O bioma Amazônia perdeu 52 milhões de hectares de vegetação nativa entre 1985 e 2024 e, no mesmo dia em que os dados foram divulgados, o Ministério do Meio Ambiente e o Inpe anunciaram o Deter Não Floresta, sistema de monitoramento diário que amplia a vigilância para áreas não florestais; a iniciativa busca acelerar a resposta de fiscalização na região.
A análise do MapBiomas indica que a conversão de vegetação nativa corresponde a 13% do território do bioma e que, somado ao que já havia sido alterado, a Amazônia tinha 18,7% de vegetação nativa perdida em 2024. Pastagens passaram de 12,3 milhões para 56,1 milhões de hectares no período, enquanto a agricultura saltou de 180 mil para 7,9 milhões de hectares. A silvicultura cresceu 110 vezes, de 3,2 mil para 352 mil hectares, e a mineração avançou de 26 mil para 444 mil hectares. Segundo os pesquisadores, 83% da supressão ocorreu nos últimos 40 anos, com maior impacto sobre formações florestais, que somaram 49,1 milhões de hectares do total removido.
A soja responde por 74,4% da área agrícola do bioma, com 5,9 milhões de hectares em 2024. Após a Moratória da Soja, 4,3 milhões de hectares passaram a ser usados pela cultura, sendo que 3,8 milhões cresceram sobre áreas já convertidas; a conversão direta de formação florestal para soja foi de 769 mil hectares no período 2008–2024. “A Amazônia brasileira está se aproximando da faixa de 20% a 25% prevista pela ciência como o possível ponto de não retorno do bioma, a partir do qual a floresta não consegue mais se sustentar”, disse o pesquisador Bruno Ferreira. Ele acrescentou que as áreas úmidas apresentam retração, com 2,6 milhões de hectares a menos de superfícies de água entre 1985 e 2024.
No mesmo contexto, o MMA e o Inpe lançaram o Deter Não Floresta (Deter NF), que amplia o monitoramento diário para campos naturais, savanas e zonas de transição, cerca de 20% do bioma. Os alertas são públicos e gratuitos na plataforma TerraBrasilis. “Estamos fechando uma lacuna crítica no monitoramento. Onde antes tínhamos um vazio de informação diária, agora temos transparência e agilidade. Isso democratiza o acesso à informação e fortalece imensamente a ação do Estado”, afirmou André Lima, secretário extraordinário do MMA. O Inpe informou que o sistema usa imagens de satélite e técnicas de aprendizado de máquina e que a meta é expandir para outros biomas. “Aplicamos técnicas avançadas de processamento de imagens com o uso de métodos de aprendizagem por máquina para criar um sistema robusto e confiável”, disse Cláudio Almeida, coordenador do BiomasBR.
Dados recentes do Deter apontam queda de 36,6% nos alertas de desmatamento na Amazônia Florestal em agosto, na comparação anual, e aumento de 8% nas áreas não florestais; no Cerrado, a redução foi de 27,3% e, no Pantanal, de 16,8%. O governo cita ainda ações de coordenação, como a Comissão Interministerial de Prevenção e Controle do Desmatamento, investimentos para fiscalização com drones e helicópteros e apoio do Fundo Amazônia, com a meta de zerar o desmatamento ilegal até 2030. “Já podemos perceber alguns dos impactos dessa perda de cobertura florestal”, disse Ferreira, ao apontar a intensificação de anos secos na última década.
O estudo registra que 2% do remanescente verde da Amazônia corresponde a vegetação secundária em regeneração, cerca de 6,9 milhões de hectares, e que 88% do desmatamento de 2024 recaiu sobre vegetação primária e 12% sobre áreas em regeneração. As informações sustentam medidas de controle e ordenamento territorial e serão usadas pelos órgãos de fiscalização para orientar operações contra desmatamento, expansão irregular de fronteiras agrícolas e garimpo ilegal.