O Sesc Pompeia inaugura na próxima terça (19) um ciclo de debates com Sebastião Salgado, lideranças indígenas e especialistas em questões dos povos indígenas como parte da exposição do fotógrafo brasileiro sobre a Amazônia, em cartaz no centro cultural agora.
Salgado, que mora na França, já tinha a intenção de trazer algumas dessas lideranças para a abertura da mostra, em janeiro —mas os números da Covid-19 aumentaram no país na época por causa da ômicron. Em função da pandemia, a exposição acabou não sendo aberta primeiro no Brasil e passou antes por Londres, Paris e Roma.
Entre terça e quinta, três debates serão mediados por Leão Serva, jornalista e diretor de jornalismo da TV Cultura, com nomes como Davi Kopenawa, autor de “A Queda do Céu”, e Francisco Piyako, liderança do povo ashaninka que já foi assessor da presidência da Funai. Os encontros são gratuitos e também serão transmitidos no canal do YouTube do Sesc Pompeia.
Serva explica que as lideranças convidadas estão relacionadas às etnias que o fotógrafo retratou em suas expedições —foram mais de 60 viagens num período de sete anos. “Há o ensejo de dar um depoimento da situação atual das agressões ao meio ambiente e à Amazônia”, conta ele. O jornalista, aliás, gravou depoimentos de alguns dos indígenas retratados por Salgado sobre a situação de cada um dos territórios. Os vídeos, que estão na mostra, foram filmados entre 2019 e o começo de 2020, mas muitas das questões trazidas por eles mudaram nos últimos tempos.
“Os yanomamis foram muito afetados pela pandemia, inclusive porque o governo federal desmobilizou toda a estrutura da Sesai [Secretaria Especial de Saúde Indígena]”, afirma o jornalista.
As fotografias que estão na exposição do Sesc Pompeia, organizada por Lélia Wanick Salgado, já foram publicadas numa série de reportagens sobre as expedições de Salgado neste jornal, que acompanhou o contato do fotógrafo com as aldeias.
Além do ciclo de debate e de um segundo evento com exibições de filmes de cineastas indígenas ou sobre questões de povos originários, a semana terá ainda um concerto na Sala São Paulo, retomando composições de Villa-Lobos e Philip Glass para a floresta amazônica, na sexta-feira (22), às 20h. Os ingressos ficam disponíveis para compra a partir desta segunda (18) no site da instituição.
Todos os eventos comemoram os 30 anos da homologação da terra indígena yanomami, tema da mesa de abertura das três conversas.
Além da intensa programação paulistana, Salgado assina uma segunda exposição, em Paris, chamada “Aqua Mater”, com série de imagens que abordam os recursos hídricos.
Veja abaixo a programação completa de debates, que também serão transmitidos ao vivo em youtube.com/sescpompeia.
Comemoração dos 30 anos da demarcação da terra yanomami
O fotógrafo debate as três décadas de reconhecimento do território e sobre a atual situação dos indígenas lá, que ainda sofrem com invasão de garimpo e desmatamento, com Davi Kopenawa, escritor e liderança política, Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami e também uma liderança na comunidade, e Marcos Wesley, antropólogo que coordena o programa Rio Negro do Instituto Sócio Ambiental, o ISA.
Terça (19), às 20h, no teatro do Sesc Pompeia. Retirada de ingressos com 1h de antecedência
A situação das terras indígenas no Acre
Biraci Brasil, cacique do povo yawanawa, Francisco Piyãko, liderança dos ashaninka que já foi assessor da presidência da Funai, e Wewito Piyãko, também liderança, falam sobre como estão os conflitos nas terras indígenas no estado hoje.
Quarta (20), às 20h, na área de convivência da unidade
A situação de populações indígenas isoladas e de recente contato Sebastião Salgado conversa sobre como estão essas populações com Beto Marubo, indígena que compõe a direção da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari e integra o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato, Sydney Possuelo, indigenista e especializado no assunto, e Tiago Moreira, antropólogo do ISA.
Quinta (21), às 18h, na área de convivência da unidade
O presidente Lula (PT) participou, neste sábado, do painel “Florestas: Protegendo a natureza para o clima, vidas e subsistência”, realizado durante a COP28 em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Durante o evento, Lula expressou sua emoção ao abrir espaço para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), para fazer o uso da palavra. “Precisamos de 28 edições da COP para que, pela primeira vez, a floresta viesse falar por si só. E eu não poderia utilizar a palavra sobre a floresta, se eu tenho no meu governo uma pessoa da floresta. A Marina nasceu na floresta”, disse.
Lula declarou que tinha um discurso preparado, mas optou por ceder a palavra a Marina, destacando a importância de ouvir a voz da ministra, uma vez que ela é nascida na floresta e desempenha um papel fundamental na política de preservação ambiental do governo. Ele ressaltou a justiça em permitir que a responsável pelo sucesso das ações ambientais do país falasse sobre o tema.
“A Marina nasceu na floresta, se alfabetizou aos 16 anos. Eu acho que é justo que, para falar da floresta, ao invés de falar o presidente, que é de um Estado que não é da floresta, a gente tem é que ouvir ela, que é a responsável pelo sucesso da política de preservação ambiental que nós estamos fazendo no Brasil”, declarou o presidente, emocionado.
Marina Silva, por sua vez, apresentou um breve relato das políticas federais para a preservação da floresta, enfatizando as ações de combate ao desmatamento ilegal na Amazônia. Segundo ela, tais medidas resultaram em uma redução de 49,5% na derrubada da floresta nos 10 primeiros meses de governo, evitando a emissão de 250 milhões de toneladas de CO2.
Além disso, a ministra destacou a importância das políticas para os povos indígenas e quilombolas na preservação das florestas. “Os povos originários são responsáveis por 80% das florestas protegidas do mundo, e o povo quilombola agora também tem uma mulher, uma mulher negra, Anielle Franco, uma jovem que está ajudando a proteger a floresta com o povo quilombola”, ressaltou.
Marina Silva salientou que a abordagem do governo não é setorial, permeando todos os ministérios, e mencionou o Plano de Transformação Ecológica apresentado pelo Ministério da Fazenda como um exemplo dessa visão sistêmica. Em relação ao presidente Lula, a ministra destacou que sua diretriz para proteger a floresta vai além do comando e controle, sendo uma orientação para o desenvolvimento sustentável em suas dimensões ambiental, social, econômica e cultural.
Durante a COP, o Brasil propôs que os países com Fundos Soberanos invistam pelo menos US$ 250 bilhões em um Fundo para a manutenção das florestas tropicais em todo o mundo.
Um estudo recente publicado na revista “Perspectives in Ecology and Conservation” aponta que o estado do Acre pode estar experimentando uma mudança significativa nos padrões de eventos climáticos extremos desde o ano de 2010. A pesquisa, realizada em colaboração entre a Universidade Federal do Acre (UFAC), a Universidade Estadual do Ceará (UECE), o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e o centro de pesquisas americano Woodwell Climate, indica que o estado pode ser uma das regiões brasileiras mais afetadas por esses eventos.
Os pesquisadores analisaram uma série de estudos publicados entre 1987 e 2023, assim como decretos estaduais e municipais relacionados a alertas climáticos e ambientais emitidos no mesmo período. Os dados revelam que nos últimos 36 anos, o estado enfrentou 254 eventos climáticos extremos. Desde 2010, há uma tendência constante de aumento na frequência e intensidade dessas ocorrências, quebrando o padrão observado até então.
Sonaira Silva, pesquisadora da UFAC e autora do estudo, destaca que a partir de 2010, houve uma ruptura no padrão anterior. Até 2004, a média indicava um evento extremo por ano nas cidades acreanas. No entanto, desde então, e especialmente após 2010, dois ou mais eventos têm sido registrados com frequência no mesmo ano em um mesmo município. Silva explica que esse é o padrão emergente, indicando que o ambiente não está se regenerando adequadamente após cada evento, tornando-se mais frágil a cada ano.
Durante o período analisado, o estudo revela que 60% das ocorrências foram caracterizadas como incêndios florestais ou queimadas em áreas desmatadas, 33% foram inundações e 6% crises hídricas. Silva destaca que as pessoas mais afetadas geralmente estão em áreas de risco, sendo mais pobres e com menos estrutura. As perdas econômicas em larga escala também são preocupantes, com o Acre tendo o maior custo financeiro por evento entre todos os estados brasileiros entre 2000 e 2015, estimado em mais de 15 milhões de reais a cada crise.
A equipe identificou que as áreas mais populosas, como a capital Rio Branco e o município de Cruzeiro do Sul, são as mais afetadas. “As regiões com menos floresta são aquelas em que os eventos climáticos ocorrem com mais frequência, mas o prejuízo está por todos os lados”, observa Silva.
Para mitigar a situação, a pesquisadora sugere a recomposição da vegetação nativa, a adaptação das cidades para modelos mais sustentáveis e inteligentes, e o cumprimento de políticas e legislações ambientais. Concluindo, ela destaca a necessidade de continuar monitorando de perto a situação para auxiliar na tomada de decisões que possam alterar esse cenário crescente de eventos extremos.
Confira o estudo: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S253006442300072X
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) conduziu a operação Inopinus Flora na Vila Caquetá, município de Porto Acre, nesta quarta-feira, 22, com o objetivo de combater o desmatamento ilegal na região. Os resultados da operação incluíram a apreensão de aproximadamente 96,41m³ de madeira, bem como o fechamento de 08 serrarias que operavam sem a devida licença ambiental.
Segundo o IBAMA, as serrarias foram notificadas em 2022 para regularizar sua situação, entretanto, persistiram em operar sem a devida licença ambiental. Além disso, havia indícios de que a madeira apreendida era oriunda da Terra Indígena Apurinã do KM 124, localizada no município de Boca do Acre-AM. De acordo com a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998), a extração de madeira nessa área configura crime ambiental, sujeito a multas, apreensão de maquinário e até mesmo prisão.
A operação contou com o apoio da Força Nacional de Segurança Pública, responsável pela escolta dos agentes do IBAMA e dos caminhões que transportaram a madeira apreendida.
O material confiscado será avaliado e destinado para programas sociais. Em comunicado, a coordenação da operação destacou que a ação visa proteger o meio ambiente e os direitos dos povos indígenas, ressaltando a importância da operação para coibir o desmatamento ilegal na região, que afeta a biodiversidade, o clima e, especialmente, a vida dos indígenas.
Com informações da Assessoria – Foto: Arquivo/IBAMA