O cenário das eleições de 2026 no Acre se desenha com a intensidade típica de um estado em que a política ainda se confunde com afetos, rivalidades e lealdades passageiras. Mas há algo de novo, e necessário, surgindo no debate: a percepção de que, desta vez, não será o rótulo ideológico que definirá o rumo do eleitorado, e sim quem demonstrar preparo, coerência e capacidade real de governar.
O que está em jogo
O debate sobre quem será o próximo governador não deve se limitar à dicotomia fácil de “direita” e “esquerda”. Isso seria reduzir a complexidade do momento acreano a um conflito que pouco diz sobre a realidade local. O que está em jogo é quem reúne as melhores condições, políticas, morais e administrativas, para conduzir o Acre pelos próximos quatro anos.
O eleitor, mais atento e mais exigente, já percebeu que slogans ideológicos não resolvem buracos nas ruas, não melhoram escolas e não fortalecem a economia. O Acre precisa de um líder que saiba negociar sem corromper, decidir sem atropelar e governar sem dividir.
Entre os nomes que se movimentam no tabuleiro político de 2026, Alan Rick, Tião Bocalom, Mailza Assis e Dr. Thor representam caminhos distintos, e cada um deles carrega uma leitura própria do que o Acre precisa ser nos próximos anos.
O senador Alan Rick, hoje o nome mais bem posicionado nas pesquisas, aparece como uma figura capaz de dialogar tanto com a base bolsonarista quanto com o eleitor moderado. Seu discurso mistura fé, firmeza e pragmatismo, uma combinação que tem agradado ao eleitor acreano que lhe deu um mandato em um cenário de polarização. A dúvida que paira é: será que o eleitor ainda quer repetir essa fórmula? Ou espera algo novo, menos vinculado à lógica nacional e mais conectado às demandas locais?
Tião Bocalom, prefeito de Rio Branco, conserva um capital político importante. Mesmo não liderando as pesquisas, carrega a força de quem fala diretamente com o povo e mantém uma base fiel, especialmente entre os eleitores que enxergam nele alguém “fora do sistema”. Seu desafio, contudo, é converter a popularidade em ‘fator de articulação política’, mostrar que consegue transitar além de sua bolha política, estabelecer pontes e dialogar com quem pensa diferente.
Dr. Thor, surge como um nome novo, menos contaminado pelos embates partidários. Ainda sem grande estrutura, representa a aposta no discurso da eficiência e da gestão moderna, uma narrativa que pode ganhar força se o eleitor acreano apresentar o desejo por renovação e pragmatismo. Por ora, esse sentimento ainda parece distante, mas não impossível.
Entre todos os nomes, Mailza Assis vive o desafio mais delicado. Vice-governadora e possível herdeira natural do projeto de Gladson Cameli, ela pode assumir o governo caso o titular realmente decida concorrer ao Senado. Nesse cenário, terá pouco tempo, ou quase nenhum, para mostrar a que veio. Precisará, antes de tudo, montar uma equipe capaz de ampliar seu olhar político, combinando a experiência de quem conhece profundamente o Acre com a sensibilidade de quem enxerga o estado “de fora”, com novas perspectivas. Parte desse desafio passa também por estruturar uma equipe de comunicação e marketing estratégica, que una essas duas dimensões, a técnica e a humana, para traduzir seu estilo da escuta em uma narrativa que chegue ao povo acreano.
Sua maior virtude, a capacidade de articular com serenidade e manter o diálogo mesmo entre adversários, pode ser também seu maior obstáculo. Diálogo requer tempo, e tempo é justamente o que ela talvez não tenha. Ainda assim, como me disse recentemente um marqueteiro experiente, “Mailza simboliza um tipo de política que o Acre precisa aprender a valorizar, a política da escuta, do consenso, da maturidade emocional.”
Ouvi também de um renomado jornalista e escritor, com boa circulação nos bastidores do governo, que “num ambiente de vaidades inflamadas e discursos de confronto, a vice-governadora tem se mantido fiel à ideia de construção coletiva.” Mesmo que não consiga consolidar uma candidatura competitiva, Mailza pode sair do processo com algo ainda mais relevante: o respeito de quem enxerga na política um instrumento de serviço, e não de sobrevivência.
Mais do que uma disputa de nomes, o que o Acre presencia é um teste de maturidade coletiva. O estado precisa de líderes que compreendam que governar não é sobre ter razão, mas sobre unir forças, ouvir e construir caminhos sustentáveis. Seja qual for o campo político, de esquerda ou de direita, o desafio é demonstrar que o Acre pode ser conduzido com equilíbrio, competência e visão de futuro.
Bocalom, Alan Rick, Mailza e Dr. Thor terão de provar, cada um a seu modo, que compreenderam a essência da boa política: maturidade, coerência e preparo. O Acre já experimentou avanços e tropeços. Depois de anos marcados por boas intenções, mas também por decisões apressadas, ou pela falta delas e muita omissão, o estado precisa de um novo padrão de liderança, menos voltado à retórica e mais comprometido com resultados concretos. O ano de 2026 representa a oportunidade de transformar experiência em aprendizado.