O Superior Tribunal de Justiça iniciou nesta quarta-feira, 17 de dezembro, o julgamento da ação penal que apura a atuação do governador do Acre, Gladson Cameli, no âmbito da Operação Ptolomeu, com a apresentação do voto da relatora, ministra Nancy Andrighi, que se manifestou pela condenação do chefe do Executivo estadual, mas teve a análise interrompida por pedido de vista, o que adiou a conclusão do processo. A manifestação da relatora ocorreu em Brasília e foi o primeiro voto apresentado no colegiado, em um julgamento que trata de acusações de organização criminosa, corrupção ativa e passiva, peculato, lavagem de dinheiro e fraude à licitação.
No voto, a ministra entendeu que o governador teria liderado um esquema de desvio de recursos públicos a partir de contratos firmados pela Secretaria de Infraestrutura do Acre, envolvendo adesão a ata de registro de preços e a contratação da empresa Murano, apontada como instrumento para superfaturamento de serviços e repasses indevidos. Segundo a relatora, parte expressiva dos valores pagos não correspondia ao objeto contratado, o que, em sua avaliação, caracterizaria desvirtuamento das regras de economicidade e legalidade administrativa.
A ministra também votou pela aplicação de pena de 25 anos e cinco meses de prisão e pela perda imediata do cargo, destacando elementos como planilhas de pagamento, movimentações financeiras e vínculos societários entre empresas envolvidas e familiares do governador. O julgamento, no entanto, não foi concluído em razão do pedido de vista apresentado pelo ministro João Otávio Noronha, o que suspendeu a sessão antes da manifestação da maioria dos integrantes da Corte Especial do STJ.
Após a suspensão, o governador Gladson Cameli divulgou nota oficial afirmando que o julgamento permanece inconclusivo, uma vez que apenas a relatora apresentou seu voto. Segundo o comunicado, no momento da interrupção ainda faltava a exposição do voto da maioria dos ministros, o que, na avaliação do governo estadual, impede qualquer conclusão definitiva sobre o resultado. A nota também ressalta que, mesmo em caso de eventual decisão desfavorável, ainda caberiam recursos, sendo que qualquer efeito jurídico só ocorreria após o trânsito em julgado da ação.
Na manifestação, o governador declarou que segue exercendo normalmente o mandato, afirmando confiar na Justiça e nas instituições, e destacou que continuará desempenhando suas funções à frente do governo do Acre enquanto o processo estiver em andamento. A defesa do governador já havia sustentado, ao longo da tramitação, a inexistência de provas suficientes e apontado supostas irregularidades no acesso aos autos e na produção de elementos investigatórios.
O processo teve origem em denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República, aceita pelo STJ em maio de 2024, que aponta a existência de um esquema estruturado de corrupção envolvendo contratos públicos na área de infraestrutura. Desde então, o governador responde à ação penal sob medidas cautelares, como restrições de contato com outros investigados e bloqueio de bens, enquanto nega as acusações.
Julgamento no STF sobre habeas corpus
Em paralelo à ação penal no STJ, o Supremo Tribunal Federal analisa um habeas corpus apresentado pela defesa de Gladson Cameli, que questiona a legalidade de atos investigatórios realizados antes da remessa do caso ao STJ. O julgamento ocorre na Segunda Turma do STF e, até o momento, registra divergência aberta pelo ministro André Mendonça, acompanhado por Dias Toffoli e Nunes Marques, no sentido de reconhecer irregularidades na condução das investigações. O relator, ministro Edson Fachin, votou pela manutenção dos atos investigatórios, e ainda resta o voto do ministro Gilmar Mendes, que definirá o resultado final do habeas corpus.