Nos últimos anos, tem-se debatido extensivamente sobre o potencial dos estados amazônicos, como o Acre, em se tornarem grandes expoentes na exportação de recursos naturais e produtos sustentáveis. No entanto, uma pergunta persiste no cenário econômico: quando essa promessa de potencial finalmente se traduzirá em uma realidade efetiva de um estado exportador?
O potencial é inegável. A Amazônia abriga uma das maiores biodiversidades do planeta, oferecendo uma ampla gama de produtos naturais valiosos para mercados globais. No caso específico do Acre, a diversidade de suas florestas, aliada à agricultura familiar e aos produtos agroflorestais, oferece um leque variado de oportunidades para exportação, desde madeiras nobres até frutos regionais e produtos não madeireiros, como a borracha e óleos essenciais.
Então, o que impede essa transição de um estado com potencial para um estado exportador consolidado? Uma das grandes barreiras reside na falta de infraestrutura logística adequada, que dificulta o escoamento da produção até os mercados internacionais. A ausência de investimentos em estradas, portos e aeroportos limita a capacidade de alcançar eficientemente esses mercados, tornando o processo de exportação custoso e pouco competitivo.
É crucial reconhecer que o papel do poder público é fundamental nesse contexto. O Estado deve desempenhar o papel de criar políticas públicas que promovam o desenvolvimento sustentável, incentivem a inovação, proporcionem capacitação técnica aos produtores locais e invistam em infraestrutura logística.
O estímulo à criação de programas, como o Exporta Mais Amazônia, é um passo positivo nessa direção. Esses programas buscam identificar e apoiar setores econômicos com potencial exportador, promovendo rodadas de negócios e facilitando a entrada em mercados estrangeiros. No entanto, para alcançar uma transição efetiva, são necessárias medidas mais abrangentes e contínuas.
A infraestrutura logística é um ponto chave que requer investimentos substanciais e contínuos por parte do Estado, visando à melhoria das estradas, portos e aeroportos. Além disso, é fundamental a implementação de políticas que valorizem a sustentabilidade, promovendo práticas de produção responsáveis e incentivando certificações que atestem a origem ecológica dos produtos.
O poder público também desempenha um papel crucial na facilitação do acesso a crédito para os produtores, na oferta de assistência técnica e na promoção de parcerias entre instituições de pesquisa, empresas e comunidades locais, visando ao desenvolvimento de novas tecnologias e à agregação de valor aos produtos.
É fundamental considerar que a capacidade de atender a um mercado internacional vai além do potencial qualitativo dos produtos. A busca pela exportação antes de atender a demanda local ou sem uma produção quantitativa pode ser um desafio significativo. É como tentar vender algo que ainda está em estágios iniciais de produção ou, em alguns casos, que sequer tem uma presença consolidada no mercado interno.
A exemplo da Cooperacre, cooperativa que atua no Acre. Apesar de possuir uma fábrica moderna, marca consolidada e diversidade de embalagens, sua capacidade produtiva permanece ociosa. A falta de competitividade no mercado, ausência de estratégias de marketing eficazes e investimentos limitados em inovação resultam na subutilização da fábrica. A empresa espera por incentivos estatais, mas carece de um plano sólido para expandir, adaptar-se às demandas do mercado e competir efetivamente. Esta dependência dos subsídios governamentais sem uma estratégia empresarial robusta compromete a viabilidade a longo prazo, dificultando a entrada em novos mercados e minando o crescimento sustentável da empresa.
Nesse contexto, a pergunta crucial emerge: como podemos vender para o exterior algo que ainda não produzimos em quantidades suficientes para atender até mesmo a demanda local? A construção de uma presença sólida no mercado local é crucial para fortalecer a produção e a qualidade dos produtos, antes de iniciar uma expansão para mercados internacionais. Essa estratégia não apenas garante uma base sólida de produção, mas também proporciona insights valiosos sobre preferências do consumidor, ajustes necessários nos produtos e na estratégia de marketing, permitindo, assim, uma entrada mais assertiva nos mercados internacionais.
O momento atual da produção de café no estado é de grande expectativa, com reconhecimento merecido para os produtores comprometidos com a qualidade e a tradição. No entanto, esse cenário também testemunha a presença de indivíduos que veem no café uma oportunidade econômica momentânea. Esses aventureiros, muitas vezes desprovidos do compromisso necessário, visam a lucros imediatos em detrimento da preservação da qualidade e da autenticidade locais. Essa abordagem, focada apenas no ganho rápido, pode ameaçar a reputação e a identidade do café estadual, prejudicando o trabalho dos produtores dedicados e comprometidos com a qualidade ao longo do tempo.
Em resumo, a transição de um estado com potencial para um estado exportador consolidado depende de uma abordagem conjunta, envolvendo o setor privado, o poder público e a sociedade. O investimento em infraestrutura, a promoção de práticas sustentáveis, a valorização da produção local e a abertura de novos mercados são passos essenciais nessa jornada. Somente com esforços coordenados e contínuos poderemos testemunhar o pleno aproveitamento do potencial exportador do Acre e de toda a região amazônica.
Alexandre N. Nobre