Uma pesquisa da Embrapa divulgada em 2 de dezembro de 2025 apresenta os resultados do desenvolvimento de uma farinha parcialmente desengordurada à base de castanha-do-brasil com teor proteico cerca de 60% superior ao da farinha de trigo, além de aplicações em hambúrgueres, quibes e proteína texturizada de origem vegetal, com avaliação positiva de consumidores quanto a sabor, textura e aparência.
O estudo faz parte de um conjunto de pesquisas voltadas à diversificação das fontes nacionais de proteína e à exploração sustentável da biodiversidade brasileira, com foco no aproveitamento de recursos naturais, geração de emprego e renda e desenvolvimento de novos ingredientes para a indústria alimentícia. A tecnologia foi desenvolvida no Laboratório de Agroindústria da Embrapa Amazônia Oriental, no Pará, e está pronta para testes em escala comercial, segundo a instituição.
De acordo com a pesquisadora Ana Vânia Carvalho, a castanha-do-brasil, que contém aproximadamente 15% de proteína bruta na forma in natura, passa por um processo de retirada parcial do óleo — utilizado majoritariamente pela indústria cosmética — que resulta em uma torta, subproduto usado como base para a produção da farinha. Após a retirada do óleo, o teor de proteína salta para cerca de 32,4% na farinha. “A busca por maior diversidade de fontes proteicas nacionais tem estimulado pesquisas voltadas à exploração sustentável da biodiversidade brasileira. Além de contribuir para o aproveitamento de recursos naturais e a geração de emprego e renda, essas iniciativas buscam novos ingredientes para a indústria alimentícia”, afirmou a pesquisadora.
Em comparação, 100 gramas de farinha de trigo integral possuem cerca de 13 gramas de proteína, enquanto a farinha de castanha-do-brasil apresenta quase 33 gramas no mesmo volume. A partir dessa farinha, os pesquisadores também produziram um concentrado proteico que alcança até 56% de proteína. Esses ingredientes foram utilizados na formulação de quibe, hambúrguer vegetal e proteína texturizada, esta última em combinação com proteína de soja.
Na Embrapa Agroindústria de Alimentos, no Rio de Janeiro, foram desenvolvidos o quibe e o hambúrguer vegetais com uso da farinha parcialmente desengordurada e do concentrado proteico da castanha. Segundo a pesquisadora Janice Lima, o objetivo foi transformar um coproduto da cadeia produtiva da castanha em alimento para consumo direto, com foco nos públicos vegetarianos, veganos e flexitarianos. A formulação do quibe utiliza farinha com cerca de 32% de proteínas e 10% de fibra total, enquanto o hambúrguer é produzido a partir do concentrado proteico, que apresenta em torno de 56% de proteínas.
Os produtos seguem parâmetros da Instrução Normativa nº 75 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. O quibe é classificado como alimento de alto conteúdo de fibras, com 6,8 gramas a cada 80 gramas de produto, e o hambúrguer como fonte de fibras, com 4,5 gramas na mesma porção. Além disso, os novos ingredientes apresentam elevados teores de aminoácidos e são ricos em selênio, mineral abundante na castanha-do-brasil.
Também foi desenvolvido um ingrediente proteico texturizado vegetal à base de castanha-do-brasil e soja, com cerca de 56% de proteína, similar à tradicional proteína texturizada de soja. Para a pesquisadora Melicia Galdeano, o resultado atende ao objetivo de ampliar o uso de matérias-primas nacionais na produção de proteínas alternativas. “Atualmente predominam no mercado opções como soja e ervilha. Esse trabalho caminha para o aproveitamento sustentável da castanha, incentivando seu plantio e beneficiando comunidades locais”, afirmou.
O teste de aceitação sensorial avaliou as preparações alimentícias à base dos coprodutos da castanha-do-brasil e indicou boa aceitação por parte dos consumidores participantes. Segundo a pesquisadora Daniela Freitas de Sá, os produtos apresentaram características semelhantes às versões convencionais em termos de aparência, sabor e textura, o que indica potencial de uso dos coprodutos da castanha como ingredientes alternativos no mercado de alimentos de base vegetal.
A pesquisa integra o Programa Biomas do The Good Food Institute Brasil, com financiamento do Fundo JBS pela Amazônia, e tem como perspectiva fortalecer cadeias produtivas amazônicas, ampliar o aproveitamento de castanhas fora do padrão de comercialização in natura e reduzir o desperdício na cadeia extrativista.
Fonte e foto: Embrapa