Laiane Santos, residente da Reserva Extrativista Chico Mendes em Brasileia, destaca-se como uma das homenageadas na categoria Jovem Liderança do Prêmio Chico Mendes de Resistência 2023. O reconhecimento foi concedido pelo Comitê Chico Mendes durante a Semana Chico Mendes, realizada de 15 a 22 de dezembro em Xapuri e outros municípios do Acre.
Laiane, envolvida em diversas atividades que fortalecem a luta dos povos da floresta, é conhecida por sua atuação incansável em prol do acesso ao conhecimento e de uma vida digna para todos. Ela é uma presença constante em espaços de debate, mesmo diante das dificuldades logísticas da região, buscando ser a voz dos menos favorecidos que sonham com um mundo mais justo e uma floresta preservada.
“Estar recebendo esse prêmio Chico Mendes de Resistência é muito emocionante para mim porque eu sempre fiz essa luta, essa resistência, essa defesa dos jovens, defesa da mulher, de ter uma vida digna no território e eu sempre fiz ali pelo desejo realmente de defender os menos favorecidos. E hoje eu estar recebendo esse prêmio de resistência pra mim é algo muito importante”, assim, Laiane expressou sua emoção e a importância desse reconhecimento.
O Prêmio Chico Mendes de Resistência 2023 destaca indivíduos que, de maneira exemplar, mantêm viva a visão para a Amazônia e seus povos. Laiane, ao receber esse reconhecimento, expressa sua emoção, ressaltando a importância de defender os menos favorecidos e mencionando a inspiração que Chico Mendes representa. Para ela, a história do líder sindical é um exemplo de resistência que a motiva a continuar lutando.
Laiane começou sua atuação no movimento em 2019, ingressando no sindicato e intensificando seu ativismo em 2020 diante da ameaça ao território com o PL 6024. Em 2023, criou o coletivo Varadouro, voltado para jovens de diversas Reservas Extrativistas do Acre.
O Projeto de Lei PL 6024/2019, de autoria da deputada estadual Mara Rocha (PSDB-AC) buscava a redução dos limites da Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes e a transformação do Parque Nacional da Serra do Divisor em uma Área de Proteção Ambiental (APA), fragilizando sua proteção. “Em 2020, diante da ameaça ao território com o PL 6024, intensifiquei meu ativismo ambiental. Este ano, fundei o coletivo Varadouro, focado na juventude das Reservas Extrativistas do Acre. Meu trabalho vai além das palavras; estou sempre nas comunidades, fazendo formações, levando informação e identificando lideranças que possam fortalecer o movimento e suas comunidades”, afirmou.
O ativismo de Laiane Santos ecoa em cada ação, defendendo a floresta e os menos favorecidos. Fotos: Cedida
Seu foco está na promoção do ativismo ambiental, especialmente para a juventude e as mulheres, por meio de formações e atuação nas comunidades rurais. Para ela, o prêmio ganha significado ao ver a comunidade que defende reconhecendo e celebrando suas ações: “O mais importante mesmo é ver a galera que eu defendo feliz, ver os jovens me defendendo, dizendo que eu realmente mereço esse prêmio. Pra mim é o maior de todos os prêmios.”
Ao encerrar suas reflexões sobre o legado de Chico Mendes, Laiane Santos enfatiza: “A história dele significa resistência, e para mim, é um exemplo a ser seguido, a ser realmente vivido. Tudo que eu faço, toda luta que empreendo, é moldada pela pergunta constante: ‘E se fosse Chico nesse momento?’ Ele é um farol que guia meu ativismo, recordando-me da importância de resistir, lutar pelos menos favorecidos e defender incansavelmente a terra que é nossa vida. Assim como Chico Mendes, acredito que a história da luta é o prêmio que verdadeiramente importa. Para mim, é um compromisso contínuo em honrar seu exemplo, inspirando-me a contribuir para um futuro mais justo e sustentável.”
Semana Chico Mendes
A Semana Chico Mendes de 2023, sob o tema “Empate de Retomada”, oferece uma programação rica em eventos e debates. Organizada pelo Comitê Chico Mendes, a semana busca discutir questões fundamentais sobre a justiça climática e a esperança de um novo futuro, alinhando-se aos ideais de Chico Mendes. A presença de diversas organizações e lideranças fortalece a iniciativa, promovendo um ambiente propício para a reflexão e a busca por soluções sustentáveis.
O Comitê Chico Mendes, formado após o assassinato do ativista ambiental, desempenha um papel crucial na mobilização da sociedade em prol dos ideais de Chico. Além de promover ações alinhadas ao legado do líder sindical, o comitê possui um núcleo de jovens dedicados a dar continuidade aos princípios de Chico Mendes, preocupados com o futuro do planeta, conforme expresso na “carta testamento” do ativista.
Os demais premiados destaques:
Relevância Institucional: Mídia NINJA
Fundada em 2013, a Mídia NINJA é uma rede independente que busca novas formas de produção e distribuição de informação. Com mais de 2 milhões de apoiadores, a rede defende a comunicação democrática como um direito humano fundamental.
Comunidade Tradicional: Quilombo Nova Vista do Ituqui
Certificado como remanescente de quilombo pela Fundação Cultural Palmares, o Quilombo Nova Vista do Ituqui, em Santarém-PA, destaca-se pela preservação da cultura e identidade das comunidades tradicionais.
Personalidade: Claudelice da Silva Santos
Defensora de direitos humanos no Pará, Claudelice da Silva Santos continua sua batalha após o trágico assassinato de seu irmão José Claudio Ribeiro dos Santos e sua cunhada, Maria do Espírito Santo, em 2011. Seu compromisso persistente é uma inspiração para a defesa dos direitos à terra e à vida.
Pesquisadores brasileiros descreveram oficialmente uma nova espécie de inhambu que vive apenas nas montanhas da Serra do Divisor, no Acre, reforçando a importância científica e a vulnerabilidade dessa região da Amazônia. A ave, batizada cientificamente de Tinamus resonans e conhecida como sururina-da-serra, foi registrada em uma estreita faixa de altitude, entre cerca de 300 e pouco mais de 400 metros, em áreas de floresta montana dentro do Parque Nacional da Serra do Divisor, na fronteira com o Peru. A confirmação da espécie foi publicada em dezembro de 2025 na revista Zootaxa e é resultado de expedições de campo realizadas entre 2021 e 2025.
A Serra do Divisor é um maciço isolado no extremo oeste da Amazônia brasileira, com picos que chegam a 800 metros e ambientes que vão de florestas submontanas a formações mais baixas e secas no topo, sobre solos arenosos, pobres em nutrientes e sujeitos a ventos constantes. Esse conjunto de condições cria habitats raros na região, com avifauna própria e espécies endêmicas, entre elas o papa-formiga Thamnophilus divisorius e, agora, a sururina-da-serra.
A história da descoberta começou em outubro de 2021, quando o ornitólogo Fernando Igor de Godoy gravou um canto diferente no alto da Serra do Divisor. A vocalização lembrava a de inhambus do gênero Tinamus, mas não coincidia com nenhuma espécie conhecida, mesmo após comparação com gravações disponíveis e consulta a especialistas. “Assim que saí, já ouvi esse inhambu cantando. Como já trabalhei muitos anos no Acre, conheço bem a avifauna da região. Eu tinha certeza que era alguma coisa nova”, afirma Godoy, que decidiu registrar o som e enviá-lo a vários pesquisadores.
Nos anos seguintes, o mesmo padrão de canto foi novamente detectado, mas sem sucesso na observação detalhada da ave, devido à vegetação densa, ao terreno íngreme e a um fenômeno acústico que difunde o som no sub-bosque e dificulta localizar a origem da voz. Em novembro de 2024, usando playback construído a partir das primeiras gravações, o pesquisador Luis A. Morais conseguiu atrair dois indivíduos, registrar fotos em boa qualidade e confirmar que se tratava de um inhambu com plumagem não descrita até então. Após obtenção das licenças ambientais, a equipe coletou exemplares e iniciou a análise morfológica, ecológica e acústica que embasou a descrição formal da espécie.
O artigo científico apresenta a sururina-da-serra como uma nova espécie de Tinamus associada às florestas montanas da Serra do Divisor. A ave possui máscara facial escura, peito ferrugíneo, dorso marrom-acinzentado uniforme, sem barras, e partes inferiores com áreas claras no ventre e flancos discretamente marcados. A vocalização é descrita como um canto longo, que pode ultrapassar 45 segundos, dividido em seções sucessivas com notas prolongadas, seguidas de frases tremuladas, em um dos repertórios mais extensos já registrados para a família dos tinamídeos.
No trabalho de campo, os pesquisadores usaram playback, gravação acústica, observação direta e georreferenciamento dos pontos de escuta para mapear a distribuição da espécie nas encostas da serra. A partir da distância média entre indivíduos detectados e do recorte de altitude em que a sururina-da-serra foi registrada, foi elaborado um modelo de habitat potencial. O estudo estima densidade de aproximadamente um indivíduo a cada 30 hectares e uma população total em torno de 2.100 aves restritas ao maciço da Serra do Divisor.
As expedições também revelaram um comportamento incomum em comparação com outros inhambus amazônicos. A espécie se desloca pelo solo da floresta e permite aproximação humana sem demonstrar reação de fuga, em um ambiente onde quase não há grandes mamíferos predadores, como onças, queixadas e raposas. “Ele não reconhece o ser humano como ameaça. A gente chega a quatro, cinco metros e ele continua andando, como se nada estivesse acontecendo”, relata Luis Morais, ao comparar a situação com a história do dodô, ave terrestre extinta nas ilhas Maurício.
Segundo o artigo e o relato dos pesquisadores, a sururina-da-serra vive em um tipo de vegetação altimontana com solos arenosos irregulares, camada densa de matéria orgânica, raízes expostas e alta umidade, em um mosaico de campinaranas de topo de serra e florestas de porte mais baixo. Esse ambiente forma uma espécie de “ilha no céu”, sem equivalentes em outras áreas da Amazônia. Como a espécie ocupa apenas uma faixa altitudinal estreita e não desce para as florestas de baixio, o habitat disponível é fisicamente limitado pelas encostas e não tem espaço para se expandir.
Apesar de a área estar protegida pelo Parque Nacional da Serra do Divisor, os pesquisadores alertam que a combinação entre distribuição restrita, dependência de um microambiente específico e comportamento pouco defensivo aumenta a vulnerabilidade da sururina-da-serra. A principal preocupação é o efeito das mudanças climáticas sobre a vegetação de altitude. “Se a temperatura subir ou o regime de chuvas se alterar, esse ‘andar’ da montanha tende a se deslocar para cima em busca de condições mais frias. O problema é que não existe ‘mais acima’. O habitat da espécie já está no ponto mais alto possível. Ou seja, ela não tem para onde ir”, explica Morais.
O estudo também cita ameaças associadas a projetos de infraestrutura e mudanças no status de proteção da unidade de conservação. Propostas para rebaixar o parque a Área de Proteção Ambiental, permitir mineração em áreas montanhosas e construir rodovia ligando Cruzeiro do Sul a Pucallpa, além de uma ferrovia transcontinental cortando a Serra do Divisor, são apontadas como impactos potenciais sobre o habitat da sururina-da-serra e de outras espécies endêmicas da região. Incêndios florestais e a introdução de animais domésticos no alto da serra são mencionados como fatores adicionais de risco, capazes de alterar rapidamente o equilíbrio ecológico em uma área pequena e isolada.
Para os autores da descrição, a descoberta de Tinamus resonans reforça o papel da Serra do Divisor como centro de endemismo de montanha na Amazônia ocidental e amplia a responsabilidade do país na proteção desse patrimônio natural. O artigo destaca que a última descrição de uma espécie desse grupo de inhambus florestais havia ocorrido há cerca de 80 anos. “Eu acho que todo ornitólogo sonha em encontrar uma espécie nova. Quem já passou tempo no mato imagina como seria descobrir algo totalmente inusitado para a ciência. E é exatamente esse sonho que estou realizando”, afirma Fernando Igor de Godoy.
Os pesquisadores defendem que a nova espécie pode se tornar um símbolo da conservação do único parque nacional do Acre e fortalecer atividades de ecoturismo, como a observação de aves, já praticadas na Serra do Divisor. Ao mesmo tempo, apontam a necessidade de estudos adicionais sobre a ecologia, a reprodução e a dinâmica populacional da sururina-da-serra, para embasar estratégias de manejo capazes de garantir a persistência da espécie diante das pressões ambientais e de decisões sobre o uso do território na região de fronteira.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou que o Brasil continuará liderando o debate internacional sobre o fim do desmatamento e a redução da dependência de combustíveis fósseis até o fim de 2026, período em que o país permanece na presidência do processo multilateral das negociações climáticas. A declaração foi feita após a COP30, em Belém, e reforça que, mesmo fora da decisão final da conferência, os países seguirão construindo seus próprios mapas de transição.
Marina Silva explicou que a presidência brasileira atuará para criar condições que permitam a cada nação definir sua rota. Segundo ela, o Brasil trabalha internamente desde 2003 para avançar no desmatamento zero por meio de políticas federais e conduz, de forma planejada, o processo de afastamento dos combustíveis fósseis. A ministra citou ainda que o país opera uma matriz energética composta por 45% de fontes renováveis, índice que considera representativo nas negociações.
Ao comentar o contexto das discussões internacionais, Marina Silva afirmou que as decisões enfrentam pressões políticas globais. “Sabemos da dificuldade no processo decisório em um contexto geopolítico tão difícil como este que estamos vivendo, em que os Estados Unidos saíram do Acordo de Paris e têm força gravitacional no sentido de tentar barrar os avanços”, disse. Ela destacou, porém, que houve resultados considerados importantes no campo da adaptação, como recomendações de ampliação de recursos para países em desenvolvimento e inclusão de povos tradicionais e mulheres nas tomadas de decisão.
A ministra também enfatizou a participação social na COP30. Em sua avaliação, a presença de movimentos, pesquisadores, empresas e visitantes marcou o encontro. “A participação social fez a diferença”, afirmou. Segundo ela, mais de 300 mil pessoas circularam pela Zona Verde, enquanto a Zona Azul registrou níveis de engajamento acima do padrão histórico. Marina afirmou ainda: “Tivemos uma COP30 com alta qualidade na participação da sociedade, da comunidade científica, do setor empresarial”.
Marina Silva defendeu que o Brasil se prepare para captar investimentos direcionados à transição climática e ao uso sustentável de recursos. Ela afirmou que o cenário econômico global exigirá novos padrões de desenvolvimento, com limites para pressões sobre florestas, água e biodiversidade. Em sua avaliação, os recursos acumulados historicamente precisam ser direcionados para energia renovável e tecnologias de produtividade agrícola. “Não é mais a lógica de transformar natureza em dinheiro. É usar o dinheiro que foi ganho em prejuízo da natureza e investir em energia limpa, do sol, do vento, da biomassa”, afirmou.
A ministra concluiu que a crise climática pode ser transformada em oportunidade para reorganizar práticas econômicas e institucionais. Para ela, governos, empresas e setor financeiro precisam ajustar estratégias para um período que define como um novo contexto global, marcado por mudanças ambientais constantes.
A Prefeitura de Rio Branco colocará em vigor, a partir de 1º de dezembro, novas regras para o licenciamento ambiental no município, após a publicação de um decreto que redefine o enquadramento das atividades sujeitas ao processo. A mudança transfere oficialmente para o município a responsabilidade que antes era do Governo do Estado, alterando procedimentos e prazos para análise de empreendimentos com potencial de impacto ambiental .
O novo modelo estabelece que o licenciamento inicia com a emissão da licença prévia e da certidão de viabilidade ambiental, instrumentos utilizados para avaliar se a atividade pode ser instalada no local pretendido. Segundo o chefe do Departamento de Licenciamento Ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Cledson Reis, o processo segue parâmetros administrativos que organizam cada etapa da análise. “Nós temos um decreto para análise desses processos em 30 dias ou até em 60 dias. Esses são os benefícios. O licenciamento é um processo administrativo. Então ele começa com uma licença prévia e também com uma certidão de viabilidade ambiental. Assim, nós avaliamos se o empreendimento ou atividade está no local de viabilidade ambiental. Caso não esteja, o processo é indeferido porque impede seu desenvolvimento correto”, afirmou .
Com a publicação do decreto municipal e da Portaria nº 13/2025, o município passa a regulamentar 839 atividades econômicas consideradas de impacto local. Desse total, quase 300 passam a ser dispensadas do licenciamento. A secretária municipal de Meio Ambiente, Flaviane Stedille, destacou que a transferência de responsabilidade consolida o papel da Prefeitura na prevenção de riscos ambientais e na análise prévia de cada empreendimento. “Foi uma vitória dessa gestão conseguir trazer o licenciamento ambiental para o município de Rio Branco. A portaria define quais são as atividades econômicas de impacto local. O licenciamento é uma medida preventiva, pois nos permite avaliar o local onde o empreendimento será instalado, identificar risco de alagação ou possíveis danos futuros conforme o projeto proposto. Tudo isso é avaliado nessa fase do licenciamento”, explicou .
A normativa moderniza o procedimento adotado pelo município, revogando a Portaria nº 7, de 24 de maio de 2024. Além de reorganizar critérios e etapas, o novo regramento estabelece parâmetros técnicos atualizados para construções e atividades que possam gerar impactos ambientais. A expectativa é que o processo traga maior segurança jurídica, reduza irregularidades e permita ações preventivas que evitem danos ambientais e prejuízos a empreendedores.