A prefeitura de Cruzeiro do Sul está implementando a coleta seletiva e uma campanha educativa no Rio Croa, considerado uma das áreas ambientais mais bonitas do Acre. Com suas belezas naturais, como água e floresta em abundância, o local recebe milhares de turistas anualmente.
Para fortalecer a preservação do meio ambiente e promover a sustentabilidade, a prefeitura distribuiu 22 kits de coleta seletiva para os moradores da região. Os kits incluem recipientes para a separação adequada de lixo e materiais recicláveis, como plástico, papel e vidro.
Os materiais dos kits foram confeccionados com doações de fitas de arquear, do correios e lojas de materiais de construção, enquanto os tambores foram doados pela empresa Energisa do Acre. Todo o trabalho de higienização e montagem dos equipamentos foi realizado no galpão de limpeza pública, pela equipe da secretaria municipal do Meio Ambiente.
O prefeito Zequinha Lima ressaltou a importância desses investimentos para melhorar a qualidade de vida dos moradores e proporcionar uma boa impressão aos visitantes. Ele enfatizou a necessidade de cuidar da natureza, já que o turismo na região movimenta a economia local.
Aqui é um local onde só no mês de janeiro recebeu 3.500 pessoas para visitar a região do Croa – Foto/Assessoria
“A gente precisa cuidar disso junto com os moradores, a gente precisa fazer investimentos. Hoje nós estamos aqui implantando essa coleta seletiva, mas já foi oferecido cursos, instalamos três sistemas de tratamento de água, que é o Salta Z, aqui na comunidade. A saúde está sempre presente, quanto mais a gente se aproxima da comunidade, mais se resolve e minimiza os problemas da comunidade.” Prefeito Zequinha Lima
Além da coleta seletiva, a comunidade do Croa já recebeu cursos e ações de tratamento de água para promover a saúde e o bem-estar dos moradores.
Dona Francisca Barros, conhecida por Dona Chaguinha reconhece os investimentos e sabe da importante participação da comunidade para que tudo funcione. “É ótimo, é maravilhoso, porque agora a gente está tendo mais apoio em relação às autoridades, para a gente se conscientizar mais e cada vez mais a gente fazer a nossa parte. Eu parabenizo o prefeito, o povo do meio ambiente que estão colaborando para esse bem para a comunidade.” – Dona Chaguinha
O Rio Croa é considerado o cartão postal de Cruzeiro do Sul e vem ganhando destaque nacional e internacional. A beleza natural do local atrai turistas de diversas partes do mundo, que buscam apreciar a natureza exuberante e realizar atividades como passeios de canoa e visitas à famosa Samaúma.
A preservação do meio ambiente é fundamental para impulsionar o turismo e atrair mais visitantes, fortalecendo a economia local. A região do Croa possui uma riqueza natural incomparável, e é responsabilidade de todos preservar, cuidar e valorizar esse patrimônio único.
Durante a abertura da Expoacre Juruá 2025, realizada no dia 1º de julho em Cruzeiro do Sul, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Acre (FAEAC), Assuero Veronez, destacou que a carne bovina se tornou o principal produto da pauta de exportações do estado. Segundo ele, essa mudança representa um avanço na economia rural da região, especialmente no Vale do Juruá.
“A pauta de exportação do Acre tinha a madeira e a castanha como principais produtos e agora é a carne”, afirmou Veronez. Ele também ressaltou a importância da tecnologia e da qualificação técnica para sustentar o crescimento do setor, enfatizando que o mercado exige “qualidade e produção em escala”.
Veronez defendeu a adoção de políticas públicas e melhorias estruturais, como a regularização fundiária, que considera um entrave histórico. “A falta de regularização fundiária impede o acesso ao crédito, dificulta investimentos e trava o crescimento da produção”, disse.
No entanto, enquanto o setor comemora o avanço nas exportações, especialistas chamam atenção para os impactos ambientais associados à expansão da pecuária. Em entrevista publicada em 4 de julho, o pesquisador Evandro José, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), apontou a pecuária como principal responsável por impactos negativos nas margens do Rio Acre, especialmente no trecho do Juruá.
Segundo o pesquisador, fazendas estariam promovendo desmatamento e captação irregular de água ao longo do rio. “Está na cara que é um exagero. […] Fazendas ao longo do rio, a cada vez que têm desmatado a floresta, também estão captando, ilegalmente, a água que deve vir para o rio”, afirmou. Ele defende que estudos técnicos com uso de geotecnologias podem comprovar os danos causados ao equilíbrio hídrico da região.
Evandro destacou ainda que, ao contrário da agricultura familiar, que opera com métodos menos intensivos, a pecuária demanda maior uso de recursos naturais e apresenta maior impacto ambiental. “É mais a pecuária, né, do que a agrícola”, afirmou.
Os dados e as falas mostram um cenário de contradição entre o avanço econômico do setor pecuarista e os desafios ambientais que ele impõe à região. Enquanto produtores defendem maior apoio público e infraestrutura para expandir a atividade, pesquisadores alertam para a necessidade de regulação e fiscalização ambiental para evitar o comprometimento dos ecossistemas locais.
Durante o Seminário Internacional TXAI Amazônia, realizado em Rio Branco entre os dias 25 e 28 de junho, a gestora ambiental Magaly Medeiros compartilhou sua visão sobre os caminhos da bioeconomia e o papel estratégico do Acre nas políticas públicas para a floresta em pé. Com longa trajetória no setor ambiental do Estado, Magaly atuou diretamente na construção e implementação do Sistema de Incentivos a Serviços Ambientais (SISA) e do programa REM Acre, hoje referência replicada em outros estados como o Mato Grosso.
Atualmente à frente da Aripua Consultoria Socioambiental, empresa que atua com projetos ligados à sociobiodiversidade, Magaly participou do seminário como convidada e avaliou os debates com foco na valorização dos saberes tradicionais. “A principal mensagem que levo do TXAI é que a bioeconomia precisa ter um olhar atento para os saberes e a ciência dos povos indígenas e das comunidades tradicionais. A floresta em pé não se sustenta sem políticas públicas consistentes”, afirmou.
Para Magaly, o seminário reforçou o protagonismo cultural e político dos povos da floresta. “Mostrou o valor da floresta em pé e evidenciou o protagonismo dos povos do Acre nesse processo”, destacou. Segundo ela, eventos como o TXAI são fundamentais para fomentar o pensamento crítico, especialmente ao criar espaços de escuta e troca entre diferentes visões e experiências: “O seminário propicia um espaço de diálogo para discutir e debater diferentes pontos de vista.”
Ao avaliar a relação entre conservação ambiental e dimensões sociais e culturais, Magaly apontou que o seminário abordou a biodiversidade de forma transversal, com maior ênfase no desenvolvimento da bioeconomia ancorado na ciência e na tecnologia, mas sem deixar de lado os conhecimentos dos jovens e dos povos tradicionais.
Magaly também prestigiou – Apresentação do Projeto Mamgap do povo Zoró apoiado pelo REM MT – Sala Casos de Sucesso / Foto: Cedida
Na entrevista, ela também ressaltou o papel do Estado na formulação de políticas sustentáveis. “O papel do Estado é essencial na construção de soluções sustentáveis. A experiência do REM Acre, por exemplo, foi fundamental para que o Mato Grosso pudesse replicar essa política com o REM MT. Hoje, essa iniciativa está avançando em projetos voltados à autonomia dos povos indígenas e ao fortalecimento das cadeias de valor”, explicou.
O TXAI Amazônia reuniu lideranças indígenas, gestores públicos, pesquisadores e representantes do setor privado para discutir caminhos viáveis para a bioeconomia na Amazônia Legal. Com foco nos saberes tradicionais, inovação e valorização dos territórios, o evento se consolida como espaço estratégico para pensar políticas de desenvolvimento regional baseadas na sociobiodiversidade.
No terceiro dia do Seminário Internacional Txai Amazônia, realizado no espaço e_Amazônia da Universidade Federal do Acre, o painel Uso da terra com sabedoria como base para a gestão territorial de terras protegidas e mitigação às mudanças climáticas propôs um diálogo profundo entre ciência, ancestralidade e política pública. Sob mediação do pesquisador Eufran Amaral (Embrapa), a roda de conversa reuniu o coordenador da Funai Jefferson Fernandes, o antropólogo indígena Daniel Iberê, o professor Valdinar Melo (UFRR) e a ambientalista Julie Messias, para responder a uma questão central: como o uso do território pode ser motor de transformação diante da emergência climática?
Jefferson Fernandes: política indigenista e instrumentos de gestão
Abrindo o painel, Jefferson Fernandes apresentou a estrutura e os desafios enfrentados pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), autarquia vinculada ao Ministério dos Povos Indígenas. Ele explicou que a Funai atua em cinco frentes principais: proteção e promoção dos direitos indígenas, administração do patrimônio indígena, produção de estudos e pesquisas, monitoramento de políticas públicas diferenciadas e fomento ao etnodesenvolvimento. Com a criação do Ministério dos Povos Indígenas, disse Jefferson, os povos originários passaram a ter protagonismo na formulação das políticas que os afetam.
Um dos pontos centrais da fala foi a Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), criada por decreto em 2012 e ainda em luta para ser transformada em lei. A política, segundo ele, é estratégica para assegurar a conservação, a sustentabilidade e o planejamento dos territórios indígenas — não como instrumentos burocráticos, mas como “planos de vida” construídos pelas próprias comunidades, respeitando seus tempos e saberes. Fernandes destacou que, apesar do aumento de recursos em decorrência da ADPF 709 (medida do STF durante a pandemia), o orçamento da Funai segue insuficiente para as múltiplas demandas da Amazônia. “Não há gestão de território sem demarcação. Sem terra garantida, não há política pública eficaz”, alertou.
Daniel Iberê: o mundo que insiste em replantar o mundo
A fala mais simbólica e comovente veio de Daniel Iberê, indígena Mbyá Guarani e antropólogo, que costurou imagens poéticas com críticas contundentes à exclusão dos povos indígenas dos processos de decisão. “Desde que a bota colonial pisou pela primeira vez o nosso solo, começou o nosso desviver”, afirmou. Para Iberê, não é possível falar de sabedoria no uso da terra sem compreender que os territórios são vivos, repletos de espiritualidade, história e afetos. Ele criticou a forma como licenças ambientais ignoram a presença dos espíritos dos lugares e ressaltou que os povos indígenas não são convidados a deliberar sobre as políticas que lhes dizem respeito.
Ao questionar a lógica da monocultura, da mineração e da mercantilização da natureza, Iberê alertou que a febre da Terra, nomeada como “emergência climática” pelo mundo não indígena, já ameaça o futuro de todos. “A pata do boi segue avançando sobre o nosso território. Semeiam desertos em monocultivos e dizem que há paz — uma paz triste de cemitérios.” Em tom de denúncia e esperança, afirmou que os povos originários seguem replantando a diversidade, mesmo diante da violência. “Não somos um galho da ciência europeia. Somos árvores inteiras, somos floresta.”
Valdinar Melo: o solo como fundamento da vida
Na sequência, o professor Valdinar Melo trouxe a perspectiva técnico-científica sobre o solo amazônico e sua diversidade. “Sem solo, não há vida. É do solo que vem a nossa carne, a nossa energia, o nosso pensamento”, disse. Com ampla experiência em pedologia e manejo, Melo alertou para a necessidade urgente de zonamentos mais detalhados, regionais e locais, que considerem os diferentes tipos de solo e clima existentes na Amazônia. “Não se pode planejar o uso da terra sem conhecer profundamente a paisagem.”
Ele defendeu a instalação de estações meteorológicas em comunidades tradicionais para fortalecer o monitoramento climático e a autonomia territorial. Também chamou atenção para o uso de resíduos orgânicos e minerais locais como alternativa à dependência de insumos importados, como o fosfato. Relatou experiências com compostagem de resíduos do açaí, madeira e piscicultura em Roraima, com o objetivo de produzir biofertilizantes adaptados às realidades locais. Em tom crítico, disse que “a chave do passado que nos trouxe até aqui quebrou” e que é preciso pensar em práticas conservacionistas, não como regra geral, mas adaptadas a cada território.
Julie Messias: pontes entre ancestralidade, mercado e políticas públicas
Fechando o painel, Julie Messias, diretora da Aliança Brasil de Soluções Baseadas na Natureza, defendeu a valorização dos chamados “territórios vivos” — espaços onde biodiversidade, modos de vida e saber tradicional formam um ecossistema dinâmico e interdependente. Para ela, os conhecimentos ancestrais já são tecnologias e precisam ser reconhecidos como tal. “Não podemos falar de inovação sem olhar para as práticas que já existem nas comunidades. A bioeconomia começa ali”, afirmou.
Julie trouxe números que ilustram o papel das terras indígenas na proteção da floresta: segundo o MapBiomas, essas áreas têm índice de desmatamento 20 vezes menor do que as propriedades privadas. Ela também destacou os entraves para o financiamento climático, especialmente a dificuldade das comunidades amazônicas em acessar os recursos internacionais. “Mais de 80% das associações estão inadimplentes. Como acessar editais com essa realidade?”, questionou. Por fim, apontou que o mercado de carbono e as políticas públicas precisam ser moldados com base em integridade, justiça climática e inclusão, sob risco de reproduzirem as desigualdades que dizem combater.
Um caminho que passa pelos territórios
O painel reafirmou que a resposta à crise climática não será encontrada apenas nos grandes fóruns internacionais, mas na escuta e no reconhecimento das vozes da floresta. Os caminhos apresentados pelos participantes não são homogêneos, mas convergem na necessidade de respeitar a diversidade biocultural, investir em governança territorial, e equilibrar tecnologia com ancestralidade. A Amazônia, disseram, não precisa ser reinventada — ela precisa ser respeitada. E isso só será possível se os que vivem nela forem os verdadeiros protagonistas de seu futuro.