O Ministério Público do Acre divulgou a história de Rubby da Silva Rodrigues, a primeira mulher trans no estado a ser oficialmente amparada pela Lei Maria da Penha. O caso foi apresentado na segunda edição da websérie da campanha “MP em Ação: Fortalecimento do Ministério Público Brasileiro no Combate ao Feminicídio – Respeito e Inclusão”.
Rubby compartilhou sua trajetória no enfrentamento à violência doméstica e destacou o processo de busca por reconhecimento e proteção legal. Desde a infância, relata ter percebido que seu gênero não correspondia às expectativas impostas, mas a compreensão e a aceitação social vieram com dificuldades. “Desde quando eu era criança, eu já me reconhecia diferente, mas eu não entendia o que era esse ser diferente”, disse Rubby.
A violência em sua vida culminou em um episódio grave, no qual, ao buscar ajuda, encontrou resistência institucional. Após sofrer agressões, procurou a delegacia, mas relata que inicialmente não encontrou acolhimento. “Eu estava toda machucada, cortada. Ele quase tirou a minha vida”, contou.
Com o apoio do Ministério Público e do Centro de Atendimento à Vítima, Rubby conseguiu uma medida protetiva com base na Lei Maria da Penha. A decisão representa um marco na aplicação da legislação para a proteção de mulheres trans no estado e levanta discussões sobre o acesso igualitário à justiça.
A iniciativa integra os esforços do Ministério Público para ampliar a proteção legal às vítimas de violência de gênero, reconhecendo a diversidade e promovendo inclusão. O depoimento de Rubby é parte da estratégia da campanha para visibilizar casos e fortalecer mecanismos institucionais de enfrentamento à violência.
Preocupado com os impactos da Operação Suçuarana, do ICMBio, e os recentes conflitos na Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, o senador Sergio Petecão (PSD-AC) se reuniu, nesta quarta-feira (18), com o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Mauro Pires. O encontro foi marcado por um entendimento aberto, com o objetivo de esclarecer os fatos e buscar soluções equilibradas para a situação das famílias que vivem na reserva.
“Tivemos uma conversa franca com o presidente Mauro Pires. Tirei muitas dúvidas e ouvi a versão do órgão. Meu papel é esse: buscar o entendimento, procurar outros órgãos, se for preciso, para garantir os direitos das pessoas que moram na reserva. Temos problemas? Temos. Acredito, porém, que com trabalho a gente conseguirá amenizar o sofrimento dessas famílias”, afirmou Petecão.
Destacou ainda que o diálogo precisa prevalecer, com transparência e compromisso com quem mais precisa. “O melhor caminho é o entendimento. Às vezes, a verdade não agrada, mas meu mandato é para ajudar a todos, principalmente os que mais sofrem”, completou.
Durante a reunião, o presidente do ICMBio, Mauro Pires, explicou que a operação em andamento se concentra em casos específicos e graves, e não em famílias tradicionais da reserva. Segundo ele, a ação foi precedida por diversas notificações ao longo dos últimos anos.
“O que está acontecendo é uma operação de fiscalização em duas áreas específicas da Resex. Uma, foi notificada pela primeira vez em 2011 e a outra, em 2016. Foram várias notificações para a retirada voluntária do gado, mas as ordens não foram cumpridas. Essas áreas estão ocupadas por pessoas que não são extrativistas tradicionais. São grandes criadores, com 200, 300 cabeças de gado, prática incompatível com os objetivos da reserva”, esclareceu Pires.
O presidente reforçou que a atuação do órgão é pautada pela lei e tem como foco a preservação ambiental e a proteção das comunidades extrativistas que vivem na região há gerações.
“A Resex Chico Mendes tem mais de 3 mil famílias que vivem ali de forma sustentável. A reserva permite a agricultura de subsistência, a pequena criação de animais. O que estamos combatendo são grandes ocupações ilegais, muitas vezes com decisão judicial favorável ao ICMBio. Não se trata de expulsar pequenos produtores. É garantir que essa área pública cumpra sua função social e ambiental”, afirmou.
A Reserva Chico Mendes, criada nos anos 1990, possui cerca de 970 mil hectares e exerce papel fundamental na preservação ambiental do Acre, especialmente no equilíbrio do ciclo das águas do Rio Acre.
Acre ganha protagonismo nas exportações e mira nova economia amazônica
O estado alcança recordes históricos em vendas internacionais e atrai investimentos estratégicos para cadeias produtivas como carne, castanha, café e bioeconomia.
Nos últimos dois anos, o Acre passou a figurar com mais força no mapa da exportação brasileira. A mudança não veio por acaso: é resultado de uma série de ações articuladas no estado, com apoio direto da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). A reportagem acompanhou de perto esse movimento, ouvindo fontes locais, cobrindo anúncios e levantando dados de iniciativas que, juntas, vêm reposicionando o estado na agenda do comércio exterior.
O crescimento das exportações é um dos sinais mais concretos dessa transformação. Em 2024, o Acre movimentou US$ 87,3 milhões em vendas internacionais, o maior valor da história do estado e 90,5% superior ao registrado em 2023. O avanço foi puxado principalmente pelos embarques de carnes e castanha do Brasil. As exportações de carne bovina desossada, congelada, por exemplo, saltaram de US$ 227 mil para US$ 18,4 milhões em um ano. Já a carne suína congelada passou de US$ 4,5 milhões para US$ 15,9 milhões no mesmo período.
Também merece destaque o desempenho da castanha do Brasil, que avançou de US$ 5,7 milhões em 2023 para US$ 10,4 milhões em 2024. Mesmo com uma quebra de safra em 2025, o setor continuou ativo e, até maio, já somava US$ 8,4 milhões exportados. A curva ascendente acompanha uma presença mais ativa da agência de promoção de exportações no estado, com investimentos em capacitação, promoção internacional e estrutura produtiva.
Além do salto nas exportações, o número de empresas acreanas atendidas pela ApexBrasil também atingiu recorde: 66 empreendimentos contaram com algum tipo de apoio da agência em 2024. Destas, 51 foram micro e pequenas empresas. 30 participaram de ações de capacitação, 28 de promoção comercial e 19 utilizaram serviços de inteligência de mercado.
Entre os programas que ajudam a explicar esse avanço está o PEIEX (Programa de Qualificação para Exportação), relançado em 2023 no estado com a meta de atender 50 empresas locais. O investimento, de R$ 650 mil, foi feito em parceria com o Sebrae-AC. Na fase anterior do programa, entre 2019 e 2021, 52 empresas acreanas já haviam sido capacitadas.
Outro marco relevante foi o anúncio, em fevereiro de 2025, de R$ 12 milhões para a construção de duas agroindústrias de beneficiamento e secagem de café, uma em Rio Branco e outra em Xapuri. A iniciativa, voltada para pequenos produtores e extrativistas, pretende dar escala e valor agregado à produção local.
Na agenda da bioeconomia, o Acre passou a integrar, desde 2023, o programa Exporta Mais Amazônia, que visa inserir produtos da floresta no mercado internacional. Em uma das ações mais expressivas, realizada em novembro de 2023, a agência trouxe 20 importadores estrangeiros para Xapuri e Rio Branco. Eles participaram de 260 reuniões de negócios com empresas locais e negociaram R$ 50 milhões em exportações. Compradores vieram de países como Canadá, Singapura, Emirados Árabes, China, Espanha e Peru.
Com apoio da Apex, empresas locais também participaram de rodadas de negócios na América Latina, especialmente no México, Panamá e Colômbia. Dom Porquito, Cooperacre e Frigo Nosso são alguns dos nomes que passaram a ganhar projeção internacional.
Desde fevereiro de 2024, o Acre também passou a integrar a Mesa Executiva da Castanha do Brasil, coordenada pela ApexBrasil. A iniciativa busca destravar entraves logísticos e regulatórios na cadeia da castanha, com participação de cooperativas de Rio Branco e Sena Madureira. Entre os resultados práticos estão a simplificação de certificações e o acesso ampliado a recursos do Plano Safra.
Em maio de 2024, a agência organizou uma Missão de Biomateriais no Acre, em parceria com a Assintecal. A ação levou técnicos a Rio Branco e Cruzeiro do Sul para fomentar a produção de materiais sustentáveis voltados à indústria da moda e calçados, conectando a biodiversidade a mercados globais.
Outro passo importante foi dado em abril de 2025, quando a ApexBrasil apoiou a assinatura de um convênio com o Banco da Amazônia, destinando R$ 82 milhões à estruturação das cadeias de suinocultura e aves no estado. O acordo inclui a construção de 250 galpões de suínos e 40 de aves, com participação direta de empresas como Dom Porquito e Acreaves, mirando o fortalecimento da base produtiva rural e da classe média no campo.
Ao todo, o Acre recebeu 11 eventos da agência nos últimos dois anos — entre missões comerciais, feiras internacionais e rodadas de negócios. Além disso, empresas do estado participaram de missões presidenciais e diplomáticas internacionais organizadas pela ApexBrasil desde de 2023. Foram 15 agendas presidenciais, 2 vice-presidenciais e 9 encontros com setores comerciais de embaixadas brasileiras no exterior, que possibilitaram a empresas acreanas dos setores de carnes, castanhas, frutas e borracha apresentar demandas e abrir novos mercados. A movimentação, até pouco tempo inédita nessa escala, ajuda a explicar a mudança de patamar.
Por trás dessa nova fase, está um nome já conhecido no estado: Jorge Viana. Ex-governador e ex-senador pelo Acre, ele assumiu a presidência da ApexBrasil no início do terceiro mandato de Lula. Desde então, tem adotado uma estratégia que amplia a presença da agência na Amazônia e aproxima iniciativas de desenvolvimento sustentável de mercados internacionais. Viana esteve pessoalmente no Acre ao menos dez vezes em 2024, articulando programas e ampliando a visibilidade de empreendimentos locais no exterior.
Essa atuação, somada ao dinamismo de empreendedores, cooperativas e produtores locais, aponta para um cenário promissor. Com suporte técnico e articulação institucional, o Acre demonstra que tem potencial para liderar uma nova geração de exportações sustentáveis na Amazônia. A combinação de biodiversidade, vocação produtiva e estratégias bem estruturadas pode permitir que o estado não apenas amplie seus resultados comerciais, mas também transforme sua economia, fortalecendo sua base rural e urbana. Esse movimento também abre perspectivas para novas cadeias produtivas, como o café robusta amazônico e o cacau, setores que vêm sendo estimulados com apoio da Apex e apresentam potencial de crescimento no estado. O desafio, agora, é manter o ritmo e consolidar um ecossistema exportador duradouro, com base no que já está dando certo.
Claro, tudo isso depende de política pública articulada, infraestrutura, suporte técnico e continuidade. O crescimento das exportações, por exemplo, pode ser interrompido por gargalos logísticos, instabilidade nos programas de incentivo ou mudanças no cenário internacional. Ao mesmo tempo, revela-se que, com o apoio certo e foco em cadeias sustentáveis, os estados da Amazônia podem ocupar um lugar relevante no comércio global. O desafio agora é transformar essa janela de oportunidade em política de Estado e não apenas de gestão.
Os dados mostram avanços consistentes, mas também impõem uma reflexão. O Acre está, talvez pela primeira vez em sua história recente, diante de uma chance concreta de transformar sua inserção econômica no país e no mundo. O salto nas exportações, a mobilização de cadeias produtivas sustentáveis e os aportes estruturais são sinais claros de que há um modelo em construção. Mas como toda transformação real, ela depende de continuidade, visão estratégica e políticas públicas que sobrevivam ao calendário eleitoral. A pergunta que nos resta é: será que o Acre conseguirá consolidar esse ciclo como um projeto de longo prazo ou ficará refém de mais uma boa intenção isolada no tempo?
A Prefeitura de Rio Branco iniciou, nesta segunda-feira (16), a entrega de kits com caixas d’água de 1.000 litros e boias de alta vazão para famílias de baixa renda da capital. A ação faz parte do projeto “Água Para Todos”, desenvolvido pelo Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco (Saerb) e viabilizado por meio de recursos do edital da Vara de Execução das Penas e Medidas Alternativas (VEPMA) da Comarca de Rio Branco.
O projeto tem como objetivo garantir acesso à água potável e melhorar as condições de armazenamento em residências que não possuíam reservatórios adequados. Os critérios para seleção das famílias incluem cadastro no Programa Bolsa Família (CadÚnico) e a inexistência de reservatório nas residências.
De acordo com o diretor-presidente do Saerb, Enoque Pereira, o projeto busca assegurar qualidade de vida às famílias atendidas. “Nosso compromisso é garantir que nenhuma família fique sem acesso à água potável. Com o projeto ‘Água Para Todos’, conseguimos levar dignidade, saúde e qualidade de vida para centenas de moradores que viviam sem um reservatório adequado”, afirmou.
A entrega dos kits contempla mais de 200 famílias em diversos bairros da capital. Além da distribuição, a instalação das caixas e das boias é feita diretamente na rede do Saerb, garantindo que os moradores passem a ter uma reserva de água eficiente.
Moradores beneficiados relataram as dificuldades enfrentadas antes da instalação dos equipamentos. Maria Gerci Perez Kaxinawá, do bairro Ayrton Senna, explicou que armazenava água em uma geladeira inutilizada, o que não supria as necessidades da casa. “Agora vou poder armazenar mais água e por mais tempo”, disse.
Dayane Bessa da Silva, também moradora da região, destacou a importância do reservatório. “Só com balde não dava para tomar banho, arrumar a casa e fazer comida. Agora, com a caixa, vai ser difícil ficar sem água”, afirmou.
Odenilson Campos, outro beneficiado, disse que esta é a primeira vez que possui uma caixa d’água em casa. “A minha ligação era direta e não tinha como economizar água e nem reservar. Fico muito feliz e só tenho a agradecer à prefeitura”, declarou.
As entregas seguem até o fim de junho ou até que todas as unidades previstas sejam distribuídas.