A vice-governadora do Acre, Mailza Assis, abriu nesta segunda-feira, 17 de novembro, o painel “Soluções Climáticas Naturais na Califórnia e no Brasil: Construindo Pontes Entre Metas e Implementação”, realizado durante a COP30, no Pavilhão The Climate Registry, na Zona Azul, em Belém (PA). O evento foi promovido pela Força-Tarefa pelo Clima e as Florestas (GCF Task Force) e reuniu lideranças do Acre e da Califórnia, nos Estados Unidos, para debater avanços nas políticas ambientais e nos mecanismos de economia verde.
Mailza destacou o caráter estratégico da parceria entre o Acre e a Califórnia, consolidada ao longo de mais de uma década. “A relação entre o Acre e a Califórnia é uma história construída com respeito, cooperação técnica e visão compartilhada de que é possível conciliar conservação com desenvolvimento”, afirmou. O marco inicial da cooperação foi firmado em 2010, quando Acre, Califórnia e o estado mexicano de Chiapas assinaram um Memorando de Entendimento (MOU) voltado à mitigação climática. O acordo tornou-se referência internacional por integrar florestas tropicais aos sistemas mais avançados de combate às mudanças climáticas.
O Acre passou a se destacar globalmente com o Sistema de Incentivo a Serviços Ambientais (Sisa), um modelo de políticas públicas que reconhece e valoriza os serviços ambientais prestados pelas populações da floresta. “O Sisa é pioneiro e entrega resultados reais para o meio ambiente, para a economia florestal e, principalmente, para as pessoas que vivem e protegem a Amazônia”, ressaltou Mailza durante sua participação.
O painel também abordou o protagonismo dos povos indígenas. A secretária dos Povos Indígenas do Acre, Francisca Arara, destacou a importância da parceria com a Califórnia para garantir que os programas de redução de emissões sejam construídos com as comunidades. “O nosso estado tem essa cultura de não fazer para os povos, mas com as comunidades indígenas. O Redd+ é uma oportunidade porque resguarda os territórios, amplia recursos, fortalece a segurança alimentar e valoriza nossa cultura. Temos um Acre com carbono de alta integridade, e essa parceria com a Califórnia deve continuar”, afirmou.
Do lado norte-americano, o interesse na cooperação está ligado à agenda de descarbonização. A Califórnia opera um dos sistemas de comércio de emissões mais rígidos do mundo, o “cap-and-trade”, e busca neutralizar suas emissões até 2045. Nesse contexto, o Acre é visto como potencial fornecedor de créditos de carbono florestal com integridade socioambiental reconhecida. A secretária do Departamento de Alimentos e Agricultura da Califórnia, Karen Ross, reforçou a importância do intercâmbio. “Precisamos de solos bons e práticas sustentáveis. O Brasil é um líder em segurança alimentar, e nós estamos ansiosos em fazer essas parcerias através do Acre. Temos muito a entregar, mas também muito a aprender”, declarou.
A cooperação inclui intercâmbio científico, estudos sobre REDD+, análises de viabilidade para inserção de créditos amazônicos no mercado regulado da Califórnia e fortalecimento das salvaguardas socioambientais. O painel contou ainda com a presença da secretária de Assuntos Tribais da Califórnia, Christina Snider-Ashtari, do secretário de Desenvolvimento Ambiental de Rondônia, Marco Lago, e do secretário dos Povos Indígenas do Pará, Puyr Tembé, reforçando o caráter integrado das discussões sobre clima e desenvolvimento sustentável na Amazônia.