O Ministério Público Federal (MPF) encaminhou recomendação ao governo do Acre para que, no prazo de 90 dias, seja criada e colocada em funcionamento a Comissão Estadual de Memória e Verdade. A iniciativa busca apurar e esclarecer violações de direitos humanos cometidas no estado durante o período da ditadura militar (1964-1985).
Segundo o procurador da República Lucas Costa Almeida Dias, responsável pela recomendação, o Acre foi cenário de perseguições políticas e repressão a movimentos sociais durante o regime militar, incluindo a renúncia forçada do primeiro governador eleito do estado, José Augusto Araújo, e o assassinato do líder sindical Wilson Pinheiro, em Brasiléia. O caso de Pinheiro foi reconhecido pela Comissão Nacional da Verdade como ação de agentes do Estado brasileiro.
A recomendação do MPF destaca que, embora a Comissão Nacional da Verdade tenha encerrado suas atividades, suas 29 recomendações continuam válidas como orientações para políticas públicas. O documento menciona a criação de comissões similares em universidades federais e estaduais, e a retomada da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos em 2024.
O MPF sugere que os objetivos da nova comissão no Acre incluam:
- reconhecimento e esclarecimento dos fatos relacionados a violações de direitos humanos;
- identificação de estruturas e instituições envolvidas nas violações;
- proposição de políticas públicas que assegurem a não-repetição dessas violações;
- promoção de políticas de memória voltadas às vítimas.
A Comissão também deve promover audiência pública com participação de vítimas, familiares, docentes da Universidade Federal do Acre, historiadores, autoridades e representantes da sociedade civil. A composição deverá ser plural, com a presença de familiares de vítimas e instituições comprometidas com os direitos humanos.
Entre os órgãos recomendados para integrar a Comissão estão: Ministério Público Federal e Estadual, Arquivos Públicos Estadual e Nacional, Comissão de Anistia, Universidade Federal do Acre, Instituto Federal do Acre, e secretarias estaduais de Assistência Social, Direitos Humanos e de Justiça e Segurança Pública.
O governo do estado tem 30 dias para informar se acatará a recomendação e detalhar as ações que serão adotadas. Em caso de negativa, o MPF pode adotar medidas judiciais cabíveis.