Um estudo da organização Todos pela Educação apontou que renda e cor seguem determinando as chances de jovens concluírem o ensino médio no Brasil, segundo levantamento divulgado em 18 de novembro de 2025. A pesquisa utilizou dados da Pnad Contínua e do módulo Educação do IBGE para comparar os indicadores de 2015 e 2025 e explicar por que, apesar dos avanços registrados na última década, a desigualdade permanece como fator central para a conclusão dos estudos.
O estudo mostra que houve aumento na proporção de estudantes que concluíram o ensino fundamental e o ensino médio na idade adequada. No ensino fundamental, a taxa passou de 74,7% em 2015 para 88,6% em 2025. No ensino médio, o índice subiu de 54,5% para 74,3% no mesmo período. A gerente de Políticas Educacionais do Todos pela Educação, Manoela Miranda, explicou que o avanço pode estar relacionado a mudanças pedagógicas e à ampliação do acesso à escola. “Houve melhorias no ensino ao longo da última década, políticas importantes, pedagógicas, na base de formação de professores”, afirmou. Ela também destacou que aprovações ocorridas durante a pandemia podem ter reduzido a distorção idade-série e impactado os números.
Mesmo com os avanços, a renda continua sendo o fator mais determinante. A diferença entre os 20% mais pobres e os 20% mais ricos caiu de 49,1 pontos percentuais em 2015 para 33,8 pontos em 2025, mas segue representando um desnível significativo. Enquanto 94,2% dos jovens mais ricos concluíram o ensino médio, entre os mais pobres o índice chegou a 60,4%. O estudo estima que, mantido o ritmo atual, jovens das famílias mais pobres só alcançarão as taxas de conclusão dos mais ricos em mais de duas décadas.
A análise racial também mostra disparidades. Em 2025, 81,7% dos estudantes brancos e amarelos concluíram o ensino médio na idade correta, enquanto entre pretos, pardos e indígenas a taxa foi de 69,5%. A desigualdade aparece inclusive entre os mais pobres: entre os homens PPIs, a taxa de conclusão é de 78,6%, enquanto jovens pobres não-PPI alcançam 86%. Entre as meninas, jovens PPIs mais pobres registram 86,5% de conclusão, ligeiramente acima das brancas e orientais, com 85,5%.
As diferenças regionais seguem relevantes. O estudo aponta que Norte e Nordeste tiveram as maiores evoluções na década. No Norte, a taxa de conclusão passou de 43,4% para 69,1%. No Nordeste, subiu de 46,3% para 69,3%. Apesar do avanço, ambas permanecem abaixo das regiões Sudeste (79,6%), Centro-Oeste (75,4%) e Sul (73,6%). Para Manoela, políticas específicas são essenciais para enfrentar essas desigualdades. “É muito importante olhar para políticas que possam avançar nesse sentido e, intencionalmente, para as desigualdades, olhando para as particularidades, principalmente no Norte e Nordeste”, avaliou.
Os resultados reforçam a necessidade de ações voltadas à permanência dos estudantes, como programas de renda, estratégias de recomposição das aprendizagens e ampliação do ensino integral. Manoela afirma que cada estado deve identificar as causas locais da evasão para formular políticas adequadas. “É muito importante que cada estado tenha um bom diagnóstico e entenda os maiores motivos e as causas desse abandono”, disse.
Fonte e foto: Agência Brasil