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MEIO AMBIENTE

Viver na floresta e reconhecer seus valores; artigo de Francisco Piyãko

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No Dia da Amazônia, em minha comunidade Apiwtxa, celebramos com fartura. Nossos jovens e alunos organizaram uma confraternização que reuniu frutas, peixes, caiçuma, alimentos de roçado e preparos tradicionais. Essa mesa cheia não é apenas um gesto de partilha: é a demonstração de como a floresta garante segurança alimentar e equilíbrio para quem vive em harmonia com ela.

Quero afirmar com clareza: nós, povos indígenas, não estamos na floresta por falta de opção ou por necessidade. Estamos nela por escolha. Nascemos floresta, e por isso conseguimos enxergá-la em sua plenitude. Retirar as florestas, os rios, a biodiversidade, é retirar de nós a saúde, a cultura, a vida.

Dentro do capitalismo, essa lógica que tenta reduzir a Amazônia a poucos produtos de mercado, substituindo a diversidade por monoculturas, é um equívoco. Essa visão trata a floresta como mercadoria e transforma as pessoas em produtos do sistema econômico. Nós aprendemos outra lição: a natureza diversifica, ela oferece múltiplas opções para a vida. É na diversidade que está a verdadeira segurança.

Viver na floresta é ter a possibilidade de complementar o que ela já nos dá com o que plantamos em nossos roçados. É manter um equilíbrio que garante alimento, saúde e paz. Essa forma de vida não se mede pelo valor de mercado, mas pela relação de respeito que construímos com a natureza.

Enquanto alguns insistem em negar a força da floresta e de seus povos, nós mostramos, todos os dias, que outro caminho é possível. Não é no conflito, na invasão ou na imposição de um modelo único que encontraremos respostas. É no respeito às diferenças, no reconhecimento dos modos de vida e na educação que podemos construir equilíbrio.

A Amazônia é cada vez mais rara no mundo. Aqui ainda temos rios limpos, povos com culturas vivas e florestas de pé. Esse patrimônio não pode ser destruído em nome de interesses imediatos. Nossa escolha é viver em paz com a floresta, porque ela é a nossa vida.

Enquanto houver quem insista em não reconhecer esse valor, nós continuaremos afirmando: a convivência com a natureza é a base do nosso futuro.

Foto: Arison Jardim

Francisco Piyãko é liderança do povo Ashaninka, da comunidade Apiwtxa, de Marechal Thaumaturgo, e coordenador da Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (Opirj)

Foto de capa: Arison Jardim

MEIO AMBIENTE

Seca derruba produção de mel e expõe impacto das mudanças climáticas na Amazônia

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A queda abrupta da produção de mel na comunidade de Anã, na reserva extrativista Tapajós-Arapiuns, no Pará, durante a estiagem entre 2023 e 2024, revelou um alerta para os efeitos das mudanças climáticas e para a vulnerabilidade das populações ribeirinhas da Amazônia. O mel produzido pelas abelhas-sem-ferrão é uma das principais fontes de renda local e um atrativo para o turismo. No período de seca, a produção caiu cerca de 50%, o que reduziu o fluxo de visitantes e comprometeu o sustento das famílias .

Aldair Godinho, meliponicultor da comunidade, relata que a estiagem prolongada impediu as abelhas de produzir mel. Ele afirma que a produção depende diretamente do clima e da capacidade das plantas de secretarem néctar. “Se eu não tiver mel, não posso fazer propaganda disso, não posso trazer meus turistas para conhecer. Então, preciso que tudo esteja funcionando”, disse . A cooperativa local precisou fornecer alimentos às famílias, e benefícios federais ajudaram os moradores a atravessar o período de seca .

O engenheiro-agrônomo Rogério Alves explica que temperatura, umidade e precipitação interferem na secreção de néctar pelas plantas e no comportamento das abelhas. “Com a temperatura alta, há também pouca umidade do solo e pouca água na planta. Então, para não perder água, ela não secreta néctar”, afirmou . As altas temperaturas também afetaram outras atividades produtivas da comunidade, como a piscicultura, que registrou perdas de peixes devido ao aquecimento da água .

A seca que atingiu a Amazônia foi resultado da combinação entre o fenômeno El Niño, o aquecimento anômalo do Atlântico Tropical Norte e o agravamento das mudanças climáticas. Segundo a pesquisadora Regina Rodrigues, da UFSC, o estudo World Weather Attribution apontou que as mudanças climáticas tornaram a falta de precipitação dez vezes mais intensa e prolongaram os efeitos da estiagem. “Se antes a seca do El Niño era moderada, agora é excepcional”, afirmou . Em alguns trechos da bacia amazônica, foram registrados até 20 meses com chuvas muito abaixo da média .

Mesmo com a recuperação parcial da produção neste ano, o cenário ainda exige atenção. Para o pesquisador do Inpa Renato Senna, os efeitos da seca atingem diretamente a vida das populações ribeirinhas. “Seca na região amazônica significa um caos absoluto para as populações ribeirinhas. Traz fome, sede, falta de acesso à educação, a medicamentos. É isolamento”, afirmou . Ele destaca que a manutenção da floresta em pé é um elemento de proteção, pois garante umidade no solo e reduz o risco de incêndios .

As abelhas exercem papel estratégico na preservação da Amazônia. Elas são responsáveis pela polinização de grande parte das espécies nativas. Estudo citado na reportagem mostra que abelhas nativas são responsáveis por 90% da polinização do açaí, atividade essencial para o equilíbrio do ecossistema e para a economia da região . Para os pesquisadores, manter a floresta preservada e fortalecer políticas públicas voltadas para adaptação climática são medidas necessárias para garantir a permanência das comunidades na região e a continuidade de suas atividades produtivas.

Aldair observa que, com a volta da chuva e a rebrota das flores, há expectativa de aumento da produção de mel. “Nós, meliponicultores, estamos com uma expectativa de que agora vamos ter bastante mel”, disse . A recuperação, no entanto, não elimina o alerta emitido pelos pesquisadores, que defendem ações de mitigação das mudanças climáticas, redução de emissões de carbono e planejamento para proteger comunidades vulneráveis durante períodos de estiagem prolongada .

Fonte: UOL

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Sebrae destaca papel do empreendedorismo sustentável e da inovação verde na preparação para a COP30

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Na reta final da série Glossário Agenda Climática, o Sebrae apresentou os conceitos de empreendedorismo sustentável e de ecossistema de inovação verde, reforçando o papel das micro e pequenas empresas na transição para uma economia de baixo carbono. A iniciativa busca preparar os pequenos negócios para a COP30, que ocorrerá em Belém (PA) entre 10 e 21 de novembro.

O empreendedorismo sustentável é definido como a criação e gestão de negócios que, além do lucro, têm como objetivo gerar impacto positivo no meio ambiente e na sociedade. Esses empreendimentos adotam práticas como uso eficiente de recursos naturais, redução de resíduos e processos produtivos menos poluentes. Também atuam na geração de energia renovável e em modelos de reutilização e reciclagem para evitar desperdícios e reduzir a extração de novos recursos.

Já o ecossistema de inovação verde é apresentado como um ambiente colaborativo que reúne empresas, instituições de pesquisa, governos e organizações não governamentais para desenvolver soluções sustentáveis. O objetivo é promover inovações que reduzam impactos ambientais e estimulem a eficiência no uso de recursos.

O Sebrae identifica três áreas prioritárias para o fortalecimento desse ecossistema: o fomento à ecoinovação, com incentivo à criação de tecnologias e processos que reduzam riscos ambientais e poluição; o desenvolvimento de políticas industriais verdes, que apoiem a transição para uma economia sustentável; e a implementação de soluções baseadas na natureza, aplicando processos naturais para enfrentar desafios como mudanças climáticas e perda de biodiversidade.

De acordo com o Sebrae, compreender esses conceitos é fundamental para que os pequenos negócios se adaptem aos desafios climáticos e ampliem sua participação na economia verde. A instituição afirma que levará à COP30 soluções inovadoras desenvolvidas por micro e pequenas empresas que já contribuem com a transição sustentável do país.

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The Economist destaca modelo brasileiro de combate ao desmatamento como exemplo global

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A revista The Economist, em sua edição de 23 de outubro de 2025, publicou editorial afirmando que o mundo pode aprender com o Brasil no combate ao desmatamento. O texto observa que, embora o país tenha perdido mais floresta tropical do que qualquer outro no último ano, devido principalmente aos incêndios, também demonstra que políticas públicas eficazes podem reduzir a destruição da Amazônia.

Segundo a publicação, o planeta perdeu 67 mil quilômetros quadrados de floresta em 2024, área equivalente à da Irlanda, o que adicionou 3,1 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa à atmosfera — mais do que as emissões da Índia provenientes da queima de combustíveis fósseis. O editorial alerta que, além dos impactos climáticos globais, a devastação ameaça sistemas locais de chuva, já que as florestas tropicais produzem os chamados “rios voadores”, responsáveis por irrigar extensas áreas agrícolas.

The Economist ressalta que a experiência brasileira evidencia a importância de políticas integradas de comando e controle. Durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva, a taxa de desmatamento caiu 80% entre 2003 e 2011 e voltou a diminuir após seu retorno à Presidência em 2023, antes do aumento dos incêndios florestais. A revista credita esse resultado à atuação conjunta do governo federal e da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que combinaram repressão a atividades ilegais com incentivos à conservação. “Agentes federais fortemente armados prendem madeireiros ilegais e destroem garimpos clandestinos”, descreve o texto, observando que propriedades envolvidas em desmatamento são bloqueadas para crédito subsidiado.

O editorial também menciona que o governo brasileiro tem reforçado a proteção de terras indígenas e buscado resolver disputas fundiárias na Amazônia, consideradas entraves históricos à gestão ambiental. A clareza sobre a posse da terra, segundo a revista, permite identificar quem deve ser punido pela degradação ou recompensado pela preservação. O avanço de tecnologias digitais, como o monitoramento por satélite, tem acelerado a identificação de crimes ambientais e a resposta das autoridades.

A publicação compara o caso brasileiro a outros países tropicais, como a República Democrática do Congo, onde a ausência de governança e infraestrutura dificulta o controle do desmatamento. Para The Economist, a preservação das florestas deve ser tratada como um bem público global, o que justifica o apoio financeiro internacional. O texto sugere a adoção de mecanismos simples, como pagamentos diretos a governos que comprovem a redução do desmatamento por imagens de satélite, modelo que o Brasil vem tentando promover.

O editorial conclui que salvar as florestas tropicais exigirá “criatividade, diplomacia e clareza”, e que as lições do Brasil podem orientar ações mais eficazes em outros países.

Fonte: https://www.economist.com/leaders/2025/10/23/to-save-the-worlds-tropical-forests-learn-from-brazil

Foto: Sérgio Vale

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