O feminicídio continua sendo um problema grave no Brasil. Apesar de campanhas e medidas para combater a violência contra a mulher, os números permanecem altos, especialmente no Acre, um dos estados com as maiores taxas do país.
Campanhas como “Feminicídio Zero” trazem uma mensagem forte e necessária, mas será que zerar os números resolve o problema? Me questiono: focar apenas na redução dos casos é suficiente? Ou o Estado deveria ir além e promover mudanças estruturais e profundas na sociedade?
É preciso fomentar uma educação que vá além da conscientização e realmente transforme a forma como a violência contra a mulher é encarada, atacando suas causas na raiz.
Os dados do Atlas da Violência mostram que, desde 2015, a taxa de feminicídios no Brasil tem se mantido em 1,2 por 100 mil mulheres. No Acre, os números são ainda mais preocupantes. Entre 2012 e 2022, o estado registrou um aumento de 43,8% nos homicídios de mulheres. Em 2023, a taxa foi de 2,4 mortes por 100 mil mulheres, a segunda maior do país.
Além dos casos fatais, as denúncias de violência doméstica continuam aumentando. O serviço Ligue 180 registrou um crescimento de 35,6% nas denúncias de violência contra a mulher no Acre em 2024. As vítimas mais frequentes tinham entre 20 e 24 anos ou entre 55 e 59 anos, e os agressores eram, na maioria, companheiros ou ex-companheiros.
As mulheres seguem sendo vítimas de violência física e psicológica em diversos contextos, revelando a necessidade urgente de mudanças efetivas para além das estatísticas.
Não quero ser o dono da verdade nem trazer respostas definitivas para um problema tão complexo. Mas, ao olhar para os números e para o contexto social, a ideia de reduzir os feminicídios a zero soa como uma meta estatística que, por si só, não resolve a questão. A violência contra a mulher é um reflexo de questões culturais, sociais e estruturais que não podem ser apagadas simplesmente com um slogan.
A violência contra a mulher não começa no feminicídio. Ela se manifesta antes: na desigualdade de gênero, no controle sobre a vida das mulheres e na impunidade dos agressores. Se o foco for apenas na redução dos números, sem abordar as causas estruturais, a raiz do problema continuará intacta.Até que esse ciclo seja interrompido em sua origem, os números continuarão altos. Infelizmente.
O desafio é maior: mudar a forma como as mulheres são tratadas, garantir acesso à proteção e eliminar a tolerância à violência. Se um dia feminicídio deixar de existir, não será porque conseguimos zerar números. Será porque nos tornamos uma sociedade onde isso nunca deveria ter acontecido.
Foto: Jhenyfer Souza/Semulher