A integração entre Pucallpa, no Peru, e Cruzeiro do Sul, no Acre, voltou a ser discutida em reunião realizada na capital de Ucayali, nesta quarta-feira, 27, com a presença de autoridades peruanas e brasileiras. O tema, “#Conexión estratégica desde la Amazonía” entre Perú y Brasil, considerado histórico, envolve propostas de rodovia, ferrovia e até voos regionais para encurtar distâncias e impulsionar o desenvolvimento econômico e social das duas regiões amazônicas.
O coordenador do Projeto Vial Pucallpa–Changcay, Emer Rivera Castillo, recordou que o Congresso peruano aprovou recentemente, com 104 votos, a lei que declara de interesse nacional o corredor Pucallpa–Changcay. Segundo ele, a proposta deve avançar agora em direção ao Brasil, por meio de Cruzeiro do Sul, consolidando um eixo de integração binacional. “Se há 80 anos já se falava em construir a ferrovia e nada foi feito, hoje temos a oportunidade de unir forças e tornar realidade esse sonho”, afirmou.
O governador regional de Ucayali, Manuel Gambini, destacou que os estudos para a ferrovia Pucallpa–Lima já estão em andamento e defendeu que a rota seja conectada ao Acre. Ele apresentou as vantagens da ligação ferroviária até Cruzeiro do Sul, que permitiria escoar produtos agrícolas e minerais do Peru, como arroz, palma de óleo, madeira e rochas, ao mesmo tempo em que facilitaria a entrada de soja brasileira, reduzindo custos de produção. Para Gambini, a ferrovia é estratégica para a integração ao porto de Chancay, no litoral peruano, viabilizando exportações para a Ásia. “Com o trem chegando a Pucallpa e passando para o Brasil, abre-se uma rota direta de escoamento sem necessidade de transbordo”, disse.
O governador propôs ainda a criação de um Comitê Binacional do Trem Bioceânico, com sede em Pucallpa e Rio Branco, para articular os dois países. Ele defendeu também alternativas provisórias de integração, como a implantação de voos regulares entre Pucallpa e Cruzeiro do Sul. Uma companhia aérea peruana, segundo ele, já estaria em tratativas para oferecer o serviço, que faria o trajeto em apenas 25 minutos. “Enquanto a ferrovia não se concretiza, podemos avançar com a ligação aérea e fortalecer o turismo, os negócios e os laços culturais entre nossas populações”, afirmou.
O tema foi reforçado por autoridades brasileiras. O secretário de Indústria e Tecnologia do Acre, Assur Mesquita, lembrou que a reconstrução da BR-364, anunciada pelo presidente Lula, complementa a proposta de integração. Ele destacou que, do lado brasileiro, o desafio é conciliar infraestrutura com áreas de conservação ambiental e terras indígenas, enquanto no Peru há preocupação semelhante. Ainda assim, defendeu a rota Pucallpa–Cruzeiro do Sul como a mais viável para transportar grandes cargas, sobretudo soja. “Essa ligação pode aliviar o congestionamento logístico de Rondônia, onde mais de mil caminhões por dia esperam para acessar o rio Madeira”, afirmou.
O deputado federal José Adriano também reforçou a importância do projeto. O parlamentar disse que a ferrovia Atlântico–Pacífico em estudo entre Brasil e China deve passar pelo Acre e que a prioridade agora é garantir que o traçado inclua Cruzeiro do Sul e Ucayali. “Não podemos perder mais tempo. Essa integração é fundamental para gerar riqueza e melhorar o IDH da região”, disse. O deputado estadual Luiz Gonzaga lembrou que a luta já dura mais de 40 anos e que, no passado, havia voos semanais entre as duas cidades, além de jogos de futebol e intercâmbios culturais. Para ele, a retomada da ligação aérea é urgente, mas a rodovia e a ferrovia são essenciais para consolidar o desenvolvimento. “São apenas 110 quilômetros que nos separam. O benefício para turismo, agricultura e indústria será enorme”, afirmou.
Parlamentares peruanos também assumiram compromisso político de defender a integração. Francis Paredes e Carol Paredes ressaltaram que o tema está na agenda do Parlamento Amazônico e deve avançar em reuniões com o governo central. “Este não é apenas um sonho dos brasileiros, mas também dos peruanos. Nossos produtos amazônicos precisam de portas abertas ao mundo, e a conexão com o Brasil é estratégica para isso”, disse Francis Paredes.
O encontro terminou com o entendimento de que a ligação Pucallpa–Cruzeiro do Sul deve ser tratada como prioridade binacional. Entre as medidas propostas estão a formalização de um comitê conjunto, a busca de acordos entre presidentes e congressos dos dois países e a implementação de soluções imediatas, como voos regionais, enquanto avançam os estudos para rodovia e ferrovia. Para as autoridades presentes, a integração deixaria de ser um sonho antigo e passaria a ser um projeto concreto de desenvolvimento para o Acre e Ucayali.
A Assembleia Legislativa do Acre participa, entre 3 e 5 de dezembro, em Bento Gonçalves (RS), da 28ª Conferência Nacional da Unale, que reúne parlamentares estaduais de todo o país para discutir o papel dos Legislativos no contexto da inteligência artificial e das emergências climáticas. Além da presença institucional, a ALEAC concorre ao prêmio nacional da entidade nas categorias projetos especiais e reportagem legislativa, resultado de iniciativas desenvolvidas ao longo de 2025.
A conferência deste ano tem como eixo o tema Humanidade Conectada: Os Legislativos Estaduais no Tempo da IA e das Emergências Climáticas, conforme o material oficial apresentado pela organização do evento. Paralelamente à programação central, está prevista uma reunião do Parlamento Amazônico para analisar os resultados da COP realizada no Brasil, além da assembleia do Colegiado de Presidentes das Assembleias, que contará com a participação do presidente da ALEAC, deputado Nicolau Júnior.
A disputa da ALEAC pelo prêmio nacional inclui o projeto Redação Nota Mil, desenvolvido pela Escola do Legislativo Acreano, que atendeu mais de 1.700 jovens ao longo do ano. A iniciativa é destacada pela instituição como uma estratégia de aproximação com estudantes e preparação para avaliações educacionais. Segundo a Unale, os estados concorrem com iniciativas que demonstram impacto social, inovação legislativa ou relevância para a formação cidadã.
O histórico de participação da ALEAC na premiação inclui o segundo lugar na edição de 2024, realizada no Rio de Janeiro, quando o Legislativo acreano apresentou o programa de aulas preparatórias para o Enem desenvolvido em uma aldeia indígena na zona rural de Feijó. A continuidade das inscrições em 2025 reforça o interesse do Legislativo acreano em manter projetos voltados à educação, inclusão e fortalecimento da atuação institucional.
A conferência propõe que os Legislativos discutam tendências digitais, impactos da IA na gestão pública e respostas às crises climáticas que afetam diferentes regiões do país.
A Câmara de Rio Branco tenta ampliar sua fatia no orçamento municipal ao propor que contribuições previdenciárias sejam incluídas na base de cálculo do duodécimo. A medida, protocolada em 11 de novembro de 2025, pode elevar o repasse anual de cerca de R$ 60 milhões para até R$ 80 milhões.
A Câmara Municipal de Rio Branco decidiu testar os limites da responsabilidade fiscal. A proposta de emenda à Lei Orgânica, apresentada em 11 de novembro de 2025, tenta incluir contribuições previdenciárias na base de cálculo do duodécimo. O objetivo é óbvio: inflar o repasse ao Legislativo.
Não se trata de garantir “independência”, como tenta argumentar a justificativa oficial. Trata-se de aumentar o caixa da própria Câmara em um momento de crise, enquanto a Prefeitura corta despesas, revisa contratos e tenta manter serviços essenciais funcionando.
Caso aprovada, a mudança reduzirá o volume de recursos disponíveis para áreas como saúde, educação e assistência social, além de aproximar o Executivo dos limites de despesa com pessoal previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal.
A reportagem procurou membros do TCE que foram enfáticos ao classificar a tentativa como um desvio de cálculo e alertam para riscos de sanções, responsabilização de gestores e pressão sobre os limites fiscais da Prefeitura. Em outras palavras: a Câmara tenta empurrar o Executivo para o abismo fiscal e, com isso, arrastar toda a cidade junto. “Esse tipo de inclusão distorce a receita disponível do município. É um movimento que contraria a técnica orçamentária, pressiona os limites fiscais e cria risco de sanções para quem autorizar ou executar.”
Recentemente, a Câmara aprovou o aumento das emendas parlamentares de 1,15% para 2% do orçamento. As duas medidas ampliam a participação do Legislativo nas receitas municipais em um momento de cortes e ajustes promovidos pelo Executivo.
A proposta tramita na Câmara em meio a questionamentos técnicos e já nasce sob risco de judicialização. No fim das contas, a manobra não fortalece o Legislativo enfraquece Rio Branco, corrói o orçamento municipal e compromete serviços essenciais.
E, como sempre, nessa política de “pouca farinha, meu pirão primeiro”, quem acaba arcando com o ônus não é o vereador nem o gestor: é o povo, que paga a conta.
A Câmara Municipal de Rio Branco iniciou, na manhã de 1º de dezembro, o processo de análise da Lei Orçamentária Anual de 2026 durante audiência pública conduzida pelo vereador Márcio Mustafá, presidente da Comissão de Orçamento, Finanças e Tributação. O encontro, realizado no plenário da Casa, buscou discutir o Projeto de Lei Complementar nº 33/2025, que estima receitas e fixa despesas do Município para o próximo ano, reunindo parlamentares, gestores da Prefeitura, representantes de instituições e membros da sociedade civil.
A abertura do debate foi marcada pela fala de Mustafá, que destacou a função estratégica da LOA no planejamento municipal. “Aqui não tratamos apenas de números, mas de prioridades. Discutimos qual cidade queremos construir”, afirmou. Ele também reforçou o papel do Legislativo no processo e ressaltou que o orçamento precisa alcançar as comunidades e serviços essenciais.
O secretário municipal de Planejamento, Wilson Leite, apresentou os parâmetros técnicos da proposta e afirmou que o processo foi conduzido com transparência. “A gente traz e compartilha com toda a população os números de Rio Branco e como chegamos a esses valores”, disse. Ele reconheceu ainda o esforço das equipes técnicas envolvidas na elaboração da proposta. Na exposição subsequente, a diretora de Orçamento Municipal, Renata Costa, explicou a evolução das receitas e despesas, incluindo reduções aplicadas em estimativas anteriores. Segundo ela, a operação de crédito prevista para 2025, de R$ 175 milhões, foi reavaliada para R$ 67 milhões em 2026, e a receita patrimonial ficou abaixo do estimado no período anterior, exigindo ajustes.
O debate também recebeu contribuições da sociedade civil. Representando o Movimento Junino, Paulo Leopoldo Lima defendeu a inclusão do segmento no orçamento, lembrando o impacto econômico do setor e os custos envolvidos na manutenção das quadrilhas. “É um trabalho que movimenta costureiras, aderecistas, coreógrafos e empreendimentos comunitários”, afirmou.
Entre os parlamentares, surgiram preocupações relacionadas à participação popular, cultura, esporte e serviços essenciais. O vereador Fábio Araújo questionou o alcance da consulta pública, que não atingiu 1% da população, e apontou valores reduzidos nos fundos municipais. Zé Lopes relatou demandas por água, pavimentação e limpeza pública nas comunidades. Samir Bestene alertou para impactos da redução orçamentária sobre agricultura familiar, assistência social e investimentos. André Kamai destacou a baixa confiança da população no processo participativo e mencionou que o orçamento destinado à cultura se aproxima do valor gasto com decoração natalina no Município. Já Felipe Tchê chamou atenção para a queda nos investimentos, que passam de R$ 529 milhões em 2025 para R$ 375 milhões em 2026.
Em resposta aos questionamentos, o secretário Wilson Leite explicou limites legais e financeiros enfrentados pela gestão municipal. Ele citou a inadimplência na taxa de limpeza pública, que arrecadou R$ 9 milhões dos R$ 20 milhões lançados, e lembrou que 80% do orçamento está comprometido com despesas obrigatórias, como saúde, educação e folha de pagamento.
As discussões seguirão nas comissões permanentes e posteriormente em plenário até a votação final da LOA 2026.