Mais de 80% dos estudantes brasileiros disseram estar mais atentos às aulas após a proibição do uso de celulares em sala, medida em vigor desde janeiro de 2025. O levantamento, realizado pela Frente Parlamentar Mista da Educação em parceria com o Equidade.info, iniciativa do Lemann Center da Stanford Graduate School of Education, ouviu 2.840 alunos, 348 professores e 201 gestores em instituições públicas e privadas de todas as regiões do país.
O efeito foi mais perceptível nos anos iniciais do Ensino Fundamental I, em que 88% dos estudantes relataram melhora na concentração. No Ensino Médio, o índice foi de 70%. Além disso, gestores e professores notaram redução de bullying virtual nas escolas, com 77% dos primeiros e 65% dos segundos apontando diminuição dos casos. Entre os alunos, apenas 41% confirmaram a percepção, o que sugere que parte dos conflitos não chega ao conhecimento da gestão escolar.
Apesar do impacto positivo no foco, 44% dos estudantes disseram sentir mais tédio nos intervalos e recreios, índice que sobe para 47% no Fundamental I e 46% no turno matutino. Entre os professores, 49% relataram aumento da ansiedade entre alunos com a ausência dos aparelhos. Regionalmente, o Nordeste apresentou os melhores resultados de engajamento, com 87% dos estudantes relatando avanços, enquanto Centro-Oeste e Sudeste registraram 82%.
O presidente da Frente Parlamentar Mista da Educação, deputado Rafael Brito, afirmou que a lei cria um ambiente mais adequado para o aprendizado. “Proteger nossos estudantes do uso do celular em sala de aula é garantir um ambiente mais saudável e focado no aprendizado. O resultado que vemos hoje é a confirmação de que a educação precisa ser prioridade, com políticas que cuidem do presente e preparem o futuro dos nossos jovens”, disse.
A presidente do Equidade.info, Claudia Costin, destacou que ainda existem desafios. “A pesquisa mostra avanços positivos no foco e na atenção dos alunos, mas questões como tédio, ansiedade e bullying, ainda muito presentes entre os estudantes, indicam que ainda há desafios a serem enfrentados”, avaliou. Para ela, as escolas precisam adotar alternativas de interação e estratégias específicas por faixa etária.
O coordenador do Equidade.info, Guilherme Lichand, também docente da Stanford Graduate School of Education, reforçou que o impacto vai além da restrição. “Mais do que limitar o uso do telefone celular, a lei abre espaço para repensarmos como a escola se conecta com os alunos. O próximo passo é garantir que a aplicação da lei seja efetiva em todas as etapas, respeitando as particularidades de cada contexto escolar”, disse.
A legislação que restringe o uso de celulares em sala foi aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada em janeiro de 2025. A pesquisa foi realizada entre maio e julho do mesmo ano, e seus resultados indicam que a medida trouxe ganhos ao aprendizado, mas precisa ser acompanhada de políticas complementares que promovam engajamento e bem-estar dos estudantes.