O acesso à internet por crianças e adolescentes em escolas brasileiras teve queda significativa em 2025, segundo o estudo TIC Kids Online Brasil, divulgado nesta quarta-feira (22) pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). O levantamento mostra que a proporção de estudantes de 9 a 17 anos que usam a internet na escola caiu de 51% em 2024 para 37% neste ano.
De acordo com Luísa Adib, coordenadora da pesquisa, a redução está relacionada à lei que restringe o uso de celulares em escolas, aprovada no início do ano. “A gente começou a coleta da pesquisa em março, quando a medida de restrição de celular nas escolas já tinha sido implementada. Então, a gente pode ver uma relação entre a restrição do celular e a queda do acesso à internet na escola”, explicou. Ela acrescenta que o debate público sobre a proteção de crianças e adolescentes no ambiente digital também contribui para mudanças de comportamento e políticas mais restritivas dentro das instituições de ensino.
Embora o uso nas escolas tenha diminuído, o estudo indica estabilidade no número total de crianças e adolescentes com acesso à internet no país. Em 2025, 92% desse público afirmou usar a rede, resultado próximo aos 93% de 2024 e 95% de 2023, o que representa 24,6 milhões de usuários na faixa etária entre 9 e 17 anos. A principal forma de acesso continua sendo o celular, utilizado por 96% dos entrevistados, seguido por televisão (74%), computador (30%) e videogame (16%).
A pesquisa identificou ainda que 84% dos jovens acessam a internet de casa, enquanto apenas 12% o fazem na escola várias vezes ao dia. As atividades mais comuns incluem pesquisas escolares, realizadas por 81% dos usuários, seguidas por buscas sobre temas de interesse (70%), leitura de notícias (48%) e consultas sobre saúde (31%).
O levantamento também apontou aumento no número de crianças e adolescentes que nunca acessaram a internet. O grupo passou de 492 mil em 2024 para 710 mil em 2025. Ao mesmo tempo, 46% dos entrevistados afirmaram assistir frequentemente a vídeos produzidos por influenciadores digitais. “A gente queria entender que tipo de vídeo é esse, e a maior proporção está relacionada à divulgação de produtos, lojas e jogos de apostas”, afirmou Adib.
A pesquisadora destacou a necessidade de mediação ativa dos pais no uso da internet. “A gente sabe, pela pesquisa, que a mediação ativa é mais eficiente. Quando há diálogo e acompanhamento das práticas da criança, isso tende a ter resultados mais efetivos”, disse. Ela também ressaltou a importância de que as plataformas cumpram responsabilidades previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente Digital, voltado à proteção no ambiente virtual.
O estudo ouviu 2.370 crianças e adolescentes e o mesmo número de pais ou responsáveis em todas as regiões do país, entre março e setembro de 2025. Realizada anualmente desde 2012, a pesquisa foi interrompida apenas em 2020, devido à pandemia de covid-19.