O site peruano Ojo Público publicou reportagem apontando que a estrada Nova Itália–Puerto Breu, em Ucayali, tem se consolidado como corredor do narcotráfico e dos cultivos ilegais de coca na fronteira com o Acre. A investigação mostra que, entre 2022 e 2024, mais de 7 mil hectares de floresta foram desmatados nas áreas próximas à via e que mais de 1.200 hectares foram ocupados por plantações de coca destinadas ao tráfico para o Brasil.
Ojo Público contextualiza seus achados com o estudo Situação dos defensores indígenas em Ucayali 2024, elaborado pela Organização Regional Aidesep Ucayali (ORAU) em parceria com a Associação ProPurús. O documento indica que nos arredores do traçado da UC-105 foram identificadas oito pistas clandestinas de pouso, vinculadas ao transporte de cocaína, além do aumento das intimidações a lideranças indígenas, que passaram a solicitar garantias de proteção ao Ministério da Justiça do Peru.
O estudo da ORAU e da ProPurús mostra que a presença de “mochileros” carregando cocaína pela floresta até pontos de saída, somada à microcomercialização em Puerto Breu, reforça o risco de que a estrada funcione como rota estratégica para o narcotráfico. Iveth Peña, dirigente da ORAU, afirmou que “a rota Nova Itália–Puerto Breu se converteu em um corredor do narcotráfico”, chamando atenção para o controle exercido por facções criminosas transnacionais na região.
A UC-105 percorre os distritos de Tahuanía e Yurúa e chega até Puerto Breu, localidade vizinha ao Acre, separada apenas pelo rio Juruá. Essa proximidade conecta diretamente a rota peruana às comunidades indígenas e tradicionais do lado brasileiro, como Ashaninka, Jaminawa, Arara, Huni Kui, Kuntanawa e ribeirinhos que habitam a região fronteiriça no munícipio de Marechal Thaumaturgo. São territórios de difícil acesso, onde a presença estatal é limitada e os riscos de invasão por economias ilegais aumentam a vulnerabilidade dessas populações.
No lado peruano, o relatório da ORAU identifica que áreas de contato inicial e comunidades isoladas estão em risco devido à abertura da estrada e à expansão de cultivos ilegais, situação que também preocupa o Ministério da Cultura do Peru, que reconheceu a possibilidade de impactos negativos sobre povos em isolamento voluntário.
A reportagem também destacou que o asfaltamento planejado pelo Ministério de Transportes e Comunicações do Peru pode agravar a situação, ampliando o acesso a madeireiros ilegais e organizações criminosas. Para as lideranças indígenas, a obra, anunciada como promessa de integração regional, ameaça intensificar a perda de floresta e aumentar os riscos para comunidades em situação de vulnerabilidade.
Foto: OjoPúblico / Arquivo
Confira a reportagem completa: https://ojo-publico.com/ambiente/territorio-amazonas/deforestacion-y-cultivo-coca-que-llega-frontera-brasil