O Brasil se prepara para sediar, de 10 a 21 de novembro, a COP30, em Belém (PA), primeira conferência do clima realizada na Amazônia. O encontro ocorre em um contexto de pressão global para reduzir emissões e rever a dependência de combustíveis fósseis, com destaque para o papel da tecnologia e da inteligência artificial na proteção da floresta.
Apesar de décadas de políticas públicas e operações de fiscalização, o desmatamento segue em alta e as mudanças climáticas avançam. Nesse cenário, novas ferramentas tecnológicas surgem como aliadas. Estudo da PwC de 2019 estimou que a aplicação de IA poderia reduzir em até 4% as emissões globais de gases de efeito estufa, o equivalente a 2,4 bilhões de toneladas de CO₂, soma próxima às emissões conjuntas de Austrália, Canadá e Japão naquele ano.
Atualmente, sistemas de IA conseguem prever áreas de risco de desmatamento com semanas de antecedência. Segundo Douglas Torres, especialista em IA e CEO da Yup.AI, “estamos testemunhando o surgimento de uma nova camada de proteção ambiental: algoritmos que preveem a destruição antes que ela aconteça”. Ele acrescenta que, com essas ferramentas, “é como se a floresta tivesse sensores nos olhos, ouvidos digitais e alertas automáticos para cada ameaça”.
O uso da tecnologia vai além do monitoramento do território. Plataformas estão sendo aplicadas para rastrear cadeias produtivas ilegais, detectar fraudes em créditos de carbono, analisar contratos públicos e otimizar rotas de fiscalização. Pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), em parceria com o Banco Mundial, lançaram a plataforma Floresta em Risco, que cruza dados macroeconômicos e de governança local para prever a perda de vegetação nativa. O modelo identifica tanto a quantidade de desmatamento esperada quanto os locais de maior vulnerabilidade, além de apontar possíveis vazamentos, quando a derrubada é apenas transferida para outra região.
A expectativa é de que a COP30 fortaleça o debate sobre a integração entre tecnologia, justiça climática e responsabilidade coletiva. Especialistas ressaltam que os avanços tecnológicos não substituem políticas públicas e a ação coordenada de governos, empresas e sociedade civil. A conferência será oportunidade para consolidar compromissos e abrir espaço para a bioeconomia, que pode gerar alternativas sustentáveis de desenvolvimento para a região amazônica.