A Coordenadoria da Infância e Juventude (CIJ) do Tribunal de Justiça do Acre (TJAC) realizou nesta sexta-feira, 23, um evento na Escola do Poder Judiciário (Esjud) em alusão ao Dia Nacional da Adoção, celebrado em 25 de maio. A programação incluiu relatos de famílias que vivenciaram processos de adoção, apresentações culturais e orientações sobre os procedimentos legais.
Entre os depoimentos, destacou-se o de Marluce Feitosa, que adotou um casal de gêmeos, Daniele e Daniel, após anos de trabalho no Educandário. Marluce relatou que o acolhimento das crianças foi determinante para enfrentar uma enfermidade grave: “Eu não tinha nem na mente de adotar crianças e foi uma bênção na minha vida as duas crianças. Logo quando eu adotei os dois, eu caí numa enfermidade e foi por ter eles dois que eu tive forças. Eu dizia pra mim mesma que eu tinha duas crianças e não podia abandonar”.
O evento foi aberto com a apresentação do Coral Vozes do Povo e do Coral Filhos da Esperança, composto por cinco crianças acolhidas no Educandário Santa Margarida, sob a regência de Bruno Oliveira.
O juiz Jorge Lima, que responde pela 2ª Vara da Infância e Juventude, reforçou a importância da campanha: “Que essa campanha ajude a aumentar a procura e essa realidade de transformação seja realidade para mais famílias acreanas”.
A coordenadora do Educandário Santa Margarida, Edna Moreira, destacou os desafios enfrentados pelas crianças acolhidas: “Nas condições que chegam, muitos não conseguem olhar nos olhos, falam pouco, estão tristes. Então, é possível ver o processo de construção do ser humano”.
O presidente do Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente, Hélio Curi, enfatizou que a adoção oportuniza a substituição da violência e do abandono por amor: “Essa manhã foi muito simbólica, porque ouvir as famílias adotantes e conhecer as histórias é renovador. Esses exemplos demonstram a importância de realizar a adoção de forma legal”.
O defensor público Rodrigo Pacheco ressaltou a atuação do núcleo técnico das Varas da Infância e Juventude e explicou a importância dos pareceres técnicos e estudos psicossociais: “As visitas domiciliares trazem uma visão qualificada para os autos – um trabalho que garante o melhor interesse da criança”.
Durante o evento, o corregedor-geral da Justiça compartilhou uma experiência pessoal de adoção em sua família: “Na minha família, nós também temos um irmão adotado. Minha mãe resolveu adotar o afilhado – o Joãozinho, que ela era madrinha”.
A vice-presidente do TJAC e coordenadora da Infância e Juventude, desembargadora Regina Ferrari, reforçou o convite para o programa “Família Acolhedora” e destacou a responsabilidade compartilhada entre instituições e sociedade: “Cada processo que tramita em nossas mãos representa sonhos e colaboram para o nosso propósito aqui”.
A campanha deste ano, promovida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), teve como foco a adoção tardia, com o slogan “Adotar é amor – Um lar que nasce do coração”. De acordo com o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), no Brasil há 34.523 crianças e adolescentes em acolhimento, sendo que 5.286 estão disponíveis para adoção. No Acre, há 127 crianças e adolescentes em acolhimento, das quais 13 estão disponíveis para adoção.
Outro relato marcante foi o de Cleísa Brasil e Cleiver Lima, que compartilharam os desafios da maternidade e paternidade atípica com as filhas Vitória e Maria Clara. Vitória, de 14 anos, possui limitação na fala decorrente da síndrome alcoólica fetal. “Ela não fala, mas sempre diz que nos ama, no jeito dela de dizer”, relatou a mãe.
O servidor do TJAC, Evandro Luzia, também falou sobre sua experiência com adoção tardia e monoparental: “Eu nunca me vi jogando vôlei todo fim de semana. Nunca me vi em um barranco pescando. Mas agora eu me vejo em todas essas situações e ainda tenho que acompanhar o fôlego de um adolescente de 15 anos de idade”.