O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) realizou uma expedição científica na Estação Ecológica Rio Acre, com foco na ampliação do monitoramento ambiental e da biodiversidade. A iniciativa integra o Programa Monitora, que atua em 125 unidades de conservação em todo o país e busca gerar dados consistentes sobre a fauna, flora e qualidade ambiental dos ecossistemas brasileiros.
Localizada no sudoeste do Acre, a Estação Ecológica Rio Acre recebeu ações voltadas ao monitoramento de mamíferos, aves, borboletas e plantas, espécies que servem como indicadores biológicos. A expedição aplicou tanto metodologias simples, que exigem poucos recursos, quanto protocolos mais complexos, que envolvem tecnologias e especialistas para análise de determinados grupos.
Segundo os responsáveis pela atividade, a operação contemplou todos os grupos monitorados, utilizando protocolos padronizados de alta exigência técnica. A diversidade biológica encontrada na unidade inclui organismos ainda pouco conhecidos pela ciência, destacando a relevância da área para pesquisas e estratégias de conservação.
A Estação Ecológica Rio Acre foi criada com o objetivo de preservar as nascentes do rio que dá nome à unidade. Sua posição estratégica na região garante a manutenção de serviços ecossistêmicos essenciais, como o transporte fluvial e a segurança hídrica para comunidades ribeirinhas e para a capital, Rio Branco.
O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima coordena a iniciativa, reforçando a política federal de conservação da biodiversidade por meio de instrumentos científicos e integrados à gestão territorial.
Uma nova liderança amazônida se destaca na agenda climática nacional. A acreana Jullie Messias, natural do Vale do Juruá, acaba de protagonizar um marco em sua trajetória ao liderar a realização da 3ª Conferência Brasileira Clima e Carbono, evento que reuniu mais de 600 participantes no Memorial da América Latina, em São Paulo.
Recém-empossada na direção da Aliança Brasil NBS (Soluções Baseadas na Natureza), Jullie assumiu o cargo em um momento de transição pessoal e institucional, trazendo consigo mais de uma década de atuação na agenda ambiental e climática. “Assumi essa função fortalecida pela luz dos meus filhos”, declarou em suas redes sociais, destacando também a mudança de cidade e de ritmo de vida como parte desse novo ciclo.
Sob sua liderança, a Conferência cresceu em representatividade e impacto. Em dois dias intensos de programação, o evento contou com 20 painéis temáticos, mais de 90 painelistas e 18 moderadores, além de exposições fotográficas, reuniões com governos, comunidades e redes de mulheres. Foi um espaço de diálogo plural, com trocas significativas entre setores públicos, privados e da sociedade civil, algo essencial diante do horizonte da COP30 na Amazônia, marcada para 2025 em Belém do Pará.
“Seguimos com escuta, integridade e ação real”, afirmou Jullie, reafirmando seu compromisso com uma construção coletiva e baseada nos saberes dos territórios. Sua origem no Juruá, uma das regiões mais biodiversas, mas também mais vulneráveis da Amazônia ecoa em sua atuação. Jullie leva à mesa de decisões a perspectiva de quem viveu de perto os efeitos da crise climática, e que agora luta para reposicionar a floresta como protagonista das soluções. Sua atuação articula inovação, justiça climática e a valorização de práticas tradicionais.
O Evento reunimos, no Memorial da América Latina, em São Paulo, mais de 600 pessoas em um espaço de diálogo qualificado, diverso e representativo. Foto: Reprodução/ Instagram
Com foco nas Soluções Baseadas na Natureza, a conferência também representou um avanço no fortalecimento de práticas sustentáveis que integram conservação, restauração e uso responsável dos ecossistemas, com benefícios para o clima, a biodiversidade e as pessoas.
Ao agradecer os membros da Aliança, os painelistas e os patrocinadores, Jullie reforçou um sentimento coletivo de propósito: fazer da agenda climática um compromisso com a vida, os territórios e as futuras gerações.
A liderança de Jullie Messias inaugura um novo capítulo na atuação climática brasileira um capítulo onde a floresta fala por si, e quem vem do interior da Amazônia assume com autoridade os rumos de um futuro mais justo e sustentável.
Representantes de comunidades indígenas intensificaram nesta semana a mobilização contra o Projeto de Lei 2159/21, aprovado na Câmara dos Deputados e atualmente em análise pela Presidência da República. O projeto altera as regras de licenciamento ambiental no Brasil, reduzindo exigências para obras com potencial de impacto, como hidrelétricas, estradas e atividades de mineração.
Lideranças indígenas, por meio da Rede de Comunicadores Indígenas do Acre, divulgaram um vídeo pedindo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vete integralmente o projeto. A preocupação central é que, com a nova proposta, empreendimentos possam ser executados sem estudos de impacto ambiental nem consulta prévia às comunidades diretamente afetadas.
“Esse projeto coloca nossas florestas, nossos territórios e nossas vidas em risco”, afirma Uhnepa Nukini, comunicador do povo Nukini, no material divulgado. Segundo ele, a proposta fragiliza mecanismos de controle e fiscalização ambiental e compromete direitos garantidos aos povos originários.
O PL 2159 é alvo de críticas de diversos setores da sociedade civil, incluindo especialistas em meio ambiente, movimentos sociais e organizações indígenas. Para esses grupos, a aprovação da medida representa um retrocesso na legislação ambiental brasileira, ao flexibilizar normas que foram construídas ao longo de décadas com base em tratados internacionais e pactos nacionais.
As lideranças alertam que o projeto beneficia apenas grandes empreendimentos e corporações, em detrimento da preservação dos ecossistemas e dos modos de vida tradicionais. “O veto é pela vida. O veto é pelos nossos territórios”, resume o apelo da campanha.
Pesquisadoras brasileiras identificaram uma nova espécie de borboleta na Amazônia com um comportamento ecológico inédito, envolvendo uma complexa interação com formigas e cochonilhas. O achado ocorreu na Reserva Particular do Patrimônio Natural do Cristalino, localizada em Alta Floresta (MT), e foi registrado por uma equipe vinculada à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e ao Instituto Federal de São Paulo (IFSP).
A borboleta batizada como Annulata kaminskii é a segunda espécie descoberta na reserva, que abriga mais de mil espécies de borboletas. O estudo que documenta o comportamento foi publicado na revista científica Neotropical Entomology, e contou com a participação de quatro pesquisadores, incluindo Luísa Mota e Noemy Seraphim.
Segundo a pesquisa, as lagartas da A. kaminskii se alimentam do néctar e da cera produzidos por cochonilhas que vivem em bambuzais. Após consumir essa substância, as lagartas secretam outro tipo de néctar, que é aproveitado por formigas da região. Em troca, as formigas passam a proteger tanto as lagartas quanto as cochonilhas contra possíveis predadores.
De acordo com Luísa Mota, a maioria das lagartas se alimenta diretamente de folhas, mas neste caso, a espécie depende exclusivamente das secreções das cochonilhas, o que representa uma forma de alimentação extremamente especializada. A pesquisadora ressalta que esse tipo de interação tripla, envolvendo quatro níveis ecológicos — borboleta, formigas, cochonilhas e o bambuzal —, é raro e não havia sido descrito antes.
A relação simbiótica observada reforça a singularidade da fauna amazônica e destaca a importância da conservação da floresta. “Encontramos um sistema que nunca tinha sido registrado, com uma interação muito específica e delicada”, afirma Noemy Seraphim. A borboleta homenageia Lucas Kaminski, pesquisador da Universidade Federal de Alagoas, especialista em relações entre formigas e borboletas.
O comportamento ecológico observado é tão dependente do ambiente natural que os cientistas não conseguiram reproduzir com sucesso o ciclo de vida das lagartas em laboratório. As tentativas de criá-las fora do habitat resultaram em sobrevivência por apenas duas semanas. Análises genéticas confirmaram que se tratava de uma espécie distinta, mas a ausência do néctar produzido pelas cochonilhas impediu o desenvolvimento completo das lagartas.