O Brasil registrou em 2024 a primeira alta no número de trabalhadores sindicalizados após mais de dez anos de queda, segundo edição especial da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, divulgada nesta quarta-feira (19) pelo IBGE. O levantamento mostra que 812 mil pessoas passaram a integrar sindicatos ao longo do ano, totalizando 9,1 milhões de filiados, o equivalente a 8,9% dos 101,3 milhões de ocupados no país.
A pesquisa aponta que, mesmo com o crescimento registrado em 2024, o contingente ainda se mantém distante do patamar de 2012, quando o país tinha 14,4 milhões de sindicalizados, o equivalente a 16,1% dos trabalhadores. A trajetória descendente, segundo o analista do IBGE William Kratochwill, ganhou intensidade a partir de 2017, ano de aprovação da reforma trabalhista, que encerrou a contribuição sindical obrigatória. Para ele, os dados indicam relação entre a mudança na lei e a redução do percentual de pessoas associadas. “Os dados mostram uma correlação forte entre a implantação da lei e a queda do percentual de pessoas sindicalizadas”, afirmou. Ele avalia que o crescimento recente pode refletir a retomada da percepção sobre a importância da organização coletiva. “Talvez seja uma recuperação daquelas pessoas que um dia já tenham sido sindicalizadas e retornaram”, disse.
O levantamento também detalha o perfil dos novos filiados. De cada dez trabalhadores que se sindicalizaram em 2024, oito tinham 30 anos ou mais. O grupo entre 40 e 49 anos representou 32% do saldo anual. Entre jovens de 14 a 19 anos, a participação foi de 0,7%. A taxa de sindicalização nessa faixa etária ficou em 1,6%, abaixo da média nacional. Entre trabalhadores de 20 a 29 anos, o índice foi de 5,1%.
Os dados mostram ainda que três em cada dez sindicalizados atuam em administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais, setor que concentra 30,9% dos filiados. A taxa de associação nesse grupamento chegou a 15,5%, a maior entre as dez categorias analisadas. Em seguida aparecem agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (14,8%) e indústria geral (11,4%). No comércio, a taxa ficou em 5,6%, e em serviços domésticos, em 2,6%. Kratochwill destacou que o setor público historicamente apresenta maior participação nos sindicatos, observando que “quem entra para o setor público acaba tendo uma tendência maior de se sindicalizar”.
A pesquisa aponta relação entre escolaridade e filiação sindical. Entre trabalhadores com ensino superior completo, a taxa chegou a 14,2%. Entre aqueles com ensino médio completo e superior incompleto, o índice ficou em 7,7%. Já entre trabalhadores com fundamental completo e médio incompleto, a taxa foi de 5,7%. Segundo o analista, o nível de instrução pode influenciar a decisão de filiação. “O esclarecimento que se dá por meio do nível de instrução pode favorecer movimentos no sindicalismo”, afirmou.
O levantamento também registra diferenças entre tipos de vínculo. Entre empregados do setor público, a taxa de sindicalização foi de 18,9%. Já entre trabalhadores com carteira assinada no setor privado, o índice foi de 11,2%. No grupo dos trabalhadores por conta própria, apenas 5,1% eram filiados, enquanto entre os sem carteira assinada a taxa foi de 3,8%. O estudo mostra que houve redução no número de empregadores ou trabalhadores por conta própria associados a cooperativas. Em 2012, 1,5 milhão de pessoas estavam cooperadas, representando 6,3% dos ocupados. Em 2024, o número caiu para 1,3 milhão, o menor da série histórica, o equivalente a 4,3%. Para Kratochwill, trabalhadores informais ainda enfrentam limitações no acesso a proteção social e instrumentos coletivos de negociação. “Além de não ter todos os seus benefícios sociais, a segurança social, o trabalhador informal ainda carece de um meio de luta pelas melhorias do mercado de trabalho”, afirmou.
A diferença entre homens e mulheres no universo sindical também diminuiu. Em 2012, eles representavam 61,3% dos sindicalizados e elas, 38,7%. Em 2024, a relação passou para 57,6% e 42,4%, respectivamente. A taxa de associação entre homens ficou em 9,1% e entre mulheres, em 8,7%. A queda proporcional maior entre homens ao longo da série explica a aproximação entre os dois grupos. Entre 2022 e 2024, a participação feminina chegou a superar a masculina, segundo o IBGE.
A edição especial da Pnad Contínua, que não teve coleta em 2020 e 2021 por causa da pandemia, atualiza a tendência da sindicalização no país e aponta mudanças no comportamento de diferentes grupos de trabalhadores diante das transformações legais e do mercado de trabalho. Os dados indicam retomada após um período prolongado de redução e oferecem um diagnóstico sobre setores, perfis e vínculos mais presentes na organização coletiva do trabalho no Brasil.
Fonte e Foto: Agência Brasil