A Embratur e o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF) lançaram em 9 de setembro de 2025, em Salvador, um guia prático para orientar políticas e práticas de igualdade racial no setor de turismo, durante o workshop Trilhas do Afroturismo Internacional. O documento tem como foco a promoção do afroturismo, definido como um segmento que valoriza a cultura, a história, a identidade e a ancestralidade negra, com experiências conduzidas por protagonistas negros. A iniciativa busca responder a cenários de exclusão e se alinha a metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, como erradicação da pobreza, igualdade de gênero e redução das desigualdades.
O material apresenta diretrizes para empresas do setor, com orientações de gestão e comunicação. Entre as medidas sugeridas estão a revisão de descrições de vagas para evitar linguagem excludente, a ampliação da divulgação de oportunidades em redes comunitárias negras, a composição de painéis de entrevistadores diversos, a formação contínua das equipes em letramento racial e a produção de materiais que representem positivamente a diversidade, evitando a associação de pessoas negras a funções específicas. O guia propõe uma postura ativa de antirracismo, entendida como enfrentamento contínuo a práticas e doutrinas racistas.
O presidente da Embratur, Marcelo Freixo, afirmou que a estratégia tem dimensão econômica e de posicionamento internacional. “Promover a igualdade racial não é apenas uma questão de justiça social, mas de inteligência de mercado e competitividade”, disse. Segundo ele, “ao criarmos ambientes verdadeiramente inclusivos e seguros, estamos qualificando nossos destinos e posicionando o Brasil como líder global no afroturismo”.
A coordenadora de Afroturismo, Diversidade e Povos Indígenas da Embratur, Tania Neres, afirmou que o guia funciona como ferramenta para orientar o mercado. Para o diretor de Diversidade da CAF, Eddi Marcelin, o afroturismo representa a valorização da cultura, da história e da identidade brasileira. Integrante da equipe responsável pela elaboração, a consultora Natália Oliveira destacou o ineditismo do material e o papel do letramento racial para reconhecer diferentes formas de racismo nas relações de trabalho e nas experiências ofertadas aos visitantes.
O guia organiza recomendações em rotinas operacionais e de governança. No campo de recursos humanos, propõe trilhas de capacitação contínua e critérios transparentes para contratação e promoção. Em comunicação, indica a revisão de peças e canais para garantir representações equilibradas, evitando estereótipos. Para a relação com territórios e fornecedores, sugere ampliar parcerias com iniciativas conduzidas por empreendedores negros e mapear circuitos culturais que compõem o afroturismo, integrando-os a roteiros e campanhas de promoção. As diretrizes também incentivam o monitoramento de metas e indicadores sobre diversidade nas equipes e nas experiências ofertadas, com prestação de contas periódica ao público e aos parceiros.
Segundo os organizadores, a adoção dessas práticas tende a impactar a competitividade de destinos brasileiros e a ampliar a base de consumidores, em linha com a demanda internacional por experiências que reconheçam a história e as identidades locais. Em termos de políticas públicas, o guia pode subsidiar editais, programas de qualificação e iniciativas de promoção turística, servindo de referência para governos e entidades setoriais. “Com esse guia, seguimos fortalecendo o ecossistema que tem como protagonistas as pessoas negras, gerando impacto econômico ao mesmo tempo em que se celebra a memória e o orgulho”, diz um dos trechos do material.