No palco da Jornada Latines, a talentosa poeta acreana Natielly Castro, conhecida como Natidepoesia, não apenas recitou versos, mas fez história, no último dia 17, conquistando o III Torneio Singulares, em São Paulo. Em uma competição exclusivamente composta por mulheres, travestis, pessoas transmasculinas e não binárias, Natidepoesia trouxe a força da poesia acreana para o cenário nacional, conquistando o público e transmitindo sua potência criativa.
“O mais impactante foi conseguir levar a mensagem do Acre, ser ouvida, se sentir acolhida, se sentir protagonista da própria história e acima de tudo representar o nosso Acre como um estado que produz, que tem uma potência criativa, que tá em movimento o ano inteiro e que merece estar em todos os espaços”, afirmou a poeta.
O torneio é parte da segunda edição da Jornada Latines, promovida pela Coletiva Slam das Minas SP, uma batalha de poesia com ênfase em questões de gênero. Seu propósito é abordar temas feministas e sociais, além de fomentar discussões sobre racismo, machismo e LGBTfobia.
A programação do III Torneio Singulares contou com a participação de 14 poetas de 11 estados brasileiros, incluindo Bahia, Pernambuco, Brasília, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pará, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Paraná.
Imersa em tanta história e tantos talentos, Natielly mostrava ao público suas palavras enquanto trilhava em seus pensamentos: “Antes de subir no palco eu só pensava: ‘você precisa terminar toda a sua poesia’. E na hora que eu estava recitando a minha poesia eu ficava pensando em cada pessoa que fazia esse movimento no Acre. Ficava pensando no nosso coletivo, no nosso trabalho. E pensando que ali era o momento que era para dar o melhor de mim, fazer de fato uma representação do que a gente faz aqui no Acre”
E naquele palco, Natidepoesia viveu uma realidade: a poesia acreana está viva e forte: “Depois de recitar, parecia que aquilo não era real, parecia que eu estava vivendo um sonho ou qualquer coisa desse tipo. Recitar e falar minha poesia nesse espaço foi como se fosse uma realização também profissional, mas uma realização coletiva.”
O cantor, compositor e escritor Sérgio Souto fará o lançamento do livro “Versos Colaterais: detalhes de poesia numa realidade paralela” no dia 26 de abril de 2025, no Cine Teatro Recreio, em Rio Branco. O evento será gratuito e contará com apresentação musical.
A obra é publicada pela Editora Social e reúne 74 poemas. O prefácio é assinado pelo jornalista e escritor Pitter Lucena. O conteúdo reúne experiências do autor, natural de Sena Madureira, que construiu carreira nacional a partir da relação com a musicalidade da região amazônica.
Sérgio Souto se mudou para o Rio de Janeiro aos 15 anos e passou a compor profissionalmente a partir de 1979. Tem 14 discos lançados e músicas gravadas por artistas como Elba Ramalho, Nelson Gonçalves, Fagner, Jorge Vercilo, Jessé, Claudio Nucci e Nilson Chaves. Também participou de festivais como o Festival dos Festivais (TV Globo), Festival da TV Tupi e Rodada Brahma.
O artista já se apresentou em palcos como o Maracanãzinho (RJ), Teatro Amazonas (AM), Teatro da Paz (PA), Teatro Castro Alves (BA), Dragão do Mar (CE) e Teatro Plácido de Castro (AC).
No lançamento, Sérgio destaca o livro como uma extensão de sua trajetória musical, reunindo reflexões que dialogam com sua identidade e trajetória na Amazônia.
Reportagem publicada pela plataforma Amazônia Real, com autoria da arqueóloga Bruna Rocha, apresenta argumentos científicos contra a aplicação da tese do Marco Temporal para definir o direito territorial dos povos indígenas no Brasil. A autora destaca evidências arqueológicas que comprovam ocupações humanas indígenas contínuas há pelo menos 12 mil anos na Amazônia, contestando a ideia de que a ocupação válida se limite à data da promulgação da Constituição de 1988.
O texto aponta que os povos indígenas participaram ativamente da transformação ambiental e do desenvolvimento de tecnologias, como a domesticação de alimentos e a produção cerâmica. Essas evidências incluem as chamadas terras pretas de índio, solos antrópicos altamente férteis, e sítios arqueológicos datados de até oito mil anos, como os encontrados no baixo rio Amazonas.
A autora critica trechos do Projeto de Lei 490, como o inciso IV do artigo 16, que permite a perda da terra indígena caso haja “alteração dos traços culturais da comunidade”. A argumentação considera essa exigência baseada em uma visão colonial e desatualizada, desconsiderando a historicidade e as mudanças vividas por esses povos.
A reportagem também menciona que a tese do Marco Temporal ignora os efeitos do regime de tutela imposto pelo Estado brasileiro ao longo do século 20, o que inviabilizava legalmente a atuação dos povos indígenas em disputas territoriais até a redemocratização. Segundo Bruna Rocha, a própria Fundação Nacional do Índio (atualmente Fundação dos Povos Indígenas) emitiu documentos que negavam a presença de indígenas em áreas requeridas para empreendimentos durante o regime militar.
Como exemplo de continuidade histórica de ocupação, o texto cita a aldeia Sawré Muybu, do povo Munduruku, situada sobre um sítio arqueológico datado do ano 1000 d.C., no médio Tapajós (PA), além da cidade de Santarém, no Pará, que apresenta mil anos de ocupação indígena contínua.
A autora conclui que os dados arqueológicos, somados às denúncias constantes de violações de direitos humanos, como as registradas no relatório da Comissão Nacional da Verdade, evidenciam a incompatibilidade do Marco Temporal com a realidade histórica e social dos povos indígenas brasileiros.
Um grupo de jovens comunicadores indígenas do Acre produziu um vídeo baseado em narrativas tradicionais do povo Huni Kuĩ. O trabalho foi realizado durante a 5ª Oficina de Comunicadores Indígenas, ocorrida entre os dias 9 e 20 de setembro, no Centro de Formação dos Povos da Floresta (CFPF).
A produção apresenta a história do Quatipuru encantado, um conto tradicional Huni Kuĩ que relata a transformação de um animal em ser humano. No enredo, uma mulher encontra um quatipuru encantado enquanto busca água no igarapé. Após um breve diálogo, o quatipuru se transforma em homem, casa-se com a mulher, tem três filhos e contribui com a comunidade ao cultivar uma plantação de legumes. O desfecho da narrativa envolve a fuga do personagem principal com seus filhos após descobrir um plano contra sua vida.
O vídeo foi idealizado e produzido pelos próprios participantes da oficina, como parte de uma iniciativa voltada à valorização das culturas indígenas e ao fortalecimento da comunicação feita por jovens das comunidades.
A oficina integra um esforço coletivo para registrar e divulgar saberes tradicionais por meio de linguagens audiovisuais, promovendo o protagonismo indígena na produção de conteúdos culturais.