O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) apresentou no último sábado (11), em Belém (PA), durante o evento Varanda de Nazaré, as ações do movimento Compre do Pequeno e da campanha Sebrae COP30, com foco na integração entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental. A iniciativa ocorreu paralelamente à Trasladação da Imagem Peregrina de Nazaré, parte das celebrações do Círio de Nazaré, e reuniu empreendedores locais, artistas e representantes de comunidades tradicionais.
Instalado na Estação das Docas, o estande do Sebrae buscou reforçar a importância de conectar geração de renda, valorização de pequenos negócios e conservação ambiental. O espaço também apresentou a campanha Sebrae COP30, que alerta para os desafios climáticos e a necessidade de alinhar a atividade econômica à sustentabilidade, especialmente em pequenos empreendimentos. A coordenadora da marca Sebrae Nacional, Ana Paula Garcia, afirmou que a ação representa “o fortalecimento do território, a conservação do bioma e a preservação da cultura regional, que são compromissos do Sebrae materializados nesta ação”.
O evento incluiu atividades culturais e educativas, como a oficina de grafismos indígenas conduzida pela multiartista Thaís Kokama, da Aldeia Inhaã-bé, de Manaus (AM). “Através da arte levamos informação sobre o nosso povo, e o Sebrae é nosso grande parceiro nesta empreitada”, disse a artista. A programação também contou com um quiz sobre a COP30, conferência mundial sobre mudanças climáticas que será realizada em Belém de 10 a 21 de novembro de 2025.
A Varanda de Nazaré reuniu empreendedores de diferentes regiões da Amazônia, com destaque para dez quiosques que exibiram produtos e saberes tradicionais. Entre os participantes, a ceramista Mainara Santana, da Cerâmica Família Santana, de Icoaraci (PA), destacou a importância da parceria com o Sebrae. “Trabalhamos com cerâmica há 60 anos, nos aprimorando e sempre aprendendo. O Sebrae está permanentemente de portas abertas para quem quer empreender”, afirmou.
Outro exemplo apresentado foi o da empresa Paladar Amazônico, criada em 2018 por Antônio Cruz e Erika D’Antona, em Ananindeua (PA). O casal, que produz geleias e molhos picantes com ingredientes regionais, está em processo de exportação e reconhece o papel do Sebrae como facilitador de oportunidades. “Para além da infinidade de cursos ofertados, o Sebrae é um grande vetor de oportunidades”, disse Antônio.
As ações em Belém reforçam a estratégia do Sebrae de aproximar o empreendedorismo das agendas ambientais globais, valorizando práticas sustentáveis em cadeias produtivas locais. A presença da instituição no evento buscou inspirar negócios de base comunitária a fortalecerem a economia amazônica, promovendo inclusão, geração de renda e preservação dos recursos naturais.
Em meio à corrida global por uma economia de baixo carbono, especialistas, gestores públicos e representantes do setor produtivo se reuniram nesta terça-feira (14), em Brasília, para discutir como garantir que essa transição seja justa e inclusiva. O debate ocorreu durante o Summit Empregos e Habilidades do Futuro para uma Economia de Baixo Carbono, promovido pelo Sebrae Nacional em parceria com a iniciativa global Sustainable Business COP (SB COP), liderada no Brasil pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O evento reuniu lideranças que estão à frente das discussões sobre o papel do Brasil na próxima Conferência do Clima da ONU, a COP30, que será realizada em Belém (PA). No centro das falas, a constatação de que a descarbonização da economia é inevitável — mas o modo como ela será conduzida pode ampliar ou reduzir desigualdades.
A diretora de programa da presidência da COP30, Alice Amorim Vogas, defendeu que o país precisa adotar um novo modelo de desenvolvimento, combinando redução de emissões com geração de oportunidades. “Se a transição vai ser justa ou não, depende muito do esforço de todos nós. Enquanto presidência da COP no Brasil, estamos convocando uma discussão de modelos de desenvolvimento que tratam a descarbonização e construção de resiliência com qualidade. Não estamos mais no momento de falar de adaptação e mitigação”, afirmou.
Os participantes reforçaram que o desafio não se restringe à esfera ambiental. Trata-se também de uma agenda econômica e social, com impacto direto sobre a empregabilidade, a qualificação da força de trabalho e o papel das pequenas empresas — responsáveis por mais de 80% dos empregos formais no Brasil. Para o diretor-técnico do Sebrae, Bruno Quick, os pequenos negócios devem ser incluídos no centro das estratégias de transição. “São os que mais sofrem com os problemas, por possuírem menos meios para superar e mitigar os efeitos climáticos, mas também são grandes portadores das soluções”, afirmou.
A necessidade de investir em formação profissional foi outro ponto central. A CEO da Systemiq para a América Latina, Patrícia Ellen, destacou que a construção de uma economia verde depende de conhecimento e inclusão. “Capital humano tem CEP e precisamos saber onde estão essas oportunidades por estado e por região, além das necessidades dessa população”, disse. Para ela, o investimento em pessoas é o caminho para gerar valor na economia e garantir que o crescimento verde alcance todas as regiões do país.
O painel “Do Global para o Local” apresentou experiências internacionais de integração entre políticas de emprego e sustentabilidade. Especialistas da GIZ e da SB COP destacaram que países que priorizam a capacitação profissional em setores verdes conseguem avançar mais rápido na criação de empregos sustentáveis e na redução de emissões.
Na mesma linha, o gerente de Gestão de Soluções do Sebrae Nacional, Eduardo Curado, alertou que o país precisa acelerar a disseminação de conhecimento técnico. “A velocidade que as oportunidades vão surgindo não está sendo acompanhada pela nossa capacidade de levar o conhecimento dessas habilidades para as pessoas”, observou.
O encontro concluiu que a transição justa para uma economia de baixo carbono exige integração entre políticas públicas, setor privado e sociedade civil. As discussões indicam que o Brasil tem condições de liderar esse movimento, desde que priorize a formação profissional, a inovação e o fortalecimento dos pequenos empreendimentos. Mais do que reduzir emissões, trata-se de garantir que o futuro verde seja também um futuro com empregos, renda e participação social.
O relatório Panorama Climático 2025, desenvolvido pela TETO Brasil em parceria com o Centro de Estudos das Cidades do Insper, inclui Rio Branco entre os municípios mais vulneráveis do país aos impactos das mudanças climáticas. O estudo, que analisou 119 comunidades em 51 municípios de 20 estados, destaca o Acre como um dos territórios da Amazônia Legal onde a crise ambiental e as desigualdades urbanas se cruzam, ampliando o risco de enchentes, secas e outros desastres.
A publicação evidencia que o estado enfrenta de forma recorrente eventos climáticos extremos, com destaque para as cheias do Rio Acre e períodos de estiagem prolongada. Esses fenômenos têm causado prejuízos em infraestrutura, moradia e abastecimento de água, afetando milhares de famílias em Rio Branco e em municípios do interior. O documento ressalta que, embora essas populações contribuam pouco para as emissões de gases de efeito estufa, são as que mais sofrem com seus efeitos, especialmente pela falta de saneamento, drenagem e planejamento urbano.
Em Rio Branco, as áreas mais afetadas são as localizadas às margens do Rio Acre e de seus afluentes, onde o adensamento populacional e a ausência de obras estruturais elevam o risco de inundações. Segundo o estudo, a vulnerabilidade é agravada pela sobrecarga territorial — conceito que relaciona precariedades sociais, habitacionais e ambientais, e que sintetiza a realidade de comunidades urbanas e ribeirinhas do Acre. Nessas regiões, a combinação entre pobreza, fragilidade institucional e falta de infraestrutura básica aumenta a exposição aos eventos climáticos.
O Panorama Climático 2025 também destaca a importância das políticas locais de adaptação e mitigação. O Acre conta com o Sistema de Incentivo a Serviços Ambientais (SISA), criado em 2010, e com o Instituto de Mudanças Climáticas e Regulação de Serviços Ambientais (IMC), que atua no monitoramento das emissões e na formulação de programas de resiliência. Mesmo com esses avanços institucionais, o estudo aponta que a distância entre a formulação de políticas e a realidade das comunidades ainda é grande, exigindo maior integração entre governos, sociedade civil e populações afetadas.
As conclusões reforçam que a capital acreana precisa investir em planos urbanos integrados, com prioridade para moradias seguras e infraestrutura adaptada às variações climáticas. O relatório cita que a adaptação deve ser incorporada de forma transversal, com participação das comunidades nas decisões sobre planejamento urbano, mobilidade e habitação. A TETO defende que as políticas públicas precisam partir da escuta das populações que vivem o risco cotidiano, incorporando seus saberes e práticas na formulação das soluções.
Ao final, o estudo insere o Acre em um quadro mais amplo da Amazônia Legal, onde cidades como Manaus, Belém, Porto Velho e Tartarugalzinho compartilham os mesmos desafios. As mudanças no regime de chuvas, a elevação da temperatura média e a intensificação de secas e cheias configuram um cenário de desigualdade climática que afeta de forma mais severa as populações pobres e periféricas. Segundo a TETO Brasil, enfrentar a crise climática na Amazônia passa por reconhecer o papel dessas comunidades como protagonistas na construção de políticas que unam justiça social e preservação ambiental.
Em carta publicada na revista Nature nesta terça-feira, 14, os diretores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Paulo Moutinho e André Guimarães, defenderam a ampliação das áreas de florestas protegidas na Amazônia como medida essencial para garantir a preservação do bioma e dos serviços ambientais prestados pela floresta. Segundo os pesquisadores, a iniciativa representaria uma contribuição relevante do Brasil à COP30, prevista para ocorrer em Belém, e ao combate global à crise climática.
De acordo com Paulo Moutinho, as florestas públicas que deveriam estar destinadas à conservação permanecem vulneráveis à grilagem, ao garimpo ilegal e aos incêndios florestais. O IPAM calcula que cerca de 50 milhões de hectares de Florestas Públicas Não Destinadas (FPNDs) na Amazônia brasileira aguardam definição de uso, conforme previsto na Lei de Gestão de Florestas Públicas de 2006. A proposta do instituto é que essas áreas sejam integralmente destinadas à conservação ou ao uso sustentável, com prioridade para comunidades tradicionais, povos indígenas e extrativistas.
Estudos do IPAM indicam que as FPNDs concentram 36,5% da perda de vegetação nativa na Amazônia. Apenas no primeiro semestre de 2025, mais de 69 mil hectares foram desmatados nessas áreas, e outros 32,7 milhões de hectares seguem em risco de ocupação ilegal. A carta também sugere a proteção de outros 30 milhões de hectares de vegetação florestal, sendo 20 milhões pertencentes a pequenos proprietários e 10 milhões de excedentes de Reserva Legal em grandes propriedades rurais. Programas como o Conserv, que remunera produtores pela preservação de áreas naturais, são citados como instrumentos possíveis para viabilizar a iniciativa.
Moutinho destacou que a ampliação da proteção florestal é fundamental para a estabilidade climática e para a agricultura brasileira. “Considerando que mais de 90% da agricultura brasileira depende da chuva, proteger mais florestas, e os serviços que elas prestam na formação das chuvas, é fundamental para garantir a segurança alimentar global, ao mesmo tempo em que contribui para mitigar a crise climática mundial”, afirmou o pesquisador.
A destinação das florestas públicas deve integrar os debates da COP30, já que a conservação dessas áreas é considerada estratégica para o cumprimento das metas climáticas do Brasil e para a manutenção do equilíbrio ambiental continental. Segundo o IPAM, a destruição dessas áreas poderia liberar 19,1 bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, volume equivalente a mais da metade das emissões globais anuais.