagas específicas para docentes e técnicos indígenas nas universidades públicas. A proposta foi recebida com aplausos e deve ser encaminhada à plenária final do seminário.

O Seminário Txai Amazônia segue até o dia 28 de junho, reunindo representantes da Amazônia Legal e de países vizinhos como Bolívia e Peru, com foco em construir estratégias para uma bioeconomia alinhada à justiça social e ao protagonismo dos povos da floresta.

Foto: Sérgio Vale

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“Vamos mostrar que dá pra viver de forma coletiva”: Mapu Huni Kuin apresenta projeto de autonomia indígena em Rio Branco

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Liderança do povo Huni Kuin compartilha experiência de resistência urbana e criação do primeiro restaurante indígena do Acre durante o Seminário Txai Amazônia

Rio Branco (AC) – 25 de junho de 2025

A história de Mapu Huni Kuin emocionou o público no painel de abertura do Seminário Txai Amazônia. Nascido na Terra Indígena Kaxinawá do Rio Breu, em Marechal Thaumaturgo (AC), ele deixou a floresta com o sonho de estudar Direito e lutar pelos direitos do seu povo. Ao chegar nas cidades, encontrou o preconceito, a fome e o abandono. “Dormia em barco, muitas vezes não sabia o que comer. Mas aquilo tudo me ensinou a não desistir”, contou.

A experiência o levou a criar um espaço próprio, onde pudesse unir cultura, espiritualidade e produção sustentável. Em 2015, fundou o Centro Huwa Karu Yuxibu, no km 36 da Transacreana, zona rural de Rio Branco. O centro hoje abriga o primeiro restaurante tradicional Huni Kuin da capital acreana e atende 42 famílias indígenas em situação urbana.

“Em Rio Branco você encontra comida japonesa, peruana, de vários lugares. Mas a nossa, que é riquíssima, ninguém conhece. Estamos pisando em cima de uma riqueza e fingindo que ela não existe”, disse Mapu. O restaurante trabalha com alimentação tradicional e produtos cultivados no próprio centro.

Além da gastronomia, o espaço promove reflorestamento, práticas espirituais e acolhimento. Em 2024, foram plantadas 11 mil mudas entre medicinais, frutíferas e nativas. A meta para este ano é chegar a 20 mil. “Enquanto muitos falam de sustentabilidade, a gente está fazendo. Não é discurso, é prática.”

Preocupado com o abandono de jovens indígenas que saem das aldeias para estudar na cidade, Mapu anunciou que irá construir alojamentos estudantis dentro do centro. “A gente quer oferecer alimentação, um lugar pra morar e um espaço onde possam continuar vivendo sua cultura enquanto fazem universidade.”

Em 2023, Mapu deu um novo passo: comprou uma área de 2.450 hectares preservadas, onde pretende instalar um grande centro de terapias da floresta, com ioga, reiki, meditação, espiritualidade e medicina indígena. “É possível viver com equilíbrio entre tradição e cidade. É isso que estamos construindo. Um futuro coletivo, onde a gente cuida da floresta, das pessoas e de nós mesmos.”

O Seminário Txai Amazônia segue até o dia 28 de junho no espaço eAmazônia da Universidade Federal do Acre, reunindo lideranças, pesquisadores, representantes de governos e da sociedade civil para debater os rumos da bioeconomia e da sociobiodiversidade na Amazônia Legal.

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“Sem licença dos espíritos, não há sustentabilidade”: Francisco Apurinã questiona conceitos de bioeconomia no Txai Amazônia

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Pesquisador e liderança indígena do povo Apurinã defende protagonismo dos saberes ancestrais nas políticas ambientais

Rio Branco (AC) – 25 de junho de 2025

Com olhar crítico e profundo, o antropólogo e mestre em desenvolvimento sustentável Francisco Apurinã abriu sua participação no Seminário Txai Amazônia propondo uma escuta mais atenta e respeitosa aos povos originários. Segundo ele, termos como bioeconomia, sociobiodiversidade e sustentabilidade só fazem sentido se construídos a partir das realidades e espiritualidades indígenas.

“Esses conceitos entram na moda e ficam anos sendo falados sem que se chegue a resultados eficazes. Tudo isso nós, povos indígenas, já fazemos nas nossas aldeias, do nosso jeito, da nossa língua, muitas vezes da nossa forma de ser”, afirmou.

Francisco relembrou que a compreensão indígena da vida não se limita à matéria ou ao visível. “O povo Apurinã acredita em três dimensões: a terra de cima, a terra do meio e a terra de baixo. Essas três precisam dialogar. Mas a terra do meio, onde vivemos, está perdida. E ela precisa de cuidado.”

Ao criticar os modelos atuais de licenciamento ambiental, o pesquisador foi direto: “Esses grandes empreendimentos têm licença do Ibama, mas não têm a licença dos espíritos. E sem essa licença, pra nós, não há sustentabilidade.”

Ele destacou ainda que a presença dos povos indígenas nas tomadas de decisão não é uma demanda simbólica, mas estrutural. “Licenciar uma obra sem ouvir os guardiões da floresta é o mesmo que construir em cima de um cemitério sem pedir licença. Falta alteridade, falta respeito.”

A fala de Francisco ganhou ainda mais peso após uma intervenção do público sobre a morte das abelhas como sinal da destruição ambiental. Em resposta, ele reforçou o apelo por um olhar ampliado. “Tem que respeitar as abelhas, as suas residências, os seus chefes. Todos os seres têm organização social, têm matrimônio, têm festa. É a gente que se coloca no topo e esquece que o planeta vive de equilíbrio.”

Para ele, os povos indígenas não apenas resistem, mas propõem caminhos para o presente e o futuro. “Vamos reciclar nossa alteridade. Vamos respeitar o conhecimento do outro. Porque bioeconomia, pra ser real, precisa começar com quem cuida da vida desde sempre.”

O Seminário Txai Amazônia segue até 28 de junho, no espaço eAmazônia da Universidade Federal do Acre (UFAC), reunindo representantes indígenas, instituições de pesquisa, governos e organizações sociais dos nove estados da Amazônia Legal, além de Bolívia e Peru.

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MEIO AMBIENTE

“Nossa produção não entra na conta do agronegócio”: Francisco Piyãko questiona modelo econômico imposto à Amazônia

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Francisco Piyãko defende reconhecimento do modo de vida indígena como base da bioeconomia durante o Seminário Txai Amazônia

Durante o primeiro painel do Seminário Internacional Txai Amazônia, o líder Ashaninka e coordenador da Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (Opirj), Francisco Piyãko, destacou que a bioeconomia, para os povos indígenas, não é uma novidade. Segundo ele, trata-se de uma prática ancestral que precisa ser reconhecida como referência nas discussões sobre desenvolvimento e sustentabilidade na Amazônia.

“Se perguntar lá pro meu povo, até pra mim mesmo, é difícil saber o que é sociobiodiversidade. Essas coisas vêm de fora pra dentro do território. Mas a gente já faz bioeconomia há muito tempo, do nosso jeito, com os nossos saberes”, afirmou.

Para Piyãko, a relação dos povos indígenas com a floresta é orientada pela natureza e sustentada por uma lógica espiritual e coletiva. “A gente vive sob a orientação da natureza. A gente não vive sem essa orientação. Por isso cuidamos do nosso território com muito respeito. Nas plantas, nos animais, a gente vê sinais. Eles conversam com a gente.”

Ao falar sobre sociobiodiversidade, o líder Ashaninka reforçou que o conceito vai além da diversidade biológica. “Eu entendo que é a diversidade das vidas que sustentam a vida. Não só a humana. É a floresta inteira: gente, bicho, rio, árvore, espírito. Tudo isso é o que orienta a nossa forma de viver.”

Piyãko também criticou abordagens que tentam adaptar os saberes tradicionais aos moldes do mercado, sem considerar os limites e os modos de vida das comunidades. “A gente precisa de uma bioeconomia que dialogue com os territórios, com os povos. Que respeite os limites. Que não trate tudo como oportunidade pra fora, mas que seja oportunidade pra nós também.”

Ele alertou para os riscos de uma bioeconomia desconectada dos povos da floresta. “Será que empresas que usam nossos produtos estão protegendo a Amazônia ou só extraindo dela pra crescer no mundo? A floresta e os povos não se separam. Se a floresta adoece, os povos também adoecem.”

Com experiência consolidada em governança territorial e segurança alimentar em sua comunidade, Francisco defendeu uma concepção de economia baseada no bem viver, e não na acumulação. “Nosso conceito de vida está ligado à abundância. Se eu encontro algo na floresta, pego o que preciso e digo pro outro: vai lá, tem mais. A gente não acumula pra dominar. A gente compartilha pra viver bem.”

Ao final, fez uma crítica direta ao modo como os povos indígenas ainda são excluídos das métricas econômicas nacionais: “Nossa produção não entra na conta do agronegócio. Porque ela não é medida por volume ou lucro, mas por equilíbrio e permanência. E é isso que garante a vida.”

O painel fez parte do eixo temático Bioeconomia e Sociobiodiversidade e reuniu lideranças indígenas de diferentes povos. O evento segue até o dia 28 de junho no espaço eAmazônia na Universidade Federal do Acre, com debates sobre territórios, inovação e saberes tradicionais.

Foto: Sérgio Vale

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