A crescente dependência de minerais estratégicos para sustentar a infraestrutura da inteligência artificial (IA) tem ampliado as tensões geopolíticas entre as principais potências mundiais. Elementos como terras raras, gálio, germânio e tântalo são fundamentais para a produção de equipamentos que operam data centers e sistemas de IA, e sua extração e refino estão concentrados majoritariamente em países do Sul global, com forte hegemonia da China.
Nos Estados Unidos, o governo intensificou medidas para garantir o suprimento desses materiais. Entre elas, destaca-se o recente acordo com a China, anunciado por Donald Trump, que envolve a concessão de vistos estudantis em troca do fornecimento de terras raras. Além disso, Washington busca firmar parcerias com países como a Ucrânia, condicionando o apoio político e militar à entrega prioritária de minerais críticos.
A infraestrutura da IA, embora muitas vezes percebida como intangível, depende de uma base física robusta, composta por servidores, cabos, fontes de energia e sistemas de resfriamento. Os data centers — atualmente cerca de 12 mil no mundo, sendo quase mil de hiperescala — representam o principal ponto de convergência dessa rede. A fabricação e manutenção desses centros exige quantidades elevadas de metais, como cobre, prata, ouro e silício, cuja extração traz impactos ambientais e sociais relevantes, agravados pelo curto ciclo de vida dos equipamentos.
A disputa por esses recursos vem sendo marcada por embargos e sanções mútuas entre EUA e China desde 2018. Em 2024, os Estados Unidos suspenderam a exportação de chips voltados à IA para o mercado chinês. A resposta veio com a limitação das exportações chinesas de minerais essenciais, movimento que evidenciou a interdependência entre os setores.
A rivalidade se intensificou quando a empresa chinesa DeepSeek lançou um chatbot concorrente ao ChatGPT com custo reduzido e desempenho competitivo, mesmo sob restrições. A movimentação provocou perdas bilionárias no mercado americano e reforçou a urgência de investimentos na cadeia produtiva interna de IA. O governo Trump anunciou reformas e aportes de US$ 500 bilhões, incluindo a construção de novos data centers.
Outro fator em evidência é o consumo energético da IA. Estimativas da Agência Internacional de Energia indicam que, em 2022, o setor consumiu 460 TWh, o equivalente a 2% da eletricidade global. A projeção para 2026 pode chegar a mais de 1.000 TWh. Nos EUA, data centers já representam cerca de 4% do consumo nacional e devem ultrapassar 9% até o fim da década. A sobrecarga nas redes tem gerado riscos de apagões e aumento nas tarifas de energia, pressionando governos e empresas a buscar soluções.
Companhias como Amazon, Google e Microsoft têm investido em fontes renováveis para abastecer suas operações, mas esses sistemas também requerem minerais críticos e enfrentam desafios relacionados à reciclagem e à eficiência energética. Para atender à demanda prevista dos centros de dados até 2030, seriam necessários cerca de 50 milhões de painéis solares apenas nos EUA.
A complexa cadeia que sustenta a inteligência artificial revela que, além da inovação, a expansão tecnológica exige atenção às suas implicações geopolíticas, ambientais e sociais. Avaliar os custos associados a esse avanço é essencial para orientar decisões públicas e privadas, especialmente diante da tendência de crescimento acelerado da IA.
Fonte: https://theconversation.com/