Em meio à corrida global por uma economia de baixo carbono, especialistas, gestores públicos e representantes do setor produtivo se reuniram nesta terça-feira (14), em Brasília, para discutir como garantir que essa transição seja justa e inclusiva. O debate ocorreu durante o Summit Empregos e Habilidades do Futuro para uma Economia de Baixo Carbono, promovido pelo Sebrae Nacional em parceria com a iniciativa global Sustainable Business COP (SB COP), liderada no Brasil pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O evento reuniu lideranças que estão à frente das discussões sobre o papel do Brasil na próxima Conferência do Clima da ONU, a COP30, que será realizada em Belém (PA). No centro das falas, a constatação de que a descarbonização da economia é inevitável — mas o modo como ela será conduzida pode ampliar ou reduzir desigualdades.
A diretora de programa da presidência da COP30, Alice Amorim Vogas, defendeu que o país precisa adotar um novo modelo de desenvolvimento, combinando redução de emissões com geração de oportunidades. “Se a transição vai ser justa ou não, depende muito do esforço de todos nós. Enquanto presidência da COP no Brasil, estamos convocando uma discussão de modelos de desenvolvimento que tratam a descarbonização e construção de resiliência com qualidade. Não estamos mais no momento de falar de adaptação e mitigação”, afirmou.
Os participantes reforçaram que o desafio não se restringe à esfera ambiental. Trata-se também de uma agenda econômica e social, com impacto direto sobre a empregabilidade, a qualificação da força de trabalho e o papel das pequenas empresas — responsáveis por mais de 80% dos empregos formais no Brasil. Para o diretor-técnico do Sebrae, Bruno Quick, os pequenos negócios devem ser incluídos no centro das estratégias de transição. “São os que mais sofrem com os problemas, por possuírem menos meios para superar e mitigar os efeitos climáticos, mas também são grandes portadores das soluções”, afirmou.
A necessidade de investir em formação profissional foi outro ponto central. A CEO da Systemiq para a América Latina, Patrícia Ellen, destacou que a construção de uma economia verde depende de conhecimento e inclusão. “Capital humano tem CEP e precisamos saber onde estão essas oportunidades por estado e por região, além das necessidades dessa população”, disse. Para ela, o investimento em pessoas é o caminho para gerar valor na economia e garantir que o crescimento verde alcance todas as regiões do país.
O painel “Do Global para o Local” apresentou experiências internacionais de integração entre políticas de emprego e sustentabilidade. Especialistas da GIZ e da SB COP destacaram que países que priorizam a capacitação profissional em setores verdes conseguem avançar mais rápido na criação de empregos sustentáveis e na redução de emissões.
Na mesma linha, o gerente de Gestão de Soluções do Sebrae Nacional, Eduardo Curado, alertou que o país precisa acelerar a disseminação de conhecimento técnico. “A velocidade que as oportunidades vão surgindo não está sendo acompanhada pela nossa capacidade de levar o conhecimento dessas habilidades para as pessoas”, observou.
O encontro concluiu que a transição justa para uma economia de baixo carbono exige integração entre políticas públicas, setor privado e sociedade civil. As discussões indicam que o Brasil tem condições de liderar esse movimento, desde que priorize a formação profissional, a inovação e o fortalecimento dos pequenos empreendimentos. Mais do que reduzir emissões, trata-se de garantir que o futuro verde seja também um futuro com empregos, renda e participação social.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis aplicou R$ 13,3 milhões em multas durante uma etapa da Operação Metaverso realizada no Acre, que teve como foco a identificação de fraudes na cadeia de custódia da madeira. A operação ocorreu no estado como parte de um esforço nacional de fiscalização e resultou na apreensão de 424 m³ de madeira e no cancelamento de 3,9 mil m³ de créditos florestais irregulares, segundo dados divulgados pelo órgão .
De acordo com o Ibama, as equipes identificaram planos de manejo florestal sustentável executados fora das condições previstas em licenças ambientais e detectaram inserções de informações falsas no Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais e nos sistemas DOF Legado e DOF+ Rastreabilidade. O cancelamento dos créditos tinha o objetivo de impedir o “esquentamento” da madeira, prática usada para mascarar a origem ilegal do produto. O órgão informou ainda que encontrou indícios de fraude em documentos assinados por responsáveis técnicos e que notificará o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia para a adoção de medidas.
A etapa da operação no Acre também utilizou novos mecanismos de rastreabilidade, que permitiram o avanço na análise da origem e do destino da madeira transportada. Segundo o instituto, a ação integra a estratégia de fortalecimento da gestão florestal na Amazônia Legal e de combate às fraudes na comercialização de produtos florestais. O Ibama afirmou que as ações contribuem para reduzir ilícitos ambientais e melhorar o controle sobre a cadeia produtiva da madeira no país.
Na COP30, em Belém, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, retomou a trajetória de Chico Mendes para explicar por que a pauta ambiental brasileira nasce na Amazônia e entre povos da floresta. Ao inaugurar o Espaço Chico Mendes, no Museu Emílio Goeldi, Marina relembrou sua última conversa com o seringueiro, assassinado em Xapuri em 1988. Ela contou que Chico decidiu continuar denunciando crimes ambientais mesmo sabendo do risco. “Sempre que eu denuncio, eles acham que faço isso pra me promover. Eles vão ver quando me matarem”, relatou a ministra, emocionada.
Marina disse que Chico Mendes entenderia o sentido de ver seu nome associado a uma conferência global. Segundo ela, o seringueiro via a defesa da floresta como uma defesa de direitos e de democracia. A ministra também revelou que ele tinha um objetivo político que não chegou a testemunhar. “O Chico Mendes não teve o prazer, infelizmente, de ver o presidente Lula, como presidente da República, que era um dos sonhos dele”, afirmou. Marina lembrou que Chico ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores e atuou na organização sindical e comunitária da Amazônia.
Horas depois, Lula citou Chico Mendes ao lançar o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre, mecanismo internacional que prevê remuneração por área preservada, com possibilidade de repasse de até quatro dólares por hectare. O presidente anunciou que parte dos recursos poderá ser destinada diretamente a povos indígenas e comunidades locais. Para explicar por que a floresta precisa ter valor econômico sem ser destruída, Lula retomou uma frase escrita por Chico em 1988: “No começo pensei que estava lutando para salvar as seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a floresta amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidadeʼ”.
Ao conectar memória e decisão política, Marina e Lula tratam Chico Mendes não como símbolo, mas como ponto de partida. O que ele sustentava, floresta em pé com garantia de direitos para quem vive nela, aparece agora como diretriz de políticas globais de financiamento climático. Na COP30, a presença de Chico Mendes ultrapassa a homenagem: sua luta continua como base de escolhas que podem alterar o futuro da Amazônia.
Na abertura da AgriZone da COP30, realizada nesta segunda-feira (10), o Sebrae defendeu que a transição climática dependa das ações desenvolvidas nos municípios, propriedades rurais e pequenos negócios. O posicionamento foi apresentado pelo diretor técnico do Sebrae Nacional, Bruno Quick, durante o lançamento do espaço dedicado à agricultura de baixo carbono, organizado em parceria com Embrapa, Senar e CNA. Segundo Quick, o avanço das metas ambientais do Brasil passa pela inclusão produtiva e pela adaptação das políticas ao contexto local. “É no município, na propriedade e na microempresa que a agenda climática deixa de ser promessa e vira resultado. O Brasil pode ser referência mundial, desde que ninguém fique de fora”, afirmou o diretor ao defender que a transição climática esteja associada à transição produtiva.
A AgriZone reúne lideranças do setor agrícola para discutir caminhos que permitam alinhar produção e redução de emissões. A presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, destacou que a COP30 se torna uma vitrine para demonstrar como o país concilia produção e conservação ambiental. “Esta é a oportunidade de mostrar como o Brasil consegue produzir e preservar ao mesmo tempo”, disse durante a abertura do espaço. Representantes do setor agropecuário também consideraram o espaço um marco. Muni Lourenço, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Amazonas, afirmou que, “em 30 COPs, é a primeira vez que a agricultura ganha um espaço dedicado”.
O estande do Sebrae na AgriZone apresenta iniciativas ligadas à bioeconomia, com produtos e projetos de diferentes regiões do país. Entre os destaques está a Loja Brasil Biomarket, que reúne itens desenvolvidos por pequenos negócios, e uma instalação que replica parte do Viveiro Ardosa Florestal, com sementes e mudas de espécies nativas usadas em ações de recuperação florestal. A experiência permite que visitantes conheçam frutas, folhas e sementes da Amazônia, como açaí, jatobá, andiroba e castanha-da-amazônia.
Ao longo do evento, o Sebrae também apresenta programas voltados para a agricultura familiar, bioeconomia e indicação geográfica, conectando empreendedores, investidores e lideranças. A presença do Sebrae na COP30 inclui um estande de 400 m² na Green Zone, com auditório, loja colaborativa e exibição de conteúdos audiovisuais, além de uma área externa chamada Zona do Empreendedorismo, no Parque Belém Porto Futuro. Segundo Bruno Quick, “a bioeconomia é uma produção inspirada na natureza. É isso que trouxemos para a COP30”.
A programação segue até 21 de novembro, com debates, degustações e atividades culturais voltadas a mostrar que o desenvolvimento da economia de baixo carbono deve considerar as características produtivas de cada território. O objetivo é conectar políticas climáticas a práticas locais capazes de gerar renda e oportunidades.